Egito elogia ação da polícia e preocupa ativistas

Crise no Egito
Crise no Egito

Enquanto os corpos de centenas de pessoas mortas pelas forças de segurança eram ignorados pela mídia egípcia em uma mesquita do Cairo, quatro dos policiais que morreram na violência foram tratados como heróis em uma transmissão do funeral ao vivo pela televisão estatal.

"Eles morreram guardando esta nação", disse o comentarista da TV, com os quatro caixões envoltos em bandeiras egípcias sendo colocados em caminhões de bombeiros para um cortejo acompanhado por uma banda.

O governo apoiado pelo Exército tem louvado a força policial que esmagou os protestos de apoiadores do presidente deposto Mohamed Mursi esta semana, matando pelo menos 638 pessoas, em um dia de derramamento de sangue que superou qualquer coisa vista no regime de 30 anos do autocrata Hosni Mubarak, derrubado em 2011.

A violência, junto com a volta do Exército ao coração do governo, preocupa os egípcios que temem que um novo aparato de segurança afirmativo tente tirar ainda mais de curso uma já abalada transição democrática.

"É muito preocupante", disse Ahmed Maher, fundador do Movimento 6 de Abril, que ajudou a inflamar a revolta de 2011 contra Mubarak, alimentada pela raiva contra a brutalidade policial. "Eles estão tentando apresentar a polícia como anjos."

Desde que Mursi foi derrubado em 3 de julho, a polícia mostrou uma confiança não vista desde a queda de Mubarak.

Balanço

O governo do Egito contabiliza pelo menos 32 mortes durante confrontos pelo país nesta sexta-feira (16). Pela conta oficial, 17 vítimas são manifestantes favoráveis ao presidente deposto Mohamed Mursi e 15 são policiais. O governo não diz onde aconteceram as mortes. 

A sexta-feira (16) marca a convocação para o "dia de fúria" no Egito, dois dias após pelo menos 638 pessoas serem mortas durante confrontos com as forças de segurança egípcias. Há pelo menos 20 manifestações convocadas para hoje por meio das redes sociais. O protesto é contra a matança de manifestantes, o toque de recolher decretado pelos militares e, entre os grupos pró-Mursi, pela volta do presidente deposto.

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Segundo a agência estatal de notícias, um policial foi morto a tiros em uma área do Cairo, capital do país. Outros 14 policiais morreram em confrontos em diferentes áreas do Egito, segundo a agência "Al Arabiya". Além deles, a agência "Reuters" cita quatro manifestantes mortos na região do Canal de Suez, e oito na cidade de Damietta, região do rio Nilo. O governo tratou os policiais mortos como heróis; já os civis mortos no Cairo foram levados para uma mesquita.

Os partidários do presidente islamita destituído Mohamed Mursi iniciaram os protestos nesta sexta-feira (16), principalmente no Cairo, onde os tanques do exército fecharam os principais acessos à cidade e onde a polícia e os soldados estão autorizados a atirar com balas de verdade. Os militares também usam gás lacrimogêneo para disperar os protestos.

No microblog Twitter, internautas no Cairo relatam barulhos de tiros de armas automáticas na ponte Ramsés, região central do Cairo, um dos pontos de concentração dos manifestantes. Em seu perfil no Twitter, o editor da "BBC" para o Oriente Médio, Jeremy Bowen, relatou que buscou refúgio devido a "balas voando em prédios acima da equipe da BBC e dos manifestantes".

A ponte 15 de maio foi fechada pelos egípcios. Entre os manifestantes, porém, há grupos que não apóiam Mursi, mas foram protestar contra a violência da repressão da junta militar que governa o país. No início do protesto desta sexta-feira (16), manifestantes com pedras foram convencidos a não usar de violência contra as forças de segurança e a protestar pacificamente.

A matança do Exército foi alvo de críticas da comunidade internacional e levou a uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, que pediu o fim da violência no país. Os EUA cancelaram um exercício militar conjunto entre os dois países, que aconteceria em setembro. A Alemanha cancelou parte de um pacote milionário que enviaria ao Egito.

Na cidade de Tanta, norte do país, as forças de segurança usaram gás lacrimogêneo e balas de borracha para evitar que os partidários de Mursi se aproximassem de um prédio do governo.

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