Juliana Dal Piva

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80% dos perfis nas redes responsáveis por espalhar fake news seguem ativos

"Testando pra ver se continuo censurado pelo cabeça de piroc%...", escreveu Fabrizio Cisneros em sua rede social. A publicação foi feita no dia 26 de fevereiro de 2023.

Era dele uma das 17 contas banidas por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), por participação nos atos golpistas. Elas foram identificadas em relatórios de inteligência da PF (Polícia Federal) e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) após compartilhar conteúdos relacionados à invasão e à depredação das sedes do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo, em Brasília.

Fabrizio fez transmissões ao vivo em 8 de janeiro. Não foi sua primeira vez em atos antidemocráticos. Antes disso, também divulgou, em sua rede social, um post com informações sobre uma caravana organizada por ele para o 7 de Setembro de 2021, que partiu de Mato Grosso com destino a Brasília.

Em seu histórico, Cisneros tentou ocupar uma vaga de deputado estadual pelo Democracia Cristã em Mato Grosso, mas o partido não cumpriu a cota mínima de candidaturas femininas, de 30%, e foi impedido de lançar candidatos em 2022.

As redes sociais de Cisneros fazem parte de um levantamento exclusivo feito pelo UOL, que considerou decisões do STF, do TSE e do relatório final elaborado a partir da CPI da Covid, que apontaram perfis responsáveis pelo compartilhamento de fake news. O trabalho é parte da investigação transfronteiriça Mercenários Digitais, da qual participam outros 19 meios de comunicação, cinco organizações especializadas em investigação digital e mestrandos da Columbia University, sob a coordenação do Clip (Latin American Center for Journalistic Research).

Foram contabilizados 326 perfis que disseminaram informações falsas no período de janeiro de 2020 a janeiro de 2023. Continuam ativos 79,8% deles em pelo menos uma rede social.

Desses, mais da metade são indivíduos, o que inclui pessoas comuns e influenciadores. Um quarto são políticos. Há ainda as empresas (23 das 260 redes que permanecem ativas), que incluem sites bolsonaristas, e 13 perfis de pessoas que fizeram parte do governo Bolsonaro, como os ex-ministros Abraham Weintraub, Onyx Lorenzoni e Osmar Terra.

A reportagem do UOL encontrou uma série de perfis que criaram novas contas para continuar atuando nas redes sociais, mesmo após decisões da Justiça —que incluem retirada de conteúdo falso, bloqueio de contas bancárias e de perfis, além de desmonetização de canais no YouTube e multas.

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Imagem: Agência Pública
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Em outros casos, as contas foram reativadas, como a do bolsonarista Renato da Silva: "Passando aqui para dizer que estou de volta, depois de um bom tempo com a minha conta banida. (...) Com apenas sete dias de governo Nine [em referência pejorativa ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva], [há] petistas arrependidos pela escolha que fizeram".

Marcio Giovani Niquelatti, que chegou a ser preso preventivamente pela PF por ameaças de morte contra Moraes, compartilhou uma publicação no dia 30 de outubro de 2022, dia do resultado das eleições. Na imagem, os dizeres: "O gigante foi morto por seu próprio povo" e "o povo brasileiro mostrou ao mundo que apoia a corrupção e a criminalidade".

Apesar da montagem, escreveu que não iria falar "o que pensa". "Por que volto para a cadeia, né, STF?", questionou. Uma mulher comentou na postagem. "Amigo, não fale nada por enquanto. Eles são perigosos", disse ao se referir aos ministros do STF.

Pouco antes de ser preso pela PF, Niquelatti fez uma transmissão ao vivo nas redes sociais e disse que existia um esquema criminoso que iria premiar com dinheiro quem conseguisse a cabeça do ministro do Supremo. "Tem até uma grana federal que vai sair o valor pela cabeça do Alexandre de Moraes, vivo ou morto, para quem trazer ele", afirmou.

Do total de 66 perfis bloqueados, apenas quatro são de políticos (5,6%). Proporcionalmente, a chance de um político ter sua rede social desativada por disseminar notícias falsas é quatro vezes menor do que a de outros atores, como indivíduos, empresários ou empresas (24,3%).

Políticos bolsonaristas, como o deputado estadual Capitão Assumção (PL-ES), alegam que são alvo de censura. Isso porque, no caso dele, seu Instagram está fora do ar —embora outras redes sociais continuem ativas.

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Na sua conta do Twitter, ele publicou uma foto amordaçado, em frente à Assembleia Legislativa do Espírito Santo, segurando um cartaz escrito "censura".

Ele foi um dos alvos da operação da PF contra atos antidemocráticos em dezembro de 2022, apontados por atuar como uma "milícia privada digital". Na decisão do STF, Alexandre de Moraes escreveu que o deputado Capitão Assumção é investigado por "promover, diuturnamente, pela rede social, diversos pronunciamentos virulentos e criminosos contra ministros do Supremo".

Presentes no levantamento estão 71 políticos, 28 empresas privadas, 23 empresários, além de 14 integrantes ou que fizeram parte da administração pública. Há ainda 188 pessoas, que vão desde juízes a influenciadores digitais e jornalistas como Alexandre Garcia, Alessandro Loiola, Rodrigo Constantino e Guilherme Fiúza.

Mercenários digitais

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Imagem: Arte/UOL

Mercenários digitais é uma investigação do Chequeado (Argentina), UOL y Agência Pública (Brasil), LaBot (Chile), Colombiacheck y Cuestión Pública (Colômbia), CRHoy, Interferencia y Lado B (Costa Rica), GK (Equador), Factchequeado (EUA) Ocote (Guatemala), Contracorriente (Honduras), Animal Político y Mexicanos Contra la Corrupción y la Impunidad (México), Confidencial y República 18 (Nicarágua), Ojo Público (Peru), El Surti (Paraguai), La Diaria (Uruguai) e tres jornalistas investigativas da (Bolívia y España/Colombia); as organizações de pesquisa digital Cazadores de Fake News (Venezuela), Fundación Karisma (Colômbia), Interpreta Lab (Chile), Lab Ciudadano (Honduras) y DRFLab (EUA); alunos do curso de mestrado Using Data to Investigate Across Borders do professora Giannina Segnini (Universidade de Columbia, EUA), com a coordenação do Centro Latinoamericano de Investigación Periodística CLIP. Análise e a consultoria jurídica: El Veinte.
Com o apoio financeiro da Free Press Unlimited, o programa Redes contra el silencio (ASDI), Seattle International Foundation e Rockefeller Brothers Foundation.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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