Carlos Madeiro

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Dona encontra casa vedada pela Braskem e furtada em área afundada de Maceió

A advogada Andrea Karla Cardoso Amaral levou um susto ao voltar à casa de sua propriedade, no bairro do Pinheiro, em Maceió, na tarde da última quinta-feira (29). Ela percebeu que o imóvel estava vedado por tapume de metal que impedia o acesso. E, ao entrar, viu que ela tinha sido invadida e furtada.

Andrea teve de sair de casa por ordem judicial em novembro de 2023, após o anúncio de iminente colapso da mina 18. Ela morava lá com os dois filhos e é uma das raras pessoas que recusou propostas da Braskem para vender o imóvel devido ao afundamento do solo gerado pela extração de sal-gema da empresa por 40 anos no subsolo da capital alagoana.

Ela alega que os valores oferecidos por residência e indenização por dano moral são muito baixos (Leia versões dela e da empresa abaixo).

O que aconteceu

Andréa conta que voltou à sua casa para buscar o restante dos itens que havia deixado.

Em março, ela conta que tinha estado na casa pela última vez para retirar portas de vidro temperado, que tinham maior valor. Na ocasião, já havia arrombamentos.

"Ali já tinham levado botijões de água e gás, então decidi mandar tirar as portas e as levei para o interior. Fechei a porta da casa à época, e ela estava completinha, com tudo dentro", relata.

Para ter acesso à casa nesta quinta, por ser área de risco, acionou a Defesa Civil Municipal, que a acompanhou. Para sua surpresa, a casa estava com acesso vetado.

Casa de Andrea tinha tapumes de metal impedindo acesso
Casa de Andrea tinha tapumes de metal impedindo acesso Imagem: Arquivo pessoal
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Ela conta que, após contato com a Braskem, ela teve de esperar por uma hora e 30 minutos para os seguranças irem até o local e liberarem o acesso à casa.

Quando entrou, percebeu que a residência tinha sido revirada. "Pela primeira vez em seis anos [quando um tremor de início ao problema], fiquei muito abalada. Cheguei no colégio da minha filha chorando", conta.

"Levaram portas, janelas, sanitário, box, talheres, roupa, chuveiros, lençóis, toalhas, sapatos, cortador de grama, bicicleta, chave de carro reserva, quadros de pintura, mais de 100 copos de todo tipo, além de santinhos da minha mãe. Um verdadeiro prejuízo."

Guarda-roupa violado dentro da casa da advogada
Guarda-roupa violado dentro da casa da advogada Imagem: Arquivo pessoal

Entre os itens levados, diz, estão peças de valor sentimental usadas apenas para festas de família. "Foram herdadas da minha mãe", destaca.

Disputa pelo preço da casa

Andrea alega que nunca fechou acordo com a Braskem porque sua casa, de 250 m², tem um laudo de avaliação de R$ 940 mil. A Braskem, diz, ofereceu pouco mais de R$ 600 mil.

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Além disso, ela questiona o valor da indenização por dano moral padronizada que a empresa oferece —R$ 40 mil por família.

Em nota, a Braskem diz que Andrea "optou por não aceitar os auxílios oferecidos no Programa de Compensação Financeira e Apoio à Realocação (PCF), incluindo o serviço gratuito de guarda-volumes para móveis e outros pertences até a mudança para o imóvel definitivo."

Até o mês de fevereiro, 14,4 mil imóveis foram desocupados por moradores ou comerciantes de Maceió, que receberam um total de R$ 3,95 bilhões em indenizações — valor que inclui também os auxílios mudança e aluguel.

A empresa alega que realiza segurança patrimonial realizado nos trechos desocupados dos bairros, e que "a equipe de vigilância identificou um arrombamento e conseguiu frustrar uma tentativa de furto no imóvel."

"Tapumes foram instalados para inibir outras violações, mas a medida não retira da moradora o direito de acessar a edificação sempre que autorizada pela Defesa Civil", afirma.

A Braskem ressalta que, embora execute as atividades de vigilância patrimonial privada, não possui poder de polícia. As medidas são adicionais e todas as ocorrências relacionadas à segurança pública devem ser comunicadas às autoridades competentes.
Braskem, em nota

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Rua abandonada após afundamento no bairro do Pinheiro, em Maceió
Rua abandonada após afundamento no bairro do Pinheiro, em Maceió Imagem: Carlos Madeiro/UOL

Também em nota, a Defesa Civil de Maceió informou que apenas acompanhou Andrea, mas "não participa das tratativas entre os ex-moradores dos bairros afetados pelo afundamento do solo."

Após a saída deles, todo o processo, desde a adesão do morador ao PCF, bem como a descaracterização e tamponamento dos imóveis são realizados pela mineradora Braskem.
Defesa Civil de Maceió

Sobre a vigilância dos bairros, diz que a "responsabilidade é da segurança pública, gerida pelo Governo do Estado; e a área fechada, dentro dos bairros afetados, de responsabilidade da terceirizada contratada pela Braskem."

No caso da casa de Andrea, a Defesa Civil informou que ela está na área fechada, ou seja, é de responsabilidade de segurança da Braskem.

A Defensoria Pública do Estado de Alagoas entrou com uma ação pedindo que a Justiça Federal condene a Braskem à perda de todos os imóveis e terrenos pelos quais pagou, a título de indenização, para que moradores pudessem deixar áreas sob risco de afundamento provocado por obras da empresa em cinco bairros de Maceió.

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Vista geral da região que engloba os bairros Pinheiro, Mutange, Bom Parto e Bebedouro, em Maceió, no estado de Alagoas, onde os moradores tiveram que deixar suas casas devido a instabilidade do solo causada pela extração da sal-gema pela Braskem
Vista geral da região que engloba os bairros Pinheiro, Mutange, Bom Parto e Bebedouro, em Maceió, no estado de Alagoas, onde os moradores tiveram que deixar suas casas devido a instabilidade do solo causada pela extração da sal-gema pela Braskem Imagem: PEI FON - 4.nov.2020/ESTADÃO CONTEÚDO

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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