'Faixa de gaza', vigília, cordão humano: quais as estratégias dos grupos pró e contra Lula
As cerca de 49 horas passadas para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se entregasse à PF (Polícia Federal), após ter sua prisão decretada pelo juiz federal Sergio Moro, na última quinta (5), foram marcadas por protestos a favor e contra o petista em todo o Brasil.
Em São Paulo, a militância pró-Lula se concentrou no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, na cidade de São Bernardo, entidade emblemática na vida política de Lula e da formação do Partido dos Trabalhadores. Foi lá, também, onde o próprio ex-presidente permaneceu após receber a notícia do decreto de sua prisão e teve o momento mais tenso de sua vigília.
Na sexta (6), dia em que Lula deveria ter se entregado à PF, foi marcado um grande ato no local. Militantes favoráveis ao PT e de movimentos sociais como a Frente Povo sem Medo, ligada ao MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), foram até lá. A expectativa era que Lula discursasse aos presentes --o que aconteceu, no entanto, apenas no dia seguinte.
O sábado (7) foi marcado por resistência da militância pró-Lula para que o ex-presidente não se entregasse à PF. Lula deveria deixar o sindicato para se entregar à PF por volta das 16h, após a realização de uma missa em homenagem à ex-primeira-dama Marisa Leticia, que teria feito aniversário no dia.
Já por volta das 15h, os manifestantes começaram a cercar todas as saídas do sindicato para impedir que Lula deixasse o local. Eles alternavam gritos de "não se entrega" e “cercar, cercar, e não deixar prender”, além de bloquearem as ruas mais de uma vez se sentando no chão.
Houve princípio de confusão e alguns manifestantes pularam grades do sindicato. Por volta das 17h, Lula tentou deixar o local em um carro, mas foi impedido pela militância --manifestantes tentaram arrombar um dos portões da garagem, provocando uma confusão generalizada.
Lula decidiu, então, voltar ao sindicato, e o clima permaneceu acirrado. Por volta das 18h, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, subiu em um carro de som colocado em uma esquina próxima ao sindicato junto a outras lideranças de esquerda para conversar com a militância.
“A coisa que eu mais queria era essa resistência, fechar os portões do sindicato e não deixar ele sair”, disse Gleisi, alertando que, no entanto, caso os apoiadores de Lula permanecessem impedindo sua saída, haveria uma “consequência do ponto jurídico indevida” e que a decisão de Lula de se entregar deveria ser respeitada.
Foi logo depois, por volta das 18h45, que o petista conseguiu, enfim, sair do sindicato --enquanto as lideranças ainda discursavam no carro de som. A pé, Lula deixou o sindicato por uma porta lateral para depois entrar em um carro da PF que estava à paisana. Ele foi visto por poucos manifestantes, que tentaram ainda impedir que ele se entregasse à polícia.
De carro, Lula foi até a superintendência da PF em São Paulo, onde encontrou pela primeira vez protestos contrários a ele na cidade. Vestidos em sua maioria com trajes em verde-amarelo, manifestantes levaram apitos e bandeiras do Brasil para protestar contra o ex-presidente. Muitos motoristas que passavam pelo local buzinavam em comemoração à prisão do petista. Um deles estourou um espumante gigante em frente à PF.
Em Curitiba, protestos pró e contra Lula lado a lado
No Paraná, em Curitiba, a espera pelo ex-presidente foi marcada por concentrações de grupos pró e contra o petista em Curitiba tanto na sexta como no sábado. Se no primeiro dia eles escolheram locais distintos para se manifestar, a situação foi diferente no sábado.
Na sexta-feira, data que Moro havia estipulado para que Lula se apresentasse à PF em Curitiba, os manifestantes favoráveis à prisão do petista escolheram a superintendência da instituição para protestar. Já os apoiadores de Lula estiveram concentrados na praça Santos Andrade, no centro curitibano, tradicional palco de manifestações da esquerda na cidade.
Os choques e confrontos começaram no final da manhã de sábado, quando o grupo pró-Lula transferiu sua vigília do diretório do PT em Curitiba para a superintendência, onde havia poucos manifestantes contrários a Lula.
Eles conviveram próximos de forma pacífica até o primeiro comentário do lado anti-Lula, que levou a discussões ríspidas entre os dois lados. No fim, prevaleceu o lado pró-Lula como dominante no local. “Vamos ficar aqui para ser solidário com o companheiro Lula”, disse Nelson Silva de Souza, conhecido como Nelsão, da Força Sindical no Paraná. Na sequência, ônibus começaram a chegar trazendo manifestantes pró-Lula à região da Superintendência da PF.
Em maior quantidade, o grupo pró-Lula começou a rasgar faixas em apoio à Operação Lava Jato que estavam penduradas em imóveis próximos ao prédio da PF. Moradores de casas próximas à superintendência chegaram a ser hostilizados. Uma família com criança chegou a ser acompanhada para poder entrar em sua residência.
O lado anti-Lula só teve mais peso por volta das 15h, quando a Polícia Militar do Paraná chegou com mais integrantes --eram raros até o início da tarde-- e criou uma “faixa de Gaza”, separando os dois grupos. Os apoiadores do petista ficaram próximos à portaria, na região da rua Professora Sandália Monzon, perto da portaria da PF. Já os manifestantes a favor pela prisão de Lula, na região da rua Mariano Gardolinki. A rua Engenheiro Paulo Gabriel Passo Brandão serve como divisão entre os grupos. Segundo o tenente-coronel Naasson Polak, a ação visava garantir a democracia, dando espaço para os dois grupos se manifestarem.
Como os dois lados prometem vigília ao longo da madrugada e também do domingo, a Polícia Militar não tem hora para deixar a região da superintendência. Enquanto, os dois grupos se comportam como torcidas, se cutucando com cânticos e frases.
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