Jamil Chade

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ONU quer apuração sobre armas em Gaza; palestinos falam em duas Hiroshimas

A ONU pressiona para que uma investigação seja estabelecida sobre as táticas e armas usadas por Israel em Gaza, alertando que as práticas podem constituir violações do direito humanitário internacional e crimes de guerra.

A mobilização da entidade ocorre no momento em que a Autoridade Palestina submete documentos para a comunidade internacional denunciando que o volume de bombas jogadas sobre Gaza representaria o equivalente a praticamente duas ogivas nucleares largadas sobre a cidade de Hiroshima, no final da Segunda Guerra Mundial.

Nos bastidores, uma das principais preocupações das Nações Unidas se refere ao fato de que, sem uma apuração, a comunidade internacional vai estar dando uma sinalização de que uma ofensiva militar desse porte pode acontecer em total impunidade.

Nesta semana, em uma viagem a vários países do Oriente Médio, o chefe de Direitos Humanos da ONU, Volker Turk, expôs em parte essa movimentação do organismo internacional.

Segundo ele, os ataques do Hamas contra israelenses, no dia 7 de outubro, devem ser condenados e são inaceitáveis.

"Mas está claro que a paz e a segurança duradouras não podem ser garantidas pelo exercício da fúria e da dor contra pessoas que não têm responsabilidade pelos crimes cometidos — incluindo os 99 membros da equipe da UNRWA (a Agência da ONU para os Refugiados Palestinos) que foram mortos", disse Turk. "Isso é sem precedentes, ultrajante e profundamente desolador", alertou.

"O extenso bombardeio israelense em Gaza, incluindo o uso de armas explosivas de alto impacto em áreas densamente povoadas, arrasando dezenas de milhares de edifícios, está claramente causando um impacto humanitário e de direitos humanos devastador."

"Após quatro semanas de bombardeios das forças israelenses em Gaza, os efeitos indiscriminados de tais armas em uma área densamente povoada são claros. Israel deve encerrar imediatamente o uso de tais métodos e meios de guerra, e os ataques devem ser investigados", pediu o chefe de Direitos Humanos da ONU.

O governo israelense negou qualquer irregularidade. "Israel cumpre a lei humanitária internacional o tempo todo. Os terroristas não o fazem", apontou a diplomacia de Benjamin Netanyahu.

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Mas, na ONU, o argumento não convence. O gabinete de Truk monitora os ataques e uma série de incidentes com alto número de mortes em Gaza, incluindo ataques a áreas residenciais em Jabalia, cidade de Gaza, Al Bureij, Al Nuseirat, Al Meghazi e Khan Yunis.

"Considerando o previsível alto nível de vítimas civis e a ampla escala de destruição de objetos civis, temos sérias preocupações de que esses ataques sejam desproporcionais e violem o direito internacional humanitário", afirmou.

Segundo ele, os ataques contra hospitais também preocupam. Alguns, incluindo os hospitais Al Quds e Al Shifa, também receberam ordens específicas de evacuação. "Mas isso, como alertou a Organização Mundial da Saúde, é uma sentença de morte em um contexto em que todo o sistema médico está em colapso e os hospitais no sul de Gaza não têm capacidade para absorver mais pacientes", disse.

Turk apontou que a lei humanitária internacional estende proteção especial às unidades médicas e exige que elas sejam protegidas e respeitadas em todos os momentos.

"Qualquer uso de civis e objetos civis por grupos armados palestinos para se protegerem de ataques é uma violação das leis da guerra. Mas essa conduta dos grupos armados palestinos não isenta Israel de sua obrigação de garantir que os civis sejam poupados — que os princípios de distinção, precauções no ataque e proporcionalidade sejam respeitados", explicou.

Duas bombas de Hiroshima

Enquanto a ONU pressiona por uma investigação, a diplomacia palestina submeteu nesta semana informações para a entidade em que aponta a dimensão dos ataques.

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Num documento obtido pelo UOL, a Autoridade Palestina aponta que Israel "passou a lançar mais de 25 mil toneladas de explosivos em Gaza, o equivalente a quase duas bombas nucleares.

"Para colocar isso em perspectiva, estima-se que o peso da bomba nuclear lançada pelos Estados Unidos sobre Hiroshima, no Japão, no final da Segunda Guerra Mundial, tenha sido o equivalente ao impacto de 15 mil toneladas de explosivos", apontou.

"Israel se gaba abertamente de ter lançado até agora mais de 12 mil bombas em Gaza, um território com 25 milhas de comprimento e com cerca de 1 milhão de jovens e crianças. Essas bombas têm um enorme poder destrutivo, algumas delas variando de 150 kg a 1.000 kg", destaca.

"Atualmente, os especialistas consideram que essa é a campanha de bombardeio mais intensa e duradoura da história em uma área povoada", alertou o documento, que afirma que isso incluiria o uso de fósforo branco, conforme confirmado por várias organizações de direitos humanos, incluindo a Human Rights Watch e a Anistia Internacional.

"Fósforo branco em áreas de alta concentração de civis, em uma das áreas mais densamente povoadas da Terra. Isso é um crime de guerra", disse.

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