Musk e extrema direita repetem no Brasil receituário que usaram nos EUA
Ao "revelar" o conteúdo de supostos e-mails internos do Twitter, o bilionário Elon Musk e a extrema direita repetem, no Brasil, o mesmo receituário que adotaram nos EUA na esperança de ampliar os ataques contra qualquer força política contrária a Donald Trump.
Em 2022, o empresário — que desmontou qualquer filtro de controle de desinformação e de direitos humanos dentro da empresa que comprou — passou a promover os "Twitter Files", uma suposta conspiração que existiria dentro da empresa para prejudicar a extrema direita e os adeptos de Trump.
A narrativa ecoava a queixa de adeptos ao trumpismo que, sem qualquer tipo de provas, insistiam que as redes sociais adotavam posturas contra seus candidatos, pontos de vista ou ideias.
Todos os estudos, inclusive feito internamente no Twitter, revelavam o contrário, com algoritmos claramente favorecendo a proliferação de mentiras, desinformação e conteúdos promovidos pela extrema direita.
Ainda que o "vazamento" possa ser uma fonte para saber o que ocorre nos bastidores de uma plataforma social e a relação entre o aparato de segurança do Estado e empresas do mundo digital, especialistas alertaram que os documentos não bastam para chegar às conclusões que a extrema direita tenta emplacar.
Naquele momento, os jornalistas que tiveram acesso aos documentos de Musk tinham de aceitar certas condições que não foram reveladas. Uma delas era a de publicar suas histórias em primeiro lugar na plataforma X, o nome da empresa Twitter rebatizada por Musk.
Não há contexto para as denúncias apresentadas e nem a informação de contas de outras tendências políticas também foram suspensas. Sem isso, fica difícil — ou até impossível — saber se as decisões da empresa foram tomadas de forma justa.
Desde que assumiu a plataforma e a transformou em X, Musk reabriu contas que tinham sido banidas, inclusive de movimentos que fizeram parte dos ataques contra o Capitólio em 2021.
No Brasil, a narrativa parece seguir o mesmo receituário por parte de um empresário que se diz "um absolutista da liberdade de expressão". As "revelações" foram imediatamente assumidas por políticos bolsonaristas, pedindo a abertura de CPI e difundindo a suposta notícia de que o país estaria prestes a se tornar uma ditadura.
Tudo isso ocorre enquanto o Judiciário, no Brasil, investiga a suspeita de que membros do governo Bolsonaro tramaram um golpe de Estado e uma ruptura democrática.
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