Netanyahu engana com o discurso de que o Hamas ameaça existência de Israel
O presidente norte-americano Joe Biden e o primeiro ministro inglês Rishi Sunak, — como se sabe pela boca-rota das agências de inteligência do Ocidente — estiveram em Israel para exigir moderação do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
O discurso dos representantes americano e britânico é o de apoio a Israel e do dever de fraternidade, após o ataque terrorista contra civis inocentes realizado pelo Hamas. O discurso serviu apenas para encobrir o real objetivo das visitas que é o receio, perante a opinião pública internacional, de Israel partir para a imoderação e passar da posição de estado nacional vitimado para a de sanguinário vilão vingativo.
Como consequência direta desse excesso israelense, é alargar o conflito e o envolvimento, num primeiro momento, do libanês Hezbollah e da Síria, cujo ditador, representante de uma minoria islâmica alauita, não caiu pelo apoio bélico da Rússia de Putin.
Ambos os visitantes estavam preocupados com a promessa de Netanyahu de aniquilar para sempre o Hamas.
Responsável direto pela falha na segurança do seu país em face ao ataque terrorista do 7 de outubro, Bibi Netanyahu usou, para tentar uma sobrevida política, frases de efeito, embora irracionais. Ele procurou evocar a paixão nacional, mexer com feridas não cicatrizadas e despertar o ódio e o desejo de vingança contra o agressor.
Os assessores militares de Biden e Sunak alertaram a respeito da estratégia de iminentes ataques por terra, a partir do norte da faixa de Gaza. Tudo como planejado e, ainda desejado, pelo ministro da defesa israelense, Yoav Gallan.
Conforme os assessores militares americanos e britânicos, um ataque de Israel por terra resultaria numa chacina a vitimar a população palestina, sem afetar a estrutura subterrânea do Hamas — que é real e toda servida por enterradas fibras de vidro, a impedir interceptações e escutas pelo Shin Bet, serviço de espionagem interno de Israel e pelo Mossad, serviço secreto de inteligência externo.
Para os assessores políticos essa ofensiva seria um convite a reações unidas do mundo árabe e do Irã, que não é árabe, mas persa. Sem esquecer do apoio da Rússia e China à causa palestina, com Putin a tentar aproximar a Arábia Saudita do Irã, já dado um exitoso primeiro passo.
Biden, com esforço, conseguiu suspender a iniciativa do ataque por terra, que tinha dia hora e marcados e já aviso para a população palestina deslocar-se para a região do Sinai.
No telefonema de Biden para o presidente do Egito, este protestou, pois ficaria numa "sinuca de bico": na hipótese de manter fechada a saída pelo vale de Rafah estaria caracterizada a sua corresponsabilidade. Caso determinasse a abertura, cerca de 2 milhões de palestinos, entre eles integrantes do Hamas, penetrariam no Egito, que não teria condições de abrigá-los: "que fiquem abrigados no deserto israelense de Neguev", teria dito Al Sisi, presidente do Egito.
O presidente egípcio teve de reprimir o braço terrorista da chamada Irmandade Muçulmana. Não quer o Hamas clandestinamente no seu território.
Tão logo Biden e Sunak deixaram Israel, operadores dos direitos humanos internacionais apontaram para a farsa da liberação dos 20 caminhões com recursos de sobrevivência. Isso não atente às necessidades e o risco de a carga de suprimentos cair sob controle do Hamas não legitima, à luz do Direito das Gentes, sacrificar a população civil.
Sob pressão e com baixa aprovação dos cidadãos israelenses, o populista Bibi Netanyahu voltou ao plano insano da invasão por terra de Gaza. Seu discurso é que sem eliminar o Hamas o povo judeu nunca terá paz e sossego. Mais ainda: seria questão de sobrevivência. Bibi, então, foi visitar na sexta o batalhão estacionado ao norte da Faixa de Gaza. Aos soldados pediu que combatessem "como leões", um convite à irracionalidade. Matar, matar e matar, ainda que crianças, velhos e mulheres.
Newsletter
OLHAR APURADO
Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do UOL sobre os principais assuntos do noticiário.
Quero receberPara completar, Bibi, na despedida de Sunak, aditou a frase de o Hamas representar "o novo Isis". Acrescentou: "Devemos combater em conjunto, uma batalha do mundo civilizado". Em outras palavras, quer apoio do Reino Unido na sua aventura de invadir Gaza por terra.
No particular, a lição deixada por Biden ao falar dos erros do 11 de setembro e da errônea reação emocional, não foi absorvida por Netanyahu.
Vale destacar que para exterminar o Hamas, Bibi terá de bombardear subterraneamente Gaza. O Hamas habita o subterrâneo de Gaza, com infinitos túneis de comunicação. Em outras palavras, destruir a superfície e o subterrâneo de uma cidade habitada por mais de 2,3 milhões de seres humanos.
Aos poucos, Bibi coloca de lado a promessa de salvar os reféns. Parte prepara-se para fazer de Gaza "terra arrasada".
Um ataque terrestre colocará todos os reféns em risco. Até como represália por parte do Hamas, que é terrorista e não tem escrúpulos. A liberação ocorrida ontem de dois reféns foi estratégica da parte do Hamas, com falso discurso humanitário. Como demostrou no 7 de outubro, o humano não conta ao Hamas.
Com responsabilidade, sem Bibi que deslocou a segurança para proteger a expansão ilegal e ilegítima de novos assentamentos na Cisjordânia, Israel conseguirá contrastar o Hamas.
Pano rápido. Bibi Netanyahu engana com o discurso da destruição de Israel.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.