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Minha vontade é entrar lá e escavar com a mão, diz irmão de desaparecida em desabamento

Uilian Almeida, irmão de desaparecida em desabamento de prédio em São Paulo - Janaina Garcia/UOL
Uilian Almeida, irmão de desaparecida em desabamento de prédio em São Paulo Imagem: Janaina Garcia/UOL

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

08/05/2018 15h48Atualizada em 08/05/2018 19h27

“A gente não aguenta ficar assim o tempo todo. Minha vontade é entrar lá e escavar com a mão para acabar logo com essa espera.”

A angústia foi relatada nesta terça-feira (8) pelo lavrador Uillian Almeida, 31, diante do cenário de buscas por vítimas do desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paissandu, região central de São Paulo. Três das sete pessoas desaparecidas desde o acidente, na madrugada do último dia 1º, são parentes diretos de Almeida — a irmã, Selma Almeida da Silva, 41, e os sobrinhos, os gêmeos Wendel e Werner, 10, filhos dela.

Natural de Riacho de Santana, no interior da Bahia, o lavrador contou que recebeu apoio da prefeitura local para o transporte até São Paulo. Ele chegou hoje à cidade e passou pelo local das buscas antes mesmo de ir até o IML (Instituto Médico Legal) central. É para lá que fragmentos de ossos e tecidos humanos foram encaminhados para análise após serem encontrados hoje de manhã nos escombros. Segundo o Corpo de Bombeiros, os fragmentos podem ser de adulto e crianças — já que, próximo, havia um anel e brinquedos.

A identificação, porém, só poderá ser feita a partir da comparação com material de outro parente.

Uilian e a mãe saíram da Bahia ontem de manhã e viajaram 26 horas de ônibus até São Paulo. A mãe, no entanto, não foi até o local dos escombros.

“Minha irmã é uma mulher com muitos planos. O principal deles era a casa própria; ela me disse recentemente que estava quase para conseguir. Já meus sobrinhos são duas crianças brincalhonas e que planejam muita coisa boa: se estivessem aqui agora, com certeza já estavam me derrubando no chão, de tanto que gostavam de brincar comigo", disse Almeida.

Segundo o lavrador, a relação de Selma com a família era “muito boa, somos muito unidos". Em uma família de sete irmãos, ela foi a única a deixar a família, na Bahia, há 27 anos, para buscar melhores condições de vida em São Paulo.  Na capital paulista, nos últimos tempos, atuava como catadora de material reciclável, principalmente papelão.

“Eu dizia para ela: ‘É melhor voltar para a Bahia. Para que ficar aí catando papelão?’ Mas ela dizia o que pensava, era muito sincera, tinha as próprias opiniões e achava que assim estava bom — só que, se tivesse voltado, ela e meus sobrinhos estariam aqui hoje”, lamentou Almeida.

O rapaz foi levado ao IML por um primo para auxiliar na identificação dos restos mortais encaminhados mais cedo para análise. Além dos fragmentos de ossos, foi encontrado junto deles também um anel largo e dourado que pertencia a um adulto.