Baixo Clero #32: Letalidade da covid-19 vai ser calibrada pela desigualdade
Do UOL, em São Paulo
17/04/2020 04h00
Após semanas de tensão com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Luiz Henrique Mandetta foi demitido do Ministério da Saúde para dar lugar ao oncologista Nelson Teich, que assume a pasta em meio à pandemia do novo coronavírus e com o Sistema Único de Saúde chegando ao limite de ocupação em localidades do país, como Manaus e Fortaleza.
No podcast Baixo Clero #32, os jornalistas Carla Bigatto, Diogo Schelp e Maria Carolina Trevisan analisam a troca no governo, o legado do trabalho feito pela equipe de Mandetta na pasta e os desafios que o país tem na luta contra a covid-19.
Trevisan cita a defesa do SUS, que foi citada pelo agora ex-ministro em sua coletiva na qual se despediu do cargo e vê um panorama preocupante que a desigualdade racial e social deverá causar durante a pandemia.
"A pandemia vai escancarar para a gente o problema da desigualdade no Brasil. Quando o SUS tiver chegado no limite, que já chegou em Manaus e em Fortaleza, por exemplo, e está chegando no limite no Brasil, a gente vai ver morrer muita gente com o mesmo perfil. A letalidade do vírus vai avançar sobre a população que sempre foi a mais vulnerável no Brasil, que é a população pobre e negra", afirma a jornalista (disponível no vídeo acima a partir de 9:12).
Além da desigualdade na sociedade, a jornalista cita também a questão do sistema prisional, que teve a definição de prisão domiciliar para o ex-médico Roger Abdelmassih, condenado por abusar sexualmente de pacientes, enquanto pessoas que cometeram crimes sem violência seguem presas e com o risco de contaminação para a doença que já tem quase 200 casos suspeitos, com 47 deles já confirmados entre presidiários.
"Roger Abdelmassih tem centenas de anos de prisão que ele foi condenado, era um crime violento contra mulheres, e a gente vê também a situação de uma outra senhora, de 75 anos, que foi presa por tráfico de drogas, que é pobre. Ela não teve o mesmo benefício. O Brasil vai continuar reproduzindo a desigualdade também na situação de cadeia, de prisão?", questiona Trevisan (disponível a partir de 11:41).
"Os níveis de letalidade da covid vão ser calibrados pela desigualdade racial e social que tem no Brasil. E aí o sistema prisional é o lugar mais sensível para a gente observar isso", completa.
O episódio também analisa a forma como o novo ministro Nelson Teich poderá lidar com a pandemia sem que tenha atritos semelhantes aos que teve Mandetta com o presidente Jair Bolsonaro, além do novo remédio a ser estudado em pacientes, de acordo com Marcos Pontes, ministro da Ciência e Tecnologia, no combate à covid-19.
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