Lula inicia 2º turno em Fortaleza após bolsonarista vencer PT na periferia
O presidente Lula participa nesta sexta-feira (11) de um ato eleitoral em Fortaleza para ajudar o candidato Evandro Leitão (PT) a virar a disputa no segundo turno contra o bolsonarista André Fernandes (PL), que foi o mais votado e fechou o primeiro turno com 40,2% do total válido.
Se chegar atrás no segundo turno já é ruim, um ponto chamou a atenção na votação: Fernandes venceu nas zonas eleitorais da periferia da cidade, abrindo mais de 10 pontos percentuais em alguns casos (veja mais abaixo).
O ato com Lula está marcado para as 17h13 na praça do Ferreira, um local simbólico do centro de Fortaleza e por onde Lula já passou outras vezes para comícios. Na capital cearense, Lula participa de cerimônia de entrega de unidades do Minha Casa, Minha Vida e entrega de ônibus escolares.
Na primeira pesquisa Datafolha, divulgada ontem pelo Jornal "O Povo", há um empate técnico:
- André - 47%
- Evandro - 45%
- Nenhum - 6%
- Não sabe - 2%
Periferia mais André
O professor de teoria política da UECE (Universidade Estadual do Ceará) Emanuel Freitas fez uma análise de votação dos dois candidatos em cada zona e encontrou vitória de André nas áreas mais pobres e ricas da cidade.
A maior vantagem de André sobre Evandro foi na 95ª zona, no extremo sul de Fortaleza e área pobre, onde o bolsonarista teve 42,57% e o petista, 31,07%.
As pesquisas todas diziam que o principal problema apontado pelos entrevistados era a insegurança pública, que afeta de diferentes modos as camadas da sociedade, mas afeta especialmente os mais pobres, que são vitimados pela ação, em especial nos últimos anos, das facções.
Emanuel Freitas, professor de teoria política da UECE
Para o pesquisador, a ida de Lula pode até ser simbólica, mas o discurso tradicional do presidente não se encaixa ao momento atual. "O discurso do Lula é para um pobre dos anos 1980, 1990 e 2000; não é para o pobre que André atinge, que é aquele que trabalha em transporte por aplicativo, jovem das igrejas e assolado pela violência", afirma.
Não adianta mais falar ao pobre de picanha. Isso é uma realidade muito distante das pessoas; também não adianta falar de hip-hop, de grafite. A realidade dos pobres hoje é a da violência nua e crua, da violência contra os jovens. [Para avançar nessas áreas] Evandro precisa apresentar um discurso mais efetivo, que não é um discurso tradicional de esquerda acerca da pauta.
Emanuel Freitas
Estratégia de nacionalização
A ida de Lula fortalece a estratégia no segundo turno, em que a campanha do PT tenta colar a pecha de que André é bolsonarista, e Evandro é o candidato de Lula.
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Quero receberAndré, ciente do uso da rejeição do ex-presidente, tenta trazer o debate para a arena local e deixou isso claro em entrevista.
Não dá pra falar de polarização. Não existe Lula contra Bolsonaro, não é uma campanha PT contra PL, não é uma campanha direita contra esquerda; é uma campanha dos mesmos de sempre contra nós, eu, André Fernandes, e o povo de Fortaleza. Eles querem levar para outro patamar porque não têm o que falar de mim. Desafio Evandro a fazer campanha sem essas três bengalas: Lula, Camilo [Santana, ministro da Educação] e Elmano [de Freitas, governador do Ceará].
André Fernandes em entrevista à TV Jangadeiro
Evandro usou e abusou dos padrinhos por começar a campanha como o candidato menos conhecido na capital. Ele era presidente da Assembleia Legislativa e se filiou ao PT apenas em março, deixando o PDT de Ciro Gomes. Não à toa saiu de quarto lugar para segundo durante o período do programa eleitoral no rádio e na TV.
Já Evandro diz agora que "não são bengalas."
Eu desafio o André a um debate comigo, para a gente mostrar quem é quem, saber quais são as propostas para as mais diversas áreas. O que eu tenho é o meu time, eu não escondo o time que eu faço parte: é o time de Lula, de Camilo e de Elmano.
Evandro Leitão, em entrevista à TV Jangadeiro
A eleição mais importante para o PT
Além de ser a maior cidade do Nordeste, a capital cearense também é a maior e mais simbólica em que um petista disputa o segundo turno.
Primeiro porque a disputa é na mais populosa cidade do Nordeste, região do reduto petista; também é a capital de um estado governado pelo PT há nove anos e que tem um dos líderes jovens mais proeminentes do partido no país, Camilo Santana.
Além disso, o PT não vence eleição em capital desde 2016, e Evandro é a esperança mais real do partido de vitória —que ainda disputa Porto Alegre, Natal e Cuiabá.
Outro ponto emblemático é que o partido disputa contra um nome que nasceu para política na onda bolsonarista, em 2018, e que pode romper um paradigma de capitais nordestinas nunca elegerem um candidato nesse perfil.
A capital cearense, por sinal, não deu apenas a vitória a André no primeiro turno, mas também deu expressiva votação a vereadores, com o primeiro e o terceiro mais votados sendo políticos também conhecidos pela defesa da pauta bolsonarista.
Apoios
No segundo turno, o PT espera contar com boa parte dos apoios do PDT do prefeito José Sarto —esse que não deve apoiar nenhum dos candidatos. Alguns vereadores do partido já anunciaram voto no petista, mas o partido oficialmente não se posicionou. Sarto foi terceiro colocado, com 11,7% dos votos.
O quarto lugar, o Capitão Wagner (União Brasil), que teve 11,4% dos votos, não sinalizou apoio, mas a tendência natural é que o grupo dele migre para André.
O quinto lugar, senador Eduardo Girão (Novo), declarou apoio a André. Já os sexto e sétimo, Técio Nunes (PSOL) e George Lima (Solidariedade), vão com Evandro.
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