Fiéis voltam e abraçam última igreja fechada por colapso do solo em Maceió
Fiéis da Igreja Batista do Pinheiro, um dos símbolos de luta em razão do afundamento de solo em Maceió, voltaram hoje ao templo-sede para um abraço simbólico e um protesto contra a interdição da área por riscos ao solo.
Um grupo de cerca de 40 pessoas participou do ato em frente ao prédio fechado por ordem judicial.
A ideia do ato foi decidida durante o último culto do ano, realizado no Sindicato dos Urbanitários, em Maceió. "A volta ao nosso local foi uma demonstração de que o [bairro do] Pinheiro permanece vivo e de pé", disse o pastor Wellington Santos.
O que houve com a igreja?
Após 49 anos, a igreja foi interditado no dia 3 deste mês por ordem da Justiça Federal. A decisão veio após o anúncio de risco de colapso da mina 18.
O templo —último imóvel fechado na área de maior risco— tornou-se um símbolo de resistência e luta pelo bairro, que foi o primeiro afetado pelo afundamento causado pela mineração de sal-gema ao longo de quatro décadas.
A igreja resolveu recorrer à Justiça contra a interdição e quer voltar à área e seguir com atividades na sua sede histórica. Não há ainda uma decisão.
A Defesa Civil de Maceió informou ao UOL que a área onde se encontra o templo foi classificada como de criticidade 00 —a máxima em risco— desde dezembro de 2020.
Decisão de protestar
Segundo o pastor, ao chegar ao sindicato hoje, o ministro de música e a administradora da Igreja já tinham tido um diálogo e perguntaram o que o pastor achava da ideia de voltar ao templo após o culto.
Perguntei à comunidade na hora, que acolheu. Foi surpreendente! Quando terminou o culto, todo mundo entendeu, e ninguém queria ir embora. O povo ficou ali cantando e depois vieram outros gritos de convocação.
Wellington Santos
Wellington explica que esta época de fim de ano foi particularmente difícil para os integrantes da igreja, que estavam deslocados nas datas de Natal e de Ano Novo.
A comunidade se reinventa e encontrou uma potência impressionante para realizar esse ato. A ideia foi dizer que, apesar de estarmos interditados e nos reunindo em outro local temporariamente, a comunidade segue atenta, aguardando o momento de reocupar seu espaço e também pronta para peregrinar e resistir, cobrando justiça.
Wellington Santos
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Quero receberLonga história
A Igreja Batista do Pinheiro é conhecida por ser acolhedora com todas as minorias e chegou a ser expulsa da Convenção Batista Brasileira por decidir, em assembleia em 2016, aceitar membros declaradamente homossexuais. Desde então, avançou para celebrar batismo e casamentos de pessoas do mesmo sexo —o que, claro, também rendeu ataques da ala cristã mais fundamentalista.
O templo foi inaugurado em 1974. Há dois anos, a igreja foi tombada como patrimônio material e imaterial de Alagoas pelos seus conhecidos serviços sociais prestados.
A igreja é uma exceção em meio a quem vivia em áreas afetadas e já deixou o entorno. Os membros decidiram ficar no bairro, onde o templo foi instalado —ainda como congregação— desde 1936. Também se recusaram a abrir negociação com a Braskem, responsável pela mineração de sal-gema na região.
O pastor Wellington diz que a comunidade decidiu lutar para permanecer no local porque a rua onde ela fica está aberta e um relartório apontaria que não há riscos de desabamento na área.
Nós não estamos fazendo negacionismo: temos um laudo da Defesa Civil de outubro de 2021 em que disseram que não havia necessidade de deixar a área. Não nos visitaram em 2022, não nos visitaram em 2023 e aí veio a questão da mina 18 e o argumento de que já era para termos saído porque a área toda é uma área de risco.
Wellington Santos
A Braskem afirma que, desde abril de 2021, vem mantendo tratativas com a igreja para oferecer apoio à realocação, sem sucesso.
A empresa permanece aberta ao diálogo e segue empenhada na implementação das medidas decorrentes da desocupação nos bairros, conforme determinação das autoridades, com foco na segurança das pessoas.
Braskem
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