Confira os erros de Nunes, Boulos, Marçal e Tabata no debate UOL/Folha
O debate UOL/Folha entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo, realizado hoje, foi mais uma vez marcado por declarações falsas e distorcidas por parte dos políticos.
Leia a seguir a checagem do UOL Confere:
Ricardo Nunes (MDB)
A gente precisa ter muita clareza, ninguém acerta em tudo. Não existe mudança em posicionamento, fizemos uma grande ação durante a pandemia. Nos tornamos capital mundial da vacina, a única questão é que hoje eu vejo que não faz muito sentido você ter que usar um passaporte [vacinal] para ir em uma igreja, para entrar em um restaurante.
FALSO. Não é verdade que Nunes não mudou de posicionamento. Durante a pandemia, ele defendeu o passaporte vacinal, e instituiu o mecanismo como controle de acesso a estabelecimentos em 2021 para eventos com mais de 500 pessoas, e também em 2022, quando passou a exigir a comprovação de duas doses (leia aqui e aqui). Recentemente, ao participar do podcast do bolsonarista Paulo Figueiredo, Nunes fez declarações contrárias às medidas adotadas pelo seu próprio governo para conter a pandemia. Na ocasião, ele disse que é contra a vacinação obrigatória. Três dias depois, disse que errou ao instituir o passaporte da vacina.
Quando diz que São Paulo se tornou a capital mundial da vacina, Nunes se refere a uma matéria publicada na revista Forbes em janeiro de 2022 com o título "como São Paulo se tornou a capital mundial da vacina" (aqui).
Quantas UPAs tinha até 2016? Três. Quantas tem hoje? Trinta e uma. Eu entreguei dezenove. Esse ano, eu ainda entrego mais duas.
IMPRECISO e EXAGERADO. O governo Fernando Haddad (PT), que ficou até 2016, inaugurou três UPAs, incluindo a primeira da cidade de São Paulo (aqui), mas ele deixou outras 12 em obras, que acabaram sendo inauguradas nas gestões seguintes (aqui, aqui, aqui e aqui).
No começo da campanha, Nunes dizia que tinha entregue 18 UPAs (Unidade de Pronto Atendimento), fala que já tinha sido checada pelo UOL Confere antes, que não localizou as então 18 unidades. Agora, ele afirma serem 19.
Anteriormente, ao ser questionada, a prefeitura enviou uma lista que incluia três unidades que não foram inauguradas pela gestão Nunes ou foram reformadas. São elas: a UPA Jabaquara, inaugurada em abril de 2020, quando Bruno Covas era prefeito (aqui); a UPA 24H Vera Cruz, inaugurada em 2018 pela gestão João Doria (aqui) —a gestão Nunes diz que entregou uma ampliação da unidade; e a UPA Santo Amaro, lançada em 2018 pela administração Covas, mas que mudou de endereço em 2024 (aqui).
A 19ª seria a UPA Jardim Helena, entregue no dia 19 de setembro. Porém, a unidade já existia e funcionava como uma AMA (Assistência Médica Ambulatorial), passando agora a atender no modelo de UPA.
O que houve [sobre a suspensão do serviço de aborto legal] foi uma forma de ajuste por técnicos, por médicos, aonde poderia ser feito o atendimento da legislação para que o Hospital da Cachoeirinha fosse liberado para fazer a cirurgia de endometriose
DISTORCIDO. A prefeitura suspendeu o serviço de aborto legal no Hospital Vila Nova Cachoeirinha em dezembro de 2023 alegando suspeitas de irregularidades, mesmo que não houvesse registro de denúncias deste tipo sobre a unidade (leia aqui). A prefeitura é investigada por acessar prontuários com dados sigilosos de pacientes (aqui). O hospital era um dos únicos no país que não condicionava o limite gestacional em 22 semanas para realizar o procedimento. A legislação brasileira não estabelece esse limite, que inclusive, é desaconselhado pela OMS como condição para acesso ao procedimento.
Em registros no site da própria prefeitura é possível encontrar textos que afirmam que o Hospital Vila Nova Cachoeirinha é referência no tratamento cirúrgico da endometriose profunda desde 2017, pelo menos (aqui). Já segundo o site do Hospital Vila Nova Cachoeirinha, a unidade se tornou referência a partir do Fórum de Estratégias no Combate à Endometriose na Rede Pública Municipal, que aconteceu no dia 2 de setembro de 2022. Ambos os registros são, portanto, anteriores à suspensão do serviço de aborto legal na unidade (aqui).
Guilherme Boulos (PSOL)
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Quero receberEle [Ricardo Nunes] havia prometido o maior programa de moradia. Entregou 8.000.
FALSO. Uma das metas do Plano de Metas da Prefeitura de São Paulo (aqui) é garantir 49.000 moradias de interesse social na capital paulista. Conforme a plataforma, até 2023 já foram entregues ou contratadas 33.422 unidades. Porém, o site da prefeitura não detalha quantas já foram, de fato, entregues à população. Conforme o site g1, até julho de 2023, foram ofertadas 20.670 casas, número superior ao dito por Boulos no debate (aqui).
[Nunes] Havia prometido 40 km de corredor [de ônibus], entregou 4 km
IMPRECISO. A gestão Nunes já entregou 6,8 quilômetros de corredores de ônibus, diferentemente do afirmado por Boulos. As informações constam no acompanhamento do Plano de Metas da Prefeitura de São Paulo (aqui). Desses, 4,1 quilômetros são apenas do corredor para a zona leste (aqui), entregue em 4 de julho deste ano.
São Paulo tem hoje o maior Orçamento da sua história, R$ 112 bilhões. Em quatro anos, qual é o legado que ele deixou? Tenta pensar, você que está assistindo. Com o maior Orçamento da história. E pior, ano passado conseguiu fazer déficit de mais de R$ 5 bilhões.
IMPRECISO. O déficit orçamentário da Prefeitura de São Paulo ficou em R$ 6,3 bilhões, segundo relatório técnico do balanço geral de 2023, do departamento de contadoria da prefeitura (aqui, na página 26, e aqui). O Orçamento da prefeitura em 2024, de fato, é próximo do apresentado por Boulos. Neste ano, está em R$ 111,8 bilhões.
Pablo Marçal (PRTB)
Minha esposa transferiu o título [domicílio eleitoral para São Paulo], acho que vocês precisam da uma olhadinha nisso
FALSO. A esposa Marçal, Ana Carolina de Carvalho Marçal, não transferiu o título de eleitor para São Paulo. Portanto, não votará no marido para prefeito da capital paulistana. A colunista do UOL Thais Bilenky questionou o ex-coach sobre o assunto. Ele afirmou que a esposa transferiu o título para a capital paulista. Contudo, a própria jornalista teve acesso à certidão da Justiça Eleitoral. O documento mostra que a mulher de Marçal vota em Santana do Parnaíba (SP) (aqui).
Você [Boulos] é o candidato mais rico aqui nesse debate, como aquele que defende as causas dos mais pobres hoje com seu dinheiro, com dinheiro público, bateu teto eleitoral, não sei se chegou a R$ 67 milhões, mas a R$ 66 milhões contra campanha igual a nossa com R$ 4 milhões só de doação de pessoas que podem ajudar
IMPRECISO. No site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), é possível ver que Boulos de fato declarou ter recebido R$ 65.662.114,03 de recursos recebidos para a campanha (aqui). Contudo, Marçal recebeu mais do que os R$ 4 milhões ditos por ele. O total líquido de recursos recebidos declarados até o momento foi de R$ 6.181.228,27 (aqui).
Os nomes Espraida, Hospital do Servidor e algumas coisas mais que eu vou trazer esta semana? eu prometi postar na última semana, e vou falar sobre isso. (...) Pergunta para o Guilherme Boulos. Ele disse que nunca usou cocaína nem usou maconha? nenhuma droga?
INSUSTENTÁVEL. No debate, a repórter da Folha de S.Paulo Júlia Barbon questionou Marçal sobre as acusações, sem provas, que ele tem feito contra Boulos de usar cocaína. Em resposta, o ex-coach falou: "Os nomes Espraiada, Hospital do Servidor e algumas coisas mais que eu vou trazer esta semana? eu prometi postar na última semana, e vou falar sobre isso". Ele não explicou a que se referia. Boulos, então, afirmou que Marçal usou o processo de um homônimo sobre porte de drogas, como revelou a Folha (aqui).
"Agora, quando ele [Marçal] cita o Hospital do Servidor, ele está se referindo a um período, quando, com 19 anos, eu enfrentei uma depressão crônica. Nunca disse isso publicamente, porque não cabe. E fiquei alguns dias no hospital do servidor (...) Lidei com ela, venci a depressão e segui em frente (...) Isso pode ser confirmado nos prontuários do hospital, e será", disse o candidato do PSOL.
Em outro momento, após uma pergunta direta de Marçal sobre uso de drogas, Boulos afirmou que nunca usou cocaína. "Não uso drogas. E já que ele quer saber, este é o nível lamentável, maconha experimentei, me deu uma dor de cabeça danada e nunca mais" (aqui).
Tabata Amaral (PSB)
A coisa mais bonita que eu tenho para trazer da minha história é o tanto de projeto que eu aprovei: o Pé-de-Meia, R$ 200, mais R$ 1.000 por ano que está transformando a vida de quase 3 milhões de jovens; absorventes que a gente lutou para colocar na escola; as vacinas para professores no auge da pandemia; marco legal das startups; mudanças climáticas. Não vou falar aqui dos 20 projetos.
DISTORCIDO. Como apurado pela colunista do UOL Andreza Matais (aqui), Tabata dize ser autora de propostas apresentadas por outros deputados. Ela, por exemplo, não é a única autora da Lei Pé-de-Meia e de demais projetos citados (aqui) (aqui). Em consulta ao site da Câmara dos Deputados, em 2024, são listados três projetos em seu nome ou autoria (aqui). É possível acompanhar os trabalhos da candidata na Câmara (aqui).
Ao ser questionada sobre a reportagem do UOL em outra pergunta, Tabata rebateu. "Quem tiver qualquer dúvida digita Pé-de-Meia e vê quem é autora do projeto. Quem tiver qualquer dúvida, procura todos autores da lei de distribuição de absorventes. A pessoas não são bobas".
São Paulo bateu recorde de feminicídio nesse ano, já foram 25 feminicídio
IMPRECISO. Na cidade de São Paulo, de janeiro a junho, foram 28 casos de feminicídio, segundo estudo divulgado pelo Instituto Sou da Paz (aqui), com base nos dados da SSP (Secretaria da Segurança Pública).
Quem votou no Pablo Marçal para deputado na última eleição acabou elegendo um deputado do PT, sabe por quê? Porque ele fez tanto esquema na campanha, contratou uma empresa que era dele e os votos dele foram anulados.
DISTORCIDO. De fato, o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) assumiu a vaga de Marçal nas eleições ao cargo em 2022. No entanto, a candidatura do ex-coach foi indeferida pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), por falta de apresentação de documentos (aqui).
Em 5 de julho deste ano, a Polícia Federal fez operação em São Paulo contra crimes eleitorais, e Marçal foi um dos alvos. Ele é investigado pelos supostos crimes de falsidade ideológica eleitoral, apropriação indébita eleitoral e lavagem de capitais nas eleições de 2022, quando lançou sua candidatura ao Planalto. A PF suspeita que o candidato e seu sócio Marcos Oliveira tenham feito doações de R$ 1,7 milhão à campanha e gastado o dinheiro com serviços de suas próprias empresas (aqui), mas não foi por isso que ele não assumiu como deputado.
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