Piada racista abre crise, e líder republicano se recusa a votar em Trump
Uma piada ameaça a campanha de Donald Trump, faltando sete dias para a eleição. No domingo (27), num comício em Nova York, o humorista contratado pelos republicanos, Tony Hinchcliffe, comparou Porto Rico a uma "ilha de lixo", em um evento marcado por racismo, xenofobia e nacionalismo. O ato tinha como um de seus objetivos incentivar a base mais radical dos americanos a sair de casa para votar.
Mas, imediatamente após o evento, vozes dentro do próprio partido alertaram sobre o impacto que a piada poderia ter, enquanto o temor era de que os votos de cidadãos de Porto Rico fossem abalados. O humorista se recusou a pedir desculpas, enquanto Trump se manteve em silêncio. Mas a campanha foi obrigada a emitir um comunicado se distanciando do tom usado pelo comediante.
Agora, é o próprio líder dos republicanos na ilha, Angel Cintrón - um ex-deputado e atual presidente do partido republicano em Porto Rico - que deixou clara sua irritação. Ele anunciou que não apoiará Trump, a menos que ele se desculpe pessoalmente pelos comentários racistas.
"Se Donald Trump não pedir desculpas, não votaremos nele", disse. "Porto Rico está sempre em primeiro lugar", acrescentou.
Os porto-riquenhos que residem na ilha não podem votar para presidente dos EUA. Mas cerca de 5,8 milhões que vivem nas cidades americanas sim. Uma parcela deles está justamente nos estados onde a disputa é mais acirrada e a campanha de Trump admite que a piada pode prejudicar.
Cintrón não foi o único a protestar. "Essa piada não é engraçada e não é verdadeira. Os porto-riquenhos são pessoas incríveis e americanos incríveis", escreveu Rick Scott, senador republicano da Flórida, em uma postagem no X.
A congressista republicana Maria Elvira Salazar, que representa partes de Miami e participou de eventos recentes de Trump, disse: "Enojada com o comentário racista de @TonyHinchcliffe chamando Porto Rico de 'ilha flutuante de lixo'".
"Essa retórica não reflete os valores do Partido Republicano", escreveu ela. "Porto Rico enviou mais de 48.000 soldados ao Vietnã, com mais de 345 Corações Púrpura concedidos. Essa bravura merece respeito. Eduque-se!", alertou.
No começo da semana, arcebispo de San Juan, Roberto González Nieves, escreveu ao ex-presidente também pedindo que ele se desculpasse.
"Gosto de uma boa piada", escreveu o arcebispo. "No entanto, o humor tem seus limites. Ele não deve insultar ou atacar a dignidade e a sacralidade das pessoas. As observações de Hinchcliffe não provocam apenas risos sinistros, mas também ódio", disse.
A piada ainda reverberou onde Trump mais aposta em votos: o estado da Pennsylvania. Entidades que reúnem imigrantes de Porto Rico publicaram uma carta aberta condenando os comentários dos republicanos e pedindo que os 500 mil cidadãos da ilha no estado se recusem a votar por Trump.
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