Com abstenção de 51%, 2º turno de eleição presidencial encontra egípcios desmobilizados
O estrangeiro que chega ao Cairo esperando os revolucionários da Tahrir encontra uma praça igualmente cheia, mas desmobilizada. Gente andando de um lado para o outro, meio sem saber o que quer. Os egípcios derrubaram Hosni Mubarak, que estava há 30 anos no poder, mas e agora? Encontram-se esperando o resultado do segundo turno das eleições com, de um lado, o ex-primeiro ministro do presidente deposto, Ahmed Shafiq; de outro, um islamista, Mohamed Morsi, do partido da Irmandade Muçulmana. Tudo isso sob uma lei marcial decretada há três dias, com o primeiro parlamento eleito democraticamente já dissolvido e com a Junta Militar (ou Conselho Supremo das Forças Armadas), conhecida no Egito como SCAF (Supreme Council of Armed Forces) com poderes expandidos em emendas constitucionais aprovadas em pleno domingo de eleições.
Os dois dias da eleição registraram altíssimo nível de abstenções. Ao fim do primeiro dia, apenas 15% dos cidadãos votantes tinha comparecido às urnas.No final do segundo, foram contabilizados 24.965.772 milhões de votantes, o que representa apenas 49% do eleitorado.
O último dia do segundo turno das primeiras eleições presidenciais egípcias transcorreu calmamente. Ao longo do domingo (17), os postos eleitorais do Cairo estavam vazios e tranquilos. Parece, no entanto, que todos deixaram para votar na última hora. Perto das 19h, horário em que a votação deveria ser encerrada, os postos começaram a ficar lotados e o horário do pleito foi estendido até as 22h.
Entre aqueles que estavam na Tahrir e ajudaram a derrubar Mubarak, a posição nem sempre era a mesma. Alguns foram votar, assinalaram ambos os candidatos e escreveram na ficha de votação “Down with the SCAF” ou “Abaixo a Junta Militar”. Foi o caso de Yousra Yasser, 21, que inclusive se voluntariou a ser “obervadora” dessas eleições. Ela explica que achou importante sair de casa e ir marcar sua posição nas urnas, apesar de nenhum dos dois candidatos representá-la. Ela comentou ainda que as eleições egípcias são “uma grande peça de teatro”. Afirma que Shafiq, o candidato do partido do presidente deposto, será eleito de uma forma ou de outra, que as cartas já estão dadas, mas que algum teatro precisa ser feito para acalmar os ânimos. “Afinal, era democracia que pedíamos, não?”, ironiza.
Parte dos revolucionários da Tahrir não foi votar. Salem, 27, explica que não queria participar daquele processo fajuto. Ele defendeu que quem não concordasse com as eleições não anulasse, nem votasse em branco. A ideia é simplesmente abster-se para deslegitimar o processo.
Uma professora de árabe de 24 anos, Heba Ibrahim, afirmou que no primeiro turno votou em Hamden Sabahi, o “candidato da revolução”, mas que compareceu às urnas nesse domingo para “votar no menos ruim, ou no melhor entre os piores”, já que o futuro do Egito está em jogo e, pela primeira vez, lhe perguntam o que ela quer para o seu país.
Já Hisham Mustafa, 42, votou no candidato do presidente deposto. Para ele, os revolucionários da Praça Tahrir são radicais demais e querem apenas afastar a sociedade do Islã. Segundo ele, só Shafiq conseguiria restaurar a ordem. As salas de votação eram separadas por sexo: homens em uma, mulheres em outra.
Enquanto a eleição acontecia, a Junta Militar aprovava emendas constitucionais assumindo, formalmente, o poder legislativo no país. Depois das 22h, porta-vozes de ambos os candidatos já anunciavam vitória. Porém, o resultado oficial deve sair apenas na quinta-feira (21).
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