Jamil Chade

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Reportagem

Eslovaco propôs que Ucrânia cedesse território e gerou polarização

Amante de carros e de halterofilismo, o primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, que sofreu foi baleado nesta quarta (15) tem sua passagem pela política nos últimos anos marcada por seu ultranacionalismo, medidas contra imigração e ataques contra o uso de máscara na pandemia. Sua gestão, desde o ano passado, tem sido marcada por uma profunda polarização e protestos pelo país.

Mas foi sua oposição a dar mais recursos para a Ucrânia, sua admiração por Vladimir Putin e um flerte com as posturas de Viktor Orbán na Hungria que deram o tom de seu retorno ao poder, gerando preocupação entre os líderes europeus.

Ele iniciou seu percurso político no Partido Comunista da então Checoslováquia. No final dos anos 90, ele criou seu próprio partido, o Smer, de centro-esquerda. Não demorou para que ele chegasse ao poder,. Em 2006, ele se transformou em primeiro-ministro e conduziu o país para aderir à UE. Ele voltaria a vencer as eleições em 2012. Em 2016, ele usou a plataforma contra a imigração e contra os muçulmanos para, uma vez mais, ganhar o pleito.

Mas o assassinato de um jornalista gerou protestos por todo o país e que resultaram em sua queda em 2018.

Camaleão, Fico abandonou o entusiasmo pró-UE do início de sua carreira política para passar a adotar um discurso anti-ocidental e questionando as políticas de lockdown e de máscaras na pandemia.

Fico também se alinhou às posturas mais radicais do líder de extrema direita da Hungria, Viktor Orbán. Atacou as ONGs, manipulou uma reforma para controlar a televisão pública, se opôs ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e chegou a qualificar a adoção de crianças por casais homossexuais como sendo "perversão". Ele ainda acelerou reformas que espelhavam as mudanças promovidas por Orbán, como a redução das penas por crimes financeiros e desmonte do combate à corrupção.

Ele voltaria ao poder em 2023, desta vez liderando uma coalizão ultranacionalista e sinalizando posturas contrárias à continuação do financiamento da UE para apoiar a Ucrânia na guerra contra os russos. Ele ainda prometeu não contribuir mais para ajudar Kiev financeiramente e nem com armas, e afirmou ser contrário às sanções contra Moscou.

Numa declaração que causou consternação na UE, ele anunciou que Putin não seria preso se viajasse para a Eslováquia. O russo é alvo de um mandado de prisão por parte do Tribunal Penal Internacional.

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Ele ainda disse que a única forma de acabar com a guerra seria se a Ucrânia abrisse mão de parte de seu território.

Entre diplomatas europeus, o temor foi de ver a possibilidade de que um país da UE se distanciando da postura até então coesa do bloco de apoio aos ucranianos. Ainda que pequena, a Eslováquia poderia abrir espaço para a retomada de um sentimento pró-russo em determinadas partes do Leste Europeu.

O atentado ocorre semanas depois que um dos maiores aliados de Fico, Peter Pellegrini, venceu a eleição para a Presidência do país. Ele também vem adotando uma postura crítica aos ucranianos.

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