Sucessão na Câmara tem reviravolta; Lula e Lira alinham 'nome de consenso'
A disputa pela presidência da Câmara ganhou novos contornos na noite desta terça-feira (3). O presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), deixou a disputa em favor de uma costura em torno do correligionário Hugo Motta (PB).
A iniciativa foi definida em acordo com o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), que busca há meses apoio para uma candidatura única. Lira agora tenta convencer o colega Elmar Nascimento (União-BA) a desistir da disputa em favor de Motta.
Elmar é o nome preferido por Lira para ocupar o cargo. Ele, no entanto, enfrenta resistências de parte dos colegas, em especial da base governista.
A articulação em torno do nome de Motta se dá devido à resistência do presidente do PSD, Gilberto Kassab, em retirar a candidatura do deputado Antônio Brito (PSD-BA) da disputa em favor de Marcos Pereira. A expectativa é que a indicação de Motta promova o consenso entre diferentes alas que se opõem ao presidente do Republicanos no comando da Casa.
Marcos Pereira se reuniu com Lula nesta terça — o segundo encontro com o presidente em duas semanas — e, segundo apurou o UOL, ouviu do petista que o governo não se opõe ao nome de Hugo Motta. O Republicanos integra o governo: o ministro Silvio Costa Filho ocupa a pasta de Portos e Aeroportos.
Consenso mais fácil em torno de Motta
Uma ala que se posicionava contra a eleição de Marcos Pereira tem feito pressão ao longo dos últimos meses para que ele saísse da disputa em favor de Hugo Motta. O entendimento é que seria mais fácil fechar consenso em torno do deputado do que do presidente do partido e, assim, manter o acordo para que a legenda ocupe a presidência na próxima legislatura.
Um líder político diz que, pelas contas atuais, Marcos Pereira teria apenas cerca de 50 dos 513 votos dos deputados, enquanto Elmar e Brito teriam 150 cada.
Lira pretendia anunciar o apoio a Elmar nesta quarta. A eleição está marcada para fevereiro de 2025, mas a sucessão influencia o jogo de forças dos partidos.
"Apelo de vários líderes", diz Pereira
Marcos Pereira divulgou uma nota na manhã desta quarta confirmando a sua desistência da disputa pela presidência da Câmara dos deputados. "Recebi nesta terça-feira (3) um apelo de vários líderes de partidos que não possuem candidaturas para que, em prol do Brasil, buscasse uma solução consensual que unifique a Câmara com serenidade, diálogo e previsibilidade", afirmou.
Abri mão de minha candidatura e decidi colocar ao presidente Arthur Lira a opção do líder da bancada do Republicanos, Hugo Motta, para que ele seja o nome de consenso entre todas as alas políticas do plenário.
Marcos Pereira (Republicanos-SP)
Na nota, Pereira não cita o presidente Lula e faz gestos de respeito a Lira, afirmando que a sua decisão se deu "em prol da Câmara, de todos os deputados e do Brasil."
Discussões ao longo do dia
Líderes partidários tiveram diversas reuniões ao longo do dia em Brasília. Kassab se reuniu com Lula para discutir a sucessão e ouviu um pedido para tirar a candidatura de Brito. A resposta foi negativa.
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Quero receberNa sequência, os três postulantes se encontraram: Marcos Pereira, Brito e Isnaldo Bulhões Jr. (MDB). A tendência era dos dois primeiros manterem seus nomes. Isnaldo era considerado sem chance e lançava seu nome para valorizar o passe do MDB.
Durante a noite as tratativas tomaram um novo rumo. Para usar o termo político, Marcos Pereira resolveu "fazer um gesto". Ele abriu mão da disputa na expectativa de que os demais pré-candidatos façam o mesmo por um nome de consenso e a presidência da Câmara fique com o Republicanos.
A situação não é ruim para o Planalto. O partido tem ministros, não há resistência de Lula, e Marcos Pereira havia sinalizado que aceitaria fazer o "L de Lula e de Lira" para ser presidente.
Tarcísio entra em cena
O acordo no Republicanos teve o dedo do maior expoente do partido, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Ele entrou em campo com o principal objetivo de tornar um deputado do Republicanos o próximo presidente.
Marcos Pereira resistia a ceder a vaga a outro parlamentar do partido. Ele sempre sonhou com o cargo e havia dito nos bastidores que "era agora ou nunca".
Hugo Motta sempre foi apontado como um nome com mais chances de angariar apoio. Para não alimentar uma possibilidade de traição, Pereira prometeu o comando do partido a Motta caso vencesse a disputa.
Reviravolta expõe Lira
Ao longo do ano, Lira tem atuado para ter o controle sobre sua sucessão. Ele foi reeleito para liderar a Casa com uma votação expressiva — 464 dos 513 deputados.
A eleição do indicado por ele era considerada uma demonstração de força do parlamentar até o fim do mandato.
No entanto, a falta de consenso em torno de Elmar — que é um amigo pessoal de Lira — deixou o presidente da Câmara exposto.
Lira havia dito que anunciaria até o fim de agosto o nome que iria apoiar, e todas as sinalizações apontavam pra Elmar. Os outros candidatos, no entanto, não tinham cedido até então; por diversas vezes disseram que não deixariam a disputa.
A fim de reduzir as resistências, Lira se reuniu com Lula, Jair Bolsonaro e outros caciques partidários. Não houve jeito e agosto terminou sem a indicação do nome do sucessor.
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