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Cúpula bolsonarista investigou relação de diplomatas com jornalista
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Em instrução enviada a diplomatas brasileiros em novembro de 2020, o Itamaraty informou que uma sindicância estava sendo instaurada para investigar suposto vazamento de informações e os contatos entre embaixadores e diplomatas com o colunista Jamil Chade.
Naquele momento, a chancelaria era comandada por Ernesto Araújo, um dos principais pilares da ala mais radical do bolsonarismo, adepto de Olavo de Carvalho e que alinhou o Brasil ao governo de Donald Trump e a Steve Bannon.
Investigação incluiu questionamento sobre reportagem e sobre jornalista. Oficialmente, o objetivo da sindicância era descobrir como o UOL havia obtido informações sensíveis e sigilosas que deram base à reportagem publicada em 6 de outubro daquele ano, sob o título "Brasil se alinha a islâmicos e ignora projeto na ONU [Organização das Nações Unidas] para proteger mulheres".
Durante a apuração dessa reportagem, a coluna procurou o Itamaraty, mas a chancelaria ficou em silêncio.
Após a publicação, os diplomatas receberam perguntas e foram orientados a mantê-las em sigilo —inclusive em relação aos demais colegas de profissão. Entre as questões, estavam:
1) Conhece pessoalmente o jornalista Jamil Chade?
2) Teve contato particular ou pessoal com o jornalista? Em caso positivo, quais foram as circunstâncias?
3) Sabe de outros diplomatas que tenham relações profissionais ou particulares com o jornalista?
4) Algum diplomata usou outras mídias para ter acesso a informações sensíveis e sigilosas relativas ao tema em questão? Por exemplo, WhatsApp?
E agora? Na última semana, a coluna procurou o Ministério das Relações Exteriores e perguntou quem foi o responsável pela sindicância e se houve algum resultado. O Itamaraty não respondeu a essas questões, mas enviou uma nota.
"Em cumprimento à Lei no. 8.112/90, art. 143, o ministério tem o dever de investigar casos em que haja suspeita de irregularidade no serviço público. De acordo com a mesma lei 8.112, art 116, VIII, e art 132, IX, é vedado ao servidor revelar informações sigilosas", diz o texto.
Conforme previsto na mesma lei, essas investigações somente podem ser instauradas em relação a servidores públicos. Portanto, neste contexto, nenhum jornalista ou pessoa que não pertença aos quadros do ministério pode ser investigado."
Itamaraty, em nota
O envio do questionário gerou um clima de perseguição dentro do Itamaraty, de acordo com diplomatas. Para funcionários da chancelaria, o documento era a prova de que a cúpula bolsonarista estava de olho em qualquer contato com a imprensa.
Também começou a haver desconfiança mútua —mesmo se alguém mentisse nas respostas, o temor era de que outros poderiam delatar colegas, na esperança de ganhar a simpatia do então comando da chancelaria.
Essa tensão pós-sindicância foi mais um indício da perseguição estabelecida no ministério contra qualquer um que questionasse o bolsonarismo. Conforme o UOL revelou na semana passada, uma rede de resistência clandestina foi criada dentro do Itamaraty para conter prejuízos à política externa do país.
Além dos diplomatas que tentaram resistir, a realidade é que a chancelaria também conta com um grupo importante que se diz abertamente monarquista. Um dos chefes de uma divisão que se ocupa do protocolo costumava ter uma bandeira do Brasil sob a monarquia em sua sala, em plena República.
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