Topo

'Eufórico', líder da oposição diz que eleição sem Chávez 'é outro jogo'

11/04/2013 06h07

Apesar de as pesquisas de opinião preverem sua derrota nas eleições presidenciais deste domingo na Venezuela, Henrique Capriles, candidato da oposição, está "eufórico".

Sua candidatura à Presidência, após a morte de Hugo Chávez, foi vista por alguns colegas de seu próprio partido como suicídio político. Mas Capriles diz confiar que, desta vez, tem chance de vitória, considerando-se um "líder nacional" que compete com "um candidato muito ruim" - em referência ao presidente em exercício Nicolás Maduro, herdeiro político do chavismo e favorito na eleição.

"Este é outro jogo", insiste Capriles.

Confira, abaixo, sua entrevista concedida à BBC Mundo:

BBC Mundo: O senhor realmente acha que pode ganhar as eleições de domingo?
Henrique Capriles:
Em cada eleição da qual não participou o presidente Chávez, o partido oficial não passou dos 6 milhões (de votos). O que vai acontecer (no domingo)? É uma boa pergunta. Acho que ganharemos. Já obtive 45% (dos votos) com menos força. Isto é uma euforia que vai muito além de uma eleição normal.

Se ganhar, acha que vai conseguir governar, tendo os poderes Legislativo e Judiciário contra?
Capriles:
Caberá (a mim) lidar - não enfrentar, mas sim negociar e governar com instituições que hoje são dirigidas sob condutas parciais. Sinto que os venezuelanos estão pedindo uma mudança. Há medo porque as campanhas midiáticas diárias do governo são um laboratório de propaganda de maldade. Além disso, fazem com que muita gente acredite que vão perder algo se Capriles ganhar. Não vão perder nada.

A Venezuela vive o pior momento dos últimos anos de nossa história. A mais alta violência, a mais alta inflação, duas desvalorizações (monetárias), a mesma produção petrolífera dos anos 1970. O país está em uma situação insustentável. O mais importante para governar um país é contar com o apoio popular. Pode-se ter todo o poder, mas sem o apoio popular você está (em apuros).

O senhor tem esse apoio?
Capriles:
Se eu ganhar no domingo, sem dúvida alguma. (Se o povo) me eleger presidente, isso significa que o país entrará em uma nova realidade política.

O senhor mencionou a economia. Como conter os problemas previstos pelos analistas?
Capriles:
Não é tão difícil. Corrupção no controle cambial (custa) US$ 15 bilhões por ano. Presentes (em apoio) ao exterior (custam) US$ 7 bilhões. Me disseram que (o envio de) petróleo à Argentina (custa) cerca de US$ 13 bilhões. Não acha que é bastante dinheiro para começar um processo de recuperação econômica? Para que o Estado comece a despertar confiança e para que venham os investimentos nacionais e internacionais. Se for presidente, vamos ver como chegarão investimentos.

Você viu as praias que temos aqui, quanto turismo podemos desenvolver? Mas não teremos apenas turismo, teremos (o suficiente) para fazer da Venezuela um país produtor de alimentos que pode virar uma potência.

Mas com a importância que o petróleo tem na economia isso parece difícil.
Capriles:
O petróleo tem que ser a plataforma para o desenvolvimento. A Venezuela não pode apenas ter petróleo. Temos reservas de ferro, ouro. Temos 30 milhões de hectares de terra fértil. Estamos importando peixe, mas veja a costa que temos aqui.

O senhor pensa em abrir a petroleira estatal PDVSA aos investidores estrangeiros?

Capriles: Não, a PDVSA tem que ser uma empresa pública, mas bem administrada. É um diamante bruto.

No âmbito internacional, Chávez tinha muitos amigos na região.
Capriles:
E quem não ia ser amigo dele. Isso é dinheiro, mais além de relacionamentos. Sabe quanto o governo da Venezuela dá anualmente a Cuba, não por médicos ou por treinadores esportivos? US$ 4 bilhões. Sabe quantos barris de petróleo saem todos os dias (rumo) a Cuba? 120 mil. Quanto consomem? E com o resto, o que fazem? Vendem. E o dinheiro vai para o povo cubano? Não.

O senhor diz que vai deixar de dar esses presentes. Não teme que isso afete as relações internacionais?
Capriles:
Isso vai significar que amigos não se compram. Ou se tem, ou não tem. Não creio que o Brasil vá deixar de ter uma boa relação conosco, nem a Colômbia, o Chile ou o Equador. Não acho que as relações pessoais sejam as determinantes das relações entre países.

A BBC Mundo pediu uma entrevista com o outro candidato presidencial, Nicolás Maduro, mas até o momento o pedido não foi aceito.