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Após incêndio, Prefeitura de SP quer transferir mais de 240 pessoas para abrigos

Janaina Garcia, Nathan Lopes, Marcelo Freire e Fernando Couri

Do UOL, em São Paulo

01/05/2018 11h42Atualizada em 01/05/2018 14h34

Ao menos 248 pessoas serão encaminhadas pela Prefeitura de São Paulo para abrigos municipais após o desabamento de um prédio na região central da capital paulista na madrugada desta terça-feira (1º). Elas integram 92 famílias, que estão sendo alimentadas e acolhidas no largo do Paissandu, local que também reúne doações.

O prédio que desabou após um incêndio tinha, em março, cerca de 150 famílias, com 400 pessoas. Desse total, 25% eram famílias estrangeiras. No entanto, ainda não se sabe quantas pessoas estavam dentro do edifício no momento do incêndio, que começou por volta da 1h30. Uma hora após o início do fogo, o edifício desabou.

O Corpo de Bombeiros segue com o resgate de sobreviventes e buscas por corpos em um minucioso trabalho manual de retirada de escombros e com ajuda de cães farejadores. Há ao menos um homem desaparecido. Familiares relataram ainda a falta de outras três pessoas --uma mulher e duas crianças. 

antes e depois do prédio do largo do paissandu - Arte/UOL - Arte/UOL
Antes e depois do prédio de 24 andares que desabou no centro de SP após pegar fogo
Imagem: Arte/UOL

Desabrigados

O prefeito Bruno Covas (PSDB) disse que a orientação é que as famílias desabrigadas sejam mantidas juntas nos mesmos locais de acolhimento. Alguns moradores, no entanto, relutam em ir para abrigos municipais, em geral destinados a moradores de rua. 

“Não vamos para albergue; nunca dão emprego para quem mora em albergue”, dizia um homem bastante alterado a dois servidores municipais nesta manhã.

“Mandam a gente agora para abrigo, mas depois nos mandam para onde? Eles aparecem agora, mas depois de três dias esquecem da gente e passam uma borracha nisso. A gente não é um lixo, todo mundo lá na ocupação trabalha”, disse Gabriel Archângelo, 24, um dos moradores da ocupação.

O padre Júlio Lancelotti afirma que a Igreja Católica ofereceu um espaço no centro para abrigar as famílias por dez dias. "A Arquidiocese de São Paulo procurou a prefeitura e ofereceu a quadra do colégio do Mosteiro São Bento até ser encontrada uma solução."

Covas informou que será oferecido, com recursos do governo estadual, um aluguel social. As famílias receberão R$ 1.200 no primeiro mês e R$ 400 a partir do segundo. O auxílio abrangerá um período de 12 meses. "O atendimento habitacional definitivo será definido futuramente com a administração municipal", diz o governo do Estado. 

Bombeiros trabalham no resgate de sobreviventes e corpos após desabamento de prédio - Marcelo Justo/UOL - Marcelo Justo/UOL
Bombeiros trabalham no resgate de sobreviventes e corpos após desabamento de prédio
Imagem: Marcelo Justo/UOL

Em nota, a prefeitura lamentou o ocorrido e disse que a Secretaria Municipal de Habitação atuava na ocupação do edifício por meio do grupo de mediação de conflitos. Ela lembra que, estava programada a reintegração de posse do prédio, em ação movida pela Secretaria de Patrimônio da União. “Uma vez desocupado, o imóvel seria cedido à Prefeitura”, diz o comunicado.

Antiga sede da Polícia Federal na capital paulista, o edifício de 24 andares era ocupado irregularmente por uma ocupação. No centro da capital paulista, ao menos 70 prédios estariam ocupados por cerca de 4.000 famílias. Na cidade toda, 206 imóveis estariam com sem-teto, somando 46 mil famílias.

O presidente Michel Temer (MDB) visitou o local por volta das 10h e prometeu ajuda do governo às famílias vítimas do incêndio

Prédio sem condições de moradia, diz governador

O governador do Estado, Márcio França (PSB), esteve no local por volta das 5h e disse que, após a contenção do fogo, cães farejadores serão empregados na busca por sobreviventes em meio aos destroços. "É uma tragédia anunciada. Tem muita estrutura metálica, muito lixo que é jogado no fosso dos elevadores", disse França. "É um prédio que não tem a mínima condição de moraria. A União não podia ter deixado ocorrer essa ocupação."

Testemunhas disseram ter ouvido um estrondo muito alto antes do desabamento. "Parecia uma bomba. Quando olhei, já estava no chão", diz a cozinheira e microempresária peruana Eva Vilma Sobero Pio, 57, que mora no prédio ao lado e estava acordada no momento. "Só ouvi vidros quebrando e muitos gritos, muita gente gritando, crianças, um horror", conta.

Por volta das 4h15, homens da Defesa Civil começaram a reunir os moradores para um cadastramento prévio das famílias, para identificar a melhor forma de oferecer ajuda e abrigo. Pouco antes, um grupo de moradores cogitou passar a noite em outro prédio ocupado, no bairro de Santa Cecília.

Segundo Cesar Hernandes, coordenador do setor de emergências da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social da prefeitura, serão fornecidos cobertores e colchões para os moradores dos dois prédios. Aqueles que não tiverem para onde ir devem ser encaminhados para centros de acolhida da região. 

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