Por que Salvador é única brasileira entre 50 cidades mais musicais do mundo
De acordo com publicação da Prefeitura de Salvador, a capital da Bahia foi a única representante do Brasil em um ranking das 50 cidades mais musicais do mundo, segundo pesquisa do SeatPick, maior mecanismo de busca de bilhetes e mercado de ingressos para shows.
Para a pesquisa, foram levados em consideração critérios como o número de locais para eventos musicais nas cidades, os festivais realizados, as lojas de discos de vinil e instrumentos musicais e a quantidade de artistas e bandas.
Salvador ficou na 46ª posição da lista — que tem como líderes as cidades de Londres, na Inglaterra, Los Angeles e Chicago, nos Estados Unidos.
Desde 2015, Salvador ostenta o título de Cidade da Música dado pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) — passando a integrar uma rede mundial de Cidades Criativas.
O vibrante ambiente musical fica evidente em trajetórias de sucesso nacional de artistas e bandas ligadas à capital baiana, como Ivete Sangalo, É o Tchan e BaianaSystem, e na força de movimentos de marcante presença no mercado da música, como o samba reggae, o axé music, o pagode e o arrocha. Além disso, é alimentado por ações contínuas de formação, realizadas em comunidades pobres espalhadas por toda Salvador.
Blocos afro fizeram revolução rítmica
Em diversos bairros da periferia ou do centro histórico, o talento musical é desenvolvido e estimulado em jovens e crianças por projetos que unem arte e educação, desenvolvidos por organizações sociais como os blocos afro, responsáveis por uma verdadeira revolução rítmica.
Ao valorizar os ritmos de herança africana, preservados em manifestações culturais e religiosas, e colocar o tambor como central na música produzida na cidade, entidades como Ilê Aiyê, Olodum, Muzenza e Didá, além de influenciar diversos gêneros, abasteceram a indústria musical com virtuosos músicos e compositores que são a base dos hits que se espalham pelo país há décadas.
A música percussiva, de preservação das tradições afro-brasileiras, também tem dialogado fortemente com a música orquestral desenvolvida na cidade — em projetos como a Orquestra Rumpilezz, criada pelo maestro Letieres Leite, e a Orquestra AfroSinfônica, regida pelo maestro Bira Marques.
Da banda Reflexu's à BaianaSystem
A música de matriz africana é o tripé que sustenta toda a música brasileira.
Bira Marques
Bira Marques, que também integra um dos movimentos mais vibrantes e contagiantes da nova música feita em Salvador, a banda BaianaSystem, vem acompanhando a força musical de Salvador há quatro décadas, tendo sido tecladista e arranjador da banda Reflexu's, pioneira no samba reggae e na explosão da música baiana para o Brasil no final da década de 1980.
A banda chegou a vender 1 milhão de cópias e a ganhar seis discos de ouro — um fenômeno de vendas que despertou o interesse do mercado fonográfico para as bandas da Bahia.
Com sucessos como "Madagascar Olodum" e "Canto para o Senegal", a banda Reflexu's já divulgava os ritmos afro-brasileiros com letras políticas, arranjos eletrônicos e uma estética pop que não saía das paradas de programas como Chacrinha, da Rede Globo.
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Quero receber"Para mim o movimento é muito parecido, este que vivo hoje com a BaianaSystem com o que vivi na banda Reflexu's. Desde lá já falávamos de ancestralidade, de negritude, preservando o que é nosso e buscando dialogar com ritmos pop", pontua.
Diálogo entre o clássico e o popular
Pianista, compositor e regente com formação na Universidade Federal da Bahia e também na Universidade Livre de Música Tom Jobim, em São Paulo, Ubiratan Marques sempre manteve atenção à música popular presente no contato inicial com os ritmos sertanejos, de uma parte da família, dos toques religiosos de matriz africana, do lado da avó ialorixá do candomblé, e das aulas iniciação musical na escola pública com mestres como Moa do Katendê.
O desejo de manter esse diálogo e de proliferar o gosto pela música gerou, em 2009, a Orquestra Afrosinfônica e depois a Casa da Ponte, localizada no Largo do Pelourinho, que desde 2018,promove formação em música.
Com dois álbuns lançados, a Afrosinfônica já foi indicada ao Grammy Latino com o disco Orin — a Língua dos Anjos (2021). A orquestra tem brindado o público com encontros memoráveis com artistas como Maria Bethânia, Luedji Luna, Mateus Aleluia, Lazzo Matumbi, o Balé do Teatro Castro Alves e o maracatu Nação Estrela Brilhante, de Pernambuco.
Nessa semana, o maestro Bira Marques deu mais um importante passo no reconhecimento dos blocos afro para o fortalecimento de Salvador como cidade musical.
Foi lançado o projeto Ponte Para a Comunidade, que pretende formar oito Orquestras Afrobaianas ligadas às entidades Didá, Cortejo Afro, Ilê Aiyê, Malê Debalê e Olodum, o afoxé Filhos de Gandhy, o grupo Étnico Cultural e a escola Pracatum, criada no bairro do Candeal pelo músico Carlinhos Brown.
O projeto é uma reverência à ancestralidade e um agradecimento às instituições. Sem elas nós não existiríamos. Vamos lá para aprender a ensinar.
Bira Marques
Até 6 de agosto estão abertas as inscrições para as aulas gratuitas de instrumentos de cordas, sopros, percussão sinfônica e popular, canto e coral. As aulas serão ministradas juntamente com os mestres e percussionistas dessas entidades.
A meta é formar, em um ano, 1.300 pessoas de várias idades nos oito polos de ensino — em bairros como Pirajá, Curuzu, Itapuã, Pelourinho, comunidades de presença negra e forte manifestações culturais.
"Precisamos cuidar do nosso jardim, valorizar essa arte que já está no cotidiano das comunidades, nos corpos dos meninos e meninas, dos mestres populares, nas entidades e nos terreiros, que são guardiões dessa cultura", destaca Bira Marques.
Se depender do maestro Bira Marques, Salvador continuará impulsionando talentos, proliferando ritmos e figurando nos rankings mundiais como destaque musical.
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