Carlos Madeiro

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Reportagem

Brasil mais seco: área sem água segue crescendo no país e liga alerta

A área seca do Brasil aumentou 970 mil hectares em dois anos, ou o equivalente ao território da Jamaica, segundo dados do MapBiomas. O crescimento é uma tendência observada desde 2009, segundo a rede de pesquisa, formada por instituições, cientistas e ONGs e que produz mapas e dados sobre o uso do solo no país.

O número corresponde a duas vezes a área do Distrito Federal ou 1,3 milhão de campos de futebol.

O levantamento leva em conta os anos de 2023 e 2024. No ano passado, as chamadas superfícies de água ocupavam 17,87 milhões de hectares no Brasil. Foram 400 mil hectares a menos que os 18,27 milhões medidos em 2023. Na comparação entre 2023 e 2022, também houve perda, de 570 mil hectares.

A expressão superfície de água se refere às áreas ocupadas pelos que os pesquisadores chamam de corpos hídricos —rios, lagos, etc. -, que podem ser naturais ou criados pelo homem.

A dinâmica de ocupação e uso da terra no Brasil, junto com eventos climáticos extremos, causada pelo aquecimento global, está deixando o Brasil mais seco. Esses dados servem como um alerta sobre a necessidade de estratégias adaptativas de gestão hídrica e políticas públicas que revertam essa tendência.
Juliano Schirmbeck, coordenador técnico do MapBiomas Água

Segundo os dados, oito dos últimos dez anos estão entre os mais secos da série histórica do MapBiomas, iniciada em 1985.

Superfície de água por ano:

  • 1985 - 1,87 milhão
  • 1992 - 2,02 milhões (recorde)
  • 2014 - 1,77 milhão de hectares
  • 2015 - 1,73 milhão
  • 2016 - 1,7 milhão
  • 2017 - 1,72 milhão
  • 2018 - 1,73 milhão
  • 2019 - 1,74 milhão
  • 2020 - 1,72 milhão
  • 2021 - 1,72 milhão
  • 2022 - 1,88 milhão
  • 2023 - 1,82 milhão
  • 2024 - 1,78 milhão
Área de Cerrado desmatada para o plantio de soja em uma fazenda no oeste da Bahia
Área de Cerrado desmatada para o plantio de soja em uma fazenda no oeste da Bahia Imagem: Lalo de Almeida -15.mar.2024/Folhapress
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Pantanal é região que mais secou

O bioma que mais perdeu água em 2024 foi o Pantanal: a superfície foi 61% menor que a média histórica da região. No ano passado, o bioma tinha uma superfície de água de 366 mil hectares, ou 2% do total do país, abaixo da média histórica anual.

"Desde a última cheia em 2018, o bioma tem enfrentado o aumento de períodos de seca e, em 2024, a seca extrema aumentou a incidência e propagação de incêndios", afirma Eduardo Rosa, da equipe do MapBiomas Água.

Nesses dois anos, a Amazônia sofreu com uma seca extrema, em especial no ano passado. O bioma perdeu 3,6% da sua superfície de água em relação a 2024.

Apesar de o Brasil possuir 12% da água potável do planeta, há uma distribuição desigual dela, com mais da metade da superfície de água (61%) na Amazônia.

Quantidade de territórios com água por bioma em 2024:

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  • Amazônia: 10,8 milhões de hectares
  • Mata Atlântica: 2,2 milhões
  • Pampa: 1,8 milhão
  • Cerrado: 1,6 milhão
  • Caatinga: 981 mil
  • Pantanal: 366 mil
Filhote de macaco-prego foi resgatado das cinzas de um incêndio no Pantanal na região do Salobra, em Miranda (MS)
Filhote de macaco-prego foi resgatado das cinzas de um incêndio no Pantanal na região do Salobra, em Miranda (MS) Imagem: Ibama/Divulgação

Reservatórios artificiais cresceram

Ao longo dos anos, o país criou milhares de reservatórios de água, seja para abastecer pessoas e animais, irrigar plantações ou mover hidrelétricas, por exemplo.

No Cerrado, por exemplo, a quantidade de água de reservatórios artificiais superou a de naturais (de rios, lagos e lagoas). Em 1985, 63% da superfície de água do bioma era natural. Em 2024, 40%.

A construção de grandes reservatórios para geração de energia e a expansão da agricultura irrigada foram os principais motores de transformação na superfície de água no Cerrado. Regiões como a bacia do Alto Paraguai, onde estão as nascentes do Pantanal, foram criticamente afetadas, assim como o oeste da Bahia, onde se observou redução generalizada na superfície de água.
Joaquim Pereira, pesquisador do IPAM e do MapBiomas Água

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Entre os estados, o Mato Grosso é o que mais perdeu no ano passado. Foram 291 mil hectares de superfície de água a menos. Em seguida, vêm Amazonas e Mato Grosso do Sul, ambos com queda de 275 mil hectares cada.

Entre os municípios, 2.507 (ou 45% do total) estavam em 2024 com área seca acima da média histórica. Corumbá (MS) tinha 260 mil hectares de superfície de água a menos, o equivalente a 95% de toda a perda registrada no estado do Mato Grosso do Sul.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

13 comentários

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Waldemar Morgado Neto

Estão acabando com tudo. Serrado era uma esponja com muita água, carvoarias e fazendeiros estão detonando o serrado. Esse bioma está no fim. Pela ganância de canalhas. Coitado do Brasil.

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Silvia Regina do Amaral Vignola

O agronegócio está matando nossa "galinha dos ovos de ouro"! O agro está dando tiros nos próprios pés! 

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Jo o Paulo Uriartt da Rosa

Só seguirem desmatando tudo e irrigando lavouras de soja para exportação e pastagens para exportação de carne que logo terá um deserto arenoso no coração do país.. a água daqueles pivôs centrais é a mesma que falta nas torneiras durante épocas do ano em várias cidades. Não esquecer disso.

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