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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

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Nordeste: Vitoriosos em 2018, nomes de Lula flertam com derrota em 1º turno

Fonteles, Veneziano, Danilo e Jerônimo: todos atrás de outros concorrentes, segundo o Ipec  - Divulgação
Fonteles, Veneziano, Danilo e Jerônimo: todos atrás de outros concorrentes, segundo o Ipec Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

30/09/2022 04h00

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Vitoriosos na eleição para governador dos nove estados do Nordeste em 2018, os candidatos apoiados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na região enfrentam mais dificuldades neste ano. Alguns deles estão em maus lençóis até em locais que eram comandados por petistas ou aliados.

Não à toa, o ex-presidente alterou sua agenda na reta final de campanha e faz hoje visitas relâmpago para alavancar candidatos petistas na Bahia e no Ceará.

Segundo os institutos de pesquisa, o Nordeste promete dar a vitória para Lula com larga vantagem. Mas, na disputa para os governos locais, a situação só parece confortável no Rio Grande do Norte.

Caso se confirmem os mais recentes números das pesquisas do Ipec nos nove estados, a governadora potiguar Fátima Bezerra (PT) deve ser a única (re)eleita apoiada por Lula já em primeiro turno. Ela também é a única petista que lidera um cenário de forma isolada na região.

No Rio Grande do Norte —após ser a única mulher a vencer em 2018 e ter apenas o apoio do PCdoB—, Fátima conseguiu, com articulação direta de Lula, fazer um arco de alianças que incluiu uma aproximação com a família Alves e o MDB. O vice dela é o deputado federal Walter Alves (MDB), filho do ex-senador e ex-ministro Garibaldi Alves Filho.

Ipec do dia 22:

  • Fátima Bezerra (PT) - 49%
  • Capitão Styvenson (Podemos) - 20%
O ex-presidente Lula e Fátima Bezerra (PT) em evento de pré-campanha em Natal - Ricardo Stuckert - Ricardo Stuckert
O ex-presidente Lula e Fátima Bezerra (PT) em evento de pré-campanha em Natal
Imagem: Ricardo Stuckert

2º turno ameaçado em 4 estados

No maior e mais populoso estado da região, onde o PT tem a maior hegemonia do país, a candidatura de Jerônimo Rodrigues (PT), apesar de ter crescido nos últimos levantamentos, corre o risco de perder a eleição já no domingo para ACM Neto (União Brasil). Se isso acontecer, o partido perderá um reduto que governou por 16 anos, o maior tempo seguido do PT no país.

No estado, entretanto, os problemas antecederam ao lançamento do nome. Impulsionado nos últimos anos como o sucessor de Rui Costa (PT), o senador e ex-governador Jaques Wagner (PT) desistiu de concorrer, e o PT precisou lançar um outro nome quase em cima da hora.

Jerônimo, o escolhido, é novato e disputa sua primeira eleição na vida —antes ele era secretário da Educação de Rui Costa.

Ipec do dia 23:

  • ACM Neto (União Brasil) - 47%
  • Jerônimo Rodrigues (PT) - 32%

No Piauí, outro candidato também patina nas pesquisas e pode perder no primeiro turno. Rafael Fonteles (PT), ex-secretário da Fazenda do governo Wellington Dias (PT), amarga sempre a segunda colocação, atrás de Sílvio Mendes (União Brasil), que se tornou favorito e pode liquidar a fatura ainda no domingo, segundo o Ipec.

    Mendes tem o apoio do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP). Ontem, o candidato que apoiava Bolsonaro, Coronel Diego Melo (PL), renunciou à disputa e apoiou Mendes.

    Ipec do dia 22:

    • Sílvio Mendes (União Brasil) - 38%
    • Rafael Fonteles (PT) - 23%

    Pernambuco também chama a atenção. É o segundo maior estado em população e onde o candidato de Lula, Danilo Cabral (PSB), nem chegou a aparecer na segunda colocação de forma isolada nos levantamentos.

    Com a alta rejeição do governo de Paulo Câmara (PSB), o candidato da continuidade empacou e é outro nome que deve cair ainda no primeiro turno.

    No estado, quem lidera com folga é Marília Arraes (Solidariedade), que era do PT até março, mas deixou o partido após a sigla fechar a porta para uma candidatura sua ao governo. Marília pede votos para Lula.

    Ipec do dia 27:

    • Marília Arraes (Solidariedade) - 34%
    • Raquel Lyra (PSDB) - 15%
    • Miguel Coelho (União Brasil) e Danilo Cabral (PSB) - 13%
    • Anderson Ferreira (PL) - 11%

    Na Paraíba, outra situação delicada envolve um aliado: o candidato apoiado por Lula, o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), também não consegue emplacar nas pesquisas e caiu para a terceira posição no último levantamento Ipec.

    O favorito no estado é o atual governador, João Azevêdo (PSB), que também apoia o petista e recebeu apoio do vice de Lula, Geraldo Alckmin (PSB), em evento de campanha. Na segunda colocação aparece Pedro Cunha Lima (PSDB).

    Ipec do dia 22:

    • João Azevêdo (PSB) - 35%
    • Pedro Cunha Lima (PSDB) - 20%
    • Veneziano Vital do Rêgo (MDB) - 15 %
    • Nilvan Ferreira (PL) - 14%
    João Azevêdo (PSB) lidera e é favorito para reeleição na Paraíba - RANIERY SOARES/ESTADÃO CONTEÚDO - RANIERY SOARES/ESTADÃO CONTEÚDO
    João Azevêdo (PSB) lidera e é favorito para reeleição na Paraíba
    Imagem: RANIERY SOARES/ESTADÃO CONTEÚDO

    Segundo turno perto em quatro estados

    No Ceará, terceiro maior colégio, a situação melhorou nas últimas duas semanas. Elmano Freitas (PT) superou em todas as pesquisas o ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT) e chegou ao empate técnico na última pesquisa do Ipec com Capitão Wagner (União Brasil), que foi líder durante toda a campanha eleitoral.

    Elmano foi lançado de última hora, após o PDT decidir pelo nome de Cláudio, preterindo a governadora Izolda Cela (sem partido), que era o consenso do grupo que está no poder há 15 anos. Com a escolha, o PT abandonou o grupo e apostou em Elmano, com o apoio do ex-governador Camilo Santana (PT).

    Ipec do dia 22:

    • Elmano Freitas (PT) - 30%
    • Capitão Wagner (União Brasil) - 29%
    • Roberto Cláudio (PDT) - 22%

    No Maranhão, o governador Carlos Brandão (PSB) está à frente com certa folga, mas deve enfrentar um segundo turno com candidato ainda indefinido. Ele assumiu a cadeira do Executivo estadual após Flávio Dino (PSB) renunciar para concorrer ao Senado.

    Ipec do dia 20:

    • Carlos Brandão (PSB) - 41%
    • Weverton Rocha (PDT) - 20%
    • Lahesio Bonfim (PSC) - 16%

    Em Alagoas, a disputa em segundo turno também parece inevitável, com a dianteira até aqui nas pesquisas do atual governador, Paulo Dantas (MDB). Ele é apoiado pela família Calheiros.

    O adversário dele, pela última pesquisa Ipec, pode ser o senador Rodrigo Cunha (União Brasil), que tem apoio do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP); ou o também senador Fernando Collor (PTB).

    Ipec do dia 19:

    • Paulo Dantas (MDB) - 30%
    • Rodrigo Cunha (UB) e Fernando Collor (PTB) - 20%

    Cenário mais incerto de todos ocorre em Sergipe, onde Valmir de Francisquinho (PL) liderava com folga, mas teve a candidatura barrada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Rogério Carvalho (PT) aparecia em segundo lugar na última pesquisa Ipec com Fábio (PSD).

    Entretanto, mesmo cotado para chegar ao segundo turno, o resultado no estado parece imprevisível porque os votos dados a Francisquinho serão considerados nulos, já que não há tempo para retirar seu nome e foto da urna eletrônica.

    Ipec de ontem:

    • Valmir de Francisquinho (PL) - 40%
    • Rogério Carvalho (PT) - 17%
    • Fábio (PSD) - 17%
    • Alessandro Vieira (PSDB) - 7%
    gestão  - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
    Valmir de Francisquinho usou a cor azul durante sua gestão da cidade de Itabaiana e beneficiou o filho, segundo o TSE
    Imagem: Reprodução/Facebook

    Estratégia

    A cientista política Luciana Santana, professora da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), lembra que o PT tinha um capital político grande em 2018, em parte pela possibilidade de reeleição —todos os candidatos do partido que tentaram um segundo mandato em 2018 venceram em primeiro turno no Nordeste: Camilo Santana (Ceará), Rui Costa (Bahia) e Wellington Dias (Piauí).

    "Em alguns estados, não foi possível conseguir renovações de nomes capazes de serem competitivos", diz, citando que a hegemonia dos nomes eleitos em 2018 deve ocorrer agora na disputa ao Senado, já que quatro governadores que venceram há quatro anos renunciaram em março ou abril e lideram com folga a disputa.

    "Isso mostra que os governadores eleitos lá em 2018 tinham esse capital, e essa força neste ano será transferida para a disputa ao Senado", afirma.

    Por fim, ela lembra ainda que, como Lula tentou ampliar a frente nacional em torno de sua candidatura, o PT acabou cedendo espaço em alguns estados.

    Na ausência de novas lideranças, Lula tinha de ceder a algumas alianças locais, considerando que isso teria peso no arco de aliados nacionais. Foi uma estratégia."
    Luciana Santana, da Ufal