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Polícia indicia por extorsão pai de adolescentes que acusam padre de abuso sexual em Niterói (RJ)

O padre foi indiciado por abuso sexual à menina de sete anos - Reprodução
O padre foi indiciado por abuso sexual à menina de sete anos Imagem: Reprodução

Do UOL, no Rio

27/02/2013 13h24

A Polícia Civil do Rio de Janeiro indiciou por extorsão, nesta quarta-feira (27), o pai de duas meninas que teriam sofrido, segundo ele, abuso sexual do padre Emilson Soares Corrêa, 56, em Niterói, na região metropolitana do Estado. Ubiratam Homsi é acusado de ter chantageado o pároco ao pedir dinheiro para que não fosse divulgado o vídeo no qual Corrêa é flagrado em relações sexuais com duas jovens. O material foi gravado por uma das filhas do indiciado, que aparece nas imagens juntamente com uma amiga de 15 anos, a pedido do próprio pai.

De acordo com a titular da Deam (Delegacia Especial de Atendimento à Mulher) de Niterói, Marta Dominguez, Homsi entregou o vídeo à polícia na noite desta terça-feira (26). Mais cedo, as duas vítimas foram ouvidas novamente. A assessoria da instituição não divulgou os detalhes dos novos depoimentos, tampouco confirmou se o pai das meninas confessou ou não ter chantageado o pároco.

Já Corrêa foi indiciado por estupro de vulnerável. O padre foi acusado de acariciar as partes íntimas de uma garota de sete anos, em 2010. Segundo relatos das testemunhas, o sacerdote seria padrinho de batismo (ritual que marca a iniciação cristã na Igreja Católica) da irmã de 19 anos da vítima, que também relatou à polícia ter mantido relações sexuais sem sua permissão com o religioso.

Ao UOL, o advogado do padre, Roberto Vitagliano, afirmou que o seu cliente caiu em uma armadilha "malévola". "Você pode condenar o padre religiosamente, pode condenar ele eticamente, mas sobre o ponto de vista jurídico ele não praticou crime algum. Ele sucumbiu. Em 27 anos, ele nunca fez nada de errado. Aconteceu, e ele assume isso", afirmou.

Citando uma parte da Bíblia, o advogado pede que as pessoas pensem antes de referirem ao religioso. "Quem não tiver pecado que atire a primeira pedra", disse.

Uma irmã da vítima, de 19 anos, também acusa o padre de ter abusado sexualmente dela desde que foi batizada, aos 13 anos, quando ele atuava em outra paróquia, em São Gonçalo, na mesma região. Em depoimento à polícia, ela chegou a afirmar que recebeu do religioso uma moto, um carro e ainda foi ajudada na reforma de uma casa.

O pai das meninas divulgou um vídeo no qual o padre aparece fazendo sexo e em posições eróticas com meninas, e no fundo, um quadro da "Santa Ceia" pode ser visto. O advogado acredita que o padre caiu em uma armadilha.

"Ele foi seduzido, e há tentativas de extorsão, há testemunhas sobre isso. O pai da garota havia pedido dinheiro e casas a ele. O padre é uma pessoa muito simples, ele foi envolvido por essas moças. Ele manteve um relacionamento com ela de maio para cá, ele conhecia a moça, conhecia a família, tem uma fotografia dele batizando ela. A família agora junta isso tudo como se fosse uma sentença malévola, mas não é isso", disse Vitagliano.

Segundo o advogado, o padre era amigo da família. A garota de 19 anos teria começado a ir à casa paroquial para se encontrar com ele. Aí ela resolveu levar outra menina, de 15 anos. "Forçaram a barra, ele foi seduzido realmente. Após esse encontro, o pai das meninas procurou conseguir alguma coisa do padre. (...) Ele viu que não iria dar em nada, aí ele inventou uma história, de que há três anos o padre teria bulinado outra garota [a de sete anos]", protesta o advogado.

Vitagliano afirmou ainda que o pai levava a criança de sete anos para as reuniões em que o assunto era tratado, e pressionava a menina para confirmar o estupro. "Eu presenciei, ele obriga a criança a participar de tudo e aponta para criança violentamente, nervosa, agressivamente e diz: ‘Ele não fez isso com você, minha filha? Ele fez ou não fez?’ A menina balança a cabeça."

Um comunicado da Arquidiocese de Niterói, assinado pelo advogado do setor jurídico, Pedro Paulo Dias, afirma que o arcebispo dom José Francisco, ao receber pessoalmente a família envolvida e ouvir as acusações ao referido sacerdote, suspendeu o mesmo de toda e qualquer atividade sacerdotal.

A nota afirma ainda que a igreja tomou a iniciativa de encaminhá-lo ao Ministério Público para que os fatos sejam apurados judicialmente. O padre foi ordenado em  15 de novembro de 1985, na Arquidiocese de Niterói, e foi afastado temporariamente em 23 de novembro de 2012.