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Bolsonaro nega churrasco e anda de jet ski enquanto país bate 10 mil mortes

Do UOL, em São Paulo

09/05/2020 21h32

Embora a agenda do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não apresentasse compromissos oficiais para o dia, a tarde do mandatário foi movimentada. Após voltar atrás na decisão de organizar um churrasco no Palácio do Alvorada —que ele disse hoje ser "fake"—, Bolsonaro foi visto passeando de jet ski no lago Paranoá.

No mesmo dia, o país ultrapassou os 10 mil mortos pelo novo coronavírus, com total de 155.939 casos confirmados desde o início da pandemia. Representando os outros dois Poderes, o Congresso Nacional e o STF (Supremo Tribunal Federal) decretaram três dias oficiais de luto em respeito às vítimas da covid-19.

Os presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP), em nota conjunta, afirmaram que o Parlamento não estava "indiferente" ao momento de pesar da nação. Já o presidente do STF, ministro Dias Toffoli, também por meio de nota, pregou a união entre os Poderes e pediu ações coordenadas no combate à doença.

Sem manifestações oficiais a respeito do aumento de casos e mortes pela covid-19, Bolsonaro teve o passeio da tarde registrado pelo portal "Metrópoles". Procurada pelo UOL, a assessoria de imprensa da Presidência da República afirmou que a "a agenda do presidente é pessoal" e que não forneceria detalhes.

No vídeo apresentado pelo veículo, Bolsonaro aparece em um jet ski azul e posa para fotos ao lado de apoiadores. Ao grupo, segundo vídeo mostrado pelo Jornal Nacional, o presidente chamou de "neurose" a forma como a situação vivida pelo país tem sido noticiada: "É uma neurose. 70% vai pegar o vírus. Não tem como. Loucura", disse.

Poucas horas depois, o Ministério da Saúde divulgou que o país chegou a 10.627 mortes em decorrência do novo coronavírus, com a maior quantidade de confirmação de casos nas últimas 24 horas: de ontem para hoje, foram 10.661 novos diagnósticos.

A cerca de 9 km do Paranoá, outros apoiadores do presidente fizeram uma manifestação em frente ao Palácio do Planalto. O ato era crítico ao STF e também ao Congresso.

Ainda ontem, Bolsonaro havia dito que realizaria um churrasco no Palácio do Alvorada, residência oficial da Presidência. A um grupo de apoiadores, ele afirmou, em tom irônico, que receberia mais de 1.300 pessoas e chegou a convidar os presentes, que se aglomeravam no gradil do edifício, para participar.

A primeira menção ao festim foi há dois dias —na ocasião, o presidente disse que receberia 30 convidados para "bater um papo, quem sabe uma peladinha". Questionado em mais de uma oportunidade sobre organizar um churrasco na atual situação, diante do aumento de casos e mortes, Bolsonaro não apresentou respostas diretas e manteve a retórica debochada: "Vou cometer um crime", disse.

Hoje, no entanto, o presidente declarou que se tratava de um "churrasco fake" e criticou a imprensa por noticiá-lo, chamando os jornalistas de idiotas. Ele também atacou o MBL por ter entrado com uma ação pedindo multa de R$ 100 mil, caso realizasse o evento.

Se fosse realizado conforme anunciado, o churrasco iria na contramão das recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde), que defende o isolamento social como forma eficaz no combate à disseminação do coronavírus.

Sem citar a marca de mais de 10 mil mortos, Bolsonaro fez uma postagem, ao fim da tarde, enumerando ações adotadas pelo governo federal no combate à doença. Como slogan, utilizou "O Brasil não Pode Parar", tema de campanha da Secom (Secretaria de Comunicação) que foi alvo de polêmica e teve ação arquivada pelo STF ontem.

O Brasil é o sexto país com maior número de óbitos pela covid-19, segundo levantamento da universidade Johns Hopkins, referência em pesquisas sobre o novo coronavírus.