Baixo Clero #86: Mais importante que circo de Carlos Bolsonaro será quebra de sigilo
Do UOL, em São Paulo
15/05/2021 04h00
Na avaliação do colunista do UOL Diogo Schelp, uma eventual quebra de sigilo do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) será mais importante do que um depoimento dele à CPI da Covid, instaurada para apurar possíveis crimes e omissões do governo federal na pandemia.
"Talvez mais importante do que um depoimento do Carlos, que vai ser de circo, vai ser uma quebra de sigilo para entender qual é o papel dele, de fato, nesse governo", afirmou o colunista durante o episódio desta semana do Baixo Clero, o podcast de política do UOL (veja a partir de 16:45).
Schelp lembrou que, apesar de ser vereador no Rio, já houve diversos momentos em que ficou "evidente" que o filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) exerce papel "fundamental" no governo —como a participação dele em uma reunião, no Palácio do Planalto, com representantes da Pfizer para tratar da compra da vacina contra a covid-19.
A presença de Carlos na reunião foi confirmada por Carlos Murillo, gerente-geral da Pfizer na América Latina, em depoimento à CPI.
"Em uma democracia, você tem que ter transparência sobre quem entra em contato com agentes públicos para defender interesses. Ministros têm agendas públicas para que pessoas possam cobrar depois do governo as decisões que foram feitas", disse Schelp (veja a partir de 14:00).
Para ele, o fato de possivelmente Carlos ter influência nas decisões tomadas pelo governo, apesar de não ter um cargo efetivo na gestão —e, por isso, não ter uma agenda que possa ser conferida pela população—, é "um problema enorme".
"Os depoimentos servem para ir colocando um tijolinho de cada vez nessa investigação que está sendo feita e servem de motivação para pedir a quebra de sigilos, o que vai dar materialidade aos supostos crimes que estão sendo investigados", declarou Schelp (veja a partir de 20:33).
Colunista do UOL, Maria Carolina Trevisan concordou com a afirmação de que um depoimento de Carlos à CPI pode ser um "circo" e lembrou ainda que a comissão, "por si só, já é um palco". "As pessoas estão expostas, e os senadores têm tido posturas bastante duras", declarou (veja a partir de 17:00).
Para Trevisan, o saldo de mais esta semana de CPI é positivo. Entre os depoentes, foram ouvidos o ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten e Carlos Murillo, da Pfizer.
"Acho que terminamos a semana com saldo positivo da CPI, no sentido de que não dá para fechar os olhos e fingir ou manipular narrativas como a gente vem fazendo até agora", avaliou (veja a partir de 19:15).
Frigideira
A cada semana, os colunistas do UOL Maria Carolina Trevisan e Diogo Schelp escolhem o personagem da política nacional que merece ir para a frigideira. Neste programa, os eleitos foram o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).
Schelp escolheu o nome de Flávio Bolsonaro pela cena protagonizada por ele na CPI: o senador, que nem sequer é membro da comissão, foi até a sessão no dia em que os parlamentares ouviam o depoimento de Wajngarten para xingar o relator Renan Calheiros (MDB-AL) de vagabundo.
"[Flávio] Estava lá ofendendo o Calheiros, aquela história do roto acusando o esfarrapado. Mas o fato é que ele é que foi lá. É quase uma atitude de gangue, uma gangue familiar. A gente tem essa história do filho que não tem cargo no governo atuando nos bastidores, segundo relatos da CPI, e outro que é senador fazendo um papel mais sujo, que os outros senadores governistas da CPI não aceitam fazer ou não fazem", disse Schelp (veja a partir de 40:21).
Na avaliação do colunista, até senadores governistas têm ficado "constrangidos" em defender o governo na comissão. "Aí precisa ir o filho do presidente lá, botar o dedo na cara do colega, chamar de vagabundo. Foi uma cena lamentável, e a CPI está só começando." (veja a partir de 41:22)
Já Trevisan declarou que optou por botar Lira na frigideira pelas declarações que o presidente da Câmara fez, ao lado de Bolsonaro, em defesa do voto impresso.
"É algo que promove desconfiança, pode fragilizar a democracia, pode abrir portas para fraudes —inclusive para o Bolsonaro questionar resultados nas eleições— e, além disso, custa muito. A cada dois anos tem custo de bilhões [de reais]. Não vejo sentido ou por que ele estar encampando isso nesse momento", disse ela (veja a partir de 42:28).
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