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Em última abordagem aos jurados, promotor diz que Gil Rugai tem perfil de psicopata

Janaina Garcia e Ana Paula Rocha

Do UOL, em São Paulo

22/02/2013 12h48Atualizada em 22/02/2013 14h48

Uma pessoa agressiva e de personalidade dupla, a ponto de beirar a psicopatia, foi o perfil traçado pelo promotor Rogério Zagallo, nesta sexta-feira (22), sobre o réu Gil Rugai, 29.

A exposição feita pela acusação no último dia de júri do estudante, acusado de matar o pai e a madrasta há nove anos, foi feita pela primeira vez diretamente ao corpo de jurados --composto por cinco homens e duas mulheres.

Resumo do julgamento

"Estou cansado, foram cinco dias [de júri]. Foi o Gil Rugai", encerrou o promotor olhando para cada um dos sete jurados, ao finalizar sua fala.

Zagallo teve uma hora e meia para pedir uma última vez aos jurados que condenem o acusado. Após um intervalo de 15 minutos, a defesa do réu terá o mesmo tempo para pedir que Rugai seja absolvido.

O promotor insistiu em pontos como o fato de Gil Rugai possuir arma de fogo, o que foi negado pelo réu, bem como na ameaça que ele representaria ao pai, Luiz Carlos Rugai, e à madrasta, Alessandra Troitino.

Para falar da personalidade do réu, o promotor usou trecho de uma reportagem de TV que mostra Gil Rugai na manhã seguinte ao crime chegando à casa onde aconteceu o crime. Acompanhado da mãe, Maristela Grego, ele pergunta a policiais que cercavam a casa sobre o calibre e outras especificidades da arma usada para matar o casal.

Gil Rugai ameaçou namorada de garçom, diz promotor

Zagallo também recorreu a relatos de pessoas que tinham proximidade com o réu, entre elas o casal que foi jantar com o estudante na noite do crime, por volta das 23h. De acordo com uma destas testemunhas, ouvidas na época do inquérito, Gil Rugai paquerava um garçom de um restaurante que ele frequentava diariamente, salvo quando o funcionário estava de folga.

O promotor apresentou aos jurados o depoimento da namorada do garçom, dado à época da investigação, no qual ela afirma ter sido agredida por Gil Rugai com uma garrafa de vinho.

À ocasião, segundo ela, o estudante tinha luvas cirúrgicas, e disse que elas serviriam para "matar namoradas inconvenientes".

Trechos de depoimentos de amigos lidos pelo promotor apontam ainda que ele "bebia bastante", e já havia oferecido maconha a alguns deles --entre os quais o garçom, que apelidara o cliente "Pio". O rapaz, inclusive, disse à polícia que "sempre percebeu que o Gil não tinha afeto pelo pai".

Emails mostram receio de vítimas

Funcionários da Referência Filmes, do pai do réu, também afirmaram que o estudante era frio em relação a Luiz Carlos. Um deles, de nome Eliseu, comentou que certa vez, ao falarem sobre o gosto do empresário por corridas de motos, ouviu do jovem: "Eu seria mais feliz se meu pai morresse".

Para confirmar a tese de que as vítimas estariam desconfiando de desfalques na produtora feitos por Gil, que teria falsificado cheques, o promotor citou emails enviados por Alessandra dias antes do crime. 

Um deles foi endereçado à gerente responsável pela conta bancária da produtora, em uma agência na Praça Charles Miller, zona oeste da cidade. Nesta correspondência Alessandra pedia que fossem feitas microfilmagens dos cheques emitidos pela empresa.

Ela teria escrito: "Estamos enfrentando problemas difíceis devido à falsificação de cheques". Em emails enviados a amigos ela também confirmou o problema, e fez uso de expressões como "a coisa aqui na agência está preta, tivemos muitos problemas sérios, tipo desvio de grana".

Entenda o caso

O ex-seminarista Gil Rugai, 29, é acusado de tramar e executar a morte do pai, o empresário Luiz Carlos Rugai, 40, e da madrasta, Alessandra de Fátima Troitino, 33, em 28 de março de 2004.

O casal foi encontrado morto a tiros na residência onde morava no bairro Perdizes, zona oeste de São Paulo.

Segundo a acusação, o crime foi motivado pelo afastamento de Gil Rugai da empresa do pai, a Referência Filmes. O ex-seminarista estaria envolvido em um desfalque de R$ 100 mil e, por isso, teria sido demitido do departamento financeiro.

Durante as perícias do crime foram encontrados indícios que, segundo a acusação, apontam Gil Rugai como o autor do crime. Um deles foi o exame da marca de pé deixada pelo assassino numa porta ao tentar entrar na sala onde Luiz Carlos tentou se proteger.

O IC (Instituto de Criminalística) realizou exames de ressonância magnética no pé de Rugai e constatou que havia lesões compatíveis com a marca na porta.

Outra prova que será apresentada pela acusação foi uma arma encontrada, um ano e meio após o crime, no poço de armazenamento de água da chuva do prédio onde Gil Rugai tinha uma agência de publicidade.

O exame de balística confirmou que as nove cápsulas encontradas junto aos corpos do empresário e da mulher partiram dessa pistola.

O sócio de Rugai afirmou que ele mantinha uma arma idêntica em uma gaveta da agência de publicidade e que não a teria visto mais lá no dia seguinte aos assassinatos.

Gil Rugai chegou a ser preso duas vezes, mas foi solto por decisões da Justiça.