Wálter Maierovitch

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Opinião

Israel x Hamas: Lula perdeu a chance de mostrar valores do povo brasileiro

O Hamas atacou Israel, matando civis, velhos, mulheres e crianças às pencas.

Matar crianças é visto pelos civilizados laicos um mal absoluto. Para algumas religiões, um pecado mortal: "Quem toca nas crianças não será perdoado".

Assassinar crianças, como feito pelo Hamas, é covardia hedionda. Terrorismo e barbarismo no mais alto grau.

Em Kfar Aza, numa cooperativa agrícola de modelo familiar (kibutz), a moradia-sede foi incendiada. Quem deixou a casa em chamas foi metralhado. Aqueles que ficaram morreram asfixiados pela fumaça e carbonizados.

Por outro lado, cortar água, luz e combustível, como faz Israel, é de muita gravidade no campo dos direitos humanos internacionais. Mais ainda, bombardear Gaza como represália, sem pensar na população civil que não é terrorista, é crime contra a humanidade.

A mensagem de Lula

Diante desse quadro de tragédia, o presidente Lula focou na sua nota apenas nas crianças.

Presidente brasileiro de turno do Conselho de Segurança da ONU, Lula não usou o termo terrorismo ao mencionar o Hamas. Velhos, doentes, mulheres, gente hospitalizada e população civil em geral ficaram fora da nota.

Lula agiu como presidente de um Conselho Tutelar, previsto na lei brasileira para a defesa de crianças e adolescentes. Não foi um presidente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. O petista mostrou-se pusilânime.

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Ao falar em intervenção humanista e cessar-fogo, Lula parece desconhecer que um "corredor humanitário" está sendo preparado pela ONU, com sinal verde do Egito.

Lula perdeu uma grande oportunidade para mostrar os valores ético-morais do povo brasileiro.

Nem reparou em Joe Biden, que arrisca não lograr a celebração de acordo entre Arabia Saudita e Israel. E os sauditas exigem, como Biden, a imediata criação de dois Estados, como previsto pela própria ONU, em 1947.

Biden, e Lula não percebe, perde na campanha eleitoral democrática, sem esse novo Acordo Abraânico entre Israel e Arabia Saudita.

O democrata Biden — e nos bastidores da Casa Branca corre não poder ele ver Bibi Natanyahu nem pintado de ouro — não tem nada a mostrar para contrastar com as trapalhadas republicanas de Donald Trump. O ex-presidente reconheceu, numa provocação aos árabes, Jerusalém como capital de Israel e fechou os escritórios da Autoridade Nacional Palestina em Nova York. Não bastasse, foi incentivador do crescimento dos assentamentos na Cisjordânia, área não israelense, ocupada na Guerra dos Seis Dias, em junho de 1967.

Lula nem atentou aos movimentos, nos campos da geopolítica e do Direito Internacional, de Qatar, Egito e Turquia. Esses países reprovam, embora silenciosamente, os ataques terroristas do Hamas.

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Com isso, Lula não se dá conta que as posições de Qatar, Egito e Turquia podem isolar Hamas e o cúmplice Irã. E a Arábia Saudita poderá fechar com o bloco costurado pela Turquia.

Num pano rápido: o Brasil começa mal a sua presidência de turno. Já é visto, até pelas ambiguidades de Lula na questão da Ucrânia, como um Estado anêmico, sem forças, que ainda não se recuperou internacionalmente da posição de pária, ostentada ao tempo da presidência de Jair Bolsonaro.

Gaza é uma prisão a céu aberto

Atenção ao cenário. Na pequena Faixa de Gaza vivem 2,3 milhões de pessoas. É um das mais altas densidades populacionais do planeta.

Metade da população de Gaza tem menos de 18 anos. Do total populacional, 40% têm menos de 14. Os refugiados somam 1,4 milhão.

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Para piorar, 97% da água disponível nas casas e nas ruas não é potável. Metade da população é pobre e carece da ajuda humanitária externa. Não existe emprego para 64% da população.

Nesta semana, a União Europeia, em razão dos ataques terroristas do Hamas, ensaiou suspender a ajuda para o desenvolvimento econômico de Gaza, mantida apenas a humanitária. Foram assustadores os debates noticiados pela mídia europeia, mas, por pressões dos estados-membros — à frente a Alemanha —, restaram mantidos os dois tipos de auxílio.

A Faixa de Gaza está há 16 anos sob bloqueio de Israel, por terra, ar e mar.

Israel está entre os Estados nacionais a não subscrever o Tratado de Roma, criador do TPI (Tribunal Penal Internacional). O TPI, aprovado por 120 estados-membros da ONU, tem competência para julgar crimes contra a humanidade, de guerra, genocídio e de agressões internacionais. Os setes Estados-membros fora da jurisdição internacional são os seguintes: Israel, EUA, China, Índia, Turquia, Filipinas e Sri Lanka.

O braço político do Hamas governa ditatorialmente Gaza. O bloqueio por parte de Israel decorreu do fato de o braço terrorista do Hamas — parte adestrado no Irã — atacar e colocar em risco a segurança de Israel. Já foram usados, entre a Primeira Intifada, onde nasceu o Hamas em 1987, e a Segunda Intifada de 2001, um período de utilização de homens-bombas.

A escritora Amira Hass, no seu livro Drinking the sea at Gaza, mostra o inferno da vida em Gaza e, também, o vespeiro político decorrente do fato de lá estar o quartel-general de uma organização terrorista cuja meta é varrer Israel do mapa.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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