Jamil Chade

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Crianças morrem desnutridas e desidratadas em Gaza, diz Unicef


A crise humanitária já faz suas vítimas em Gaza, diante do desabastecimento de todo o tipo de alimentos e acesso à água. Num comunicado emitido neste domingo, a Unicef apontou que pelo menos dez crianças teriam morrido devido à desidratação e à desnutrição no Hospital Kamal Adwan, no norte da Faixa de Gaza, nos últimos dias.

De acordo com a entidade, além do sentimento de impotência de médicos e dos pais dessas crianças, o cenário é ainda mais dramático diante "dos gritos angustiados desses bebês que perecem lentamente sob o olhar do mundo". Para a agência da ONU para os Refugiados palestinos, a UNRWA, esse caso confirma que Gaza se transformou em um "inferno na terra". "Quando é que o mundo dirá basta?", questiona.

A acusação ocorre num momento em que os organismos internacionais insistem que não estão conseguindo levar para Gaza comida e mantimentos suficientes para os 2,2 milhões de palestinos. As raras distribuições de alimentos e remédios acabam se transformando em cenas de tensão.

Há dois meses, a ONU havia lançado um alerta do risco de que as mortes em Gaza começassem a ocorrer não apenas pelas bombas, mas pela escassez.

Na sexta-feira, em um discurso no Conselho de Direitos Humanos da ONU, o alto comissário Volker Turk, apontou que mais de 30 mil mortos já foram registrados em Gaza e que 17 mil crianças estão órfãs ou separadas dos pais.

A Unicef alerta que essas mortes de crianças não se restringem ao hospital e atingem outras crianças, nas demais partes da Faixa de Gaza. "Essas mortes trágicas e horríveis são causadas pelo homem, previsíveis e totalmente evitáveis", diz.

Na avaliação da agencia, "a falta generalizada de alimentos, água potável e serviços médicos, uma consequência direta dos impedimentos de acesso e dos vários perigos enfrentados pelas operações humanitárias da ONU, está afetando as crianças e as mães, prejudicando sua capacidade de amamentar seus bebês, especialmente no norte da Faixa de Gaza".

"As pessoas estão famintas, exaustas e traumatizadas. Muitos estão se agarrando à vida", alerta a agência.

Segundo a entidade, as restrições de ajuda no norte estão custando vidas. A Unicef alerta que uma em cada seis crianças com menos de 2 anos de idade vive uma situação de desnutrição aguda no norte de Gaza. No sul, o problema atinge 5% das crianças.

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"As agências de ajuda humanitária, como o UNICEF, devem ter condições de reverter a crise humanitária, evitar a fome e salvar a vida das crianças", disse. A agência afirma que, para isso, ela precisa de múltiplos pontos de entrada em Gaza

"A Unicef vem alertando desde outubro que o número de mortes em Gaza aumentaria exponencialmente se uma crise humanitária surgisse e fosse deixada para apodrecer", afirma a agência. "A situação só piorou e, como resultado, na semana passada, alertamos que uma explosão de mortes de crianças seria iminente se a crescente crise nutricional não fosse resolvida", disse.

"Agora, as mortes de crianças que temíamos estão aqui e provavelmente aumentarão rapidamente, a menos que a guerra termine e os obstáculos à ajuda humanitária sejam resolvidos imediatamente", alerta.

Segundo a agência, há uma sensação de impotência e desespero entre pais e médicos ao perceberem que a ajuda, a apenas alguns quilômetros de distância, está sendo mantida fora de alcance.

"As vidas de milhares de outros bebês e crianças dependem de ações urgentes a serem tomadas agora", completa.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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