Mal-estar de jurado ameaça julgamento do Carandiru; TJ-SP não descarta novo cancelamento
O Tribunal de Justiça de São Paulo informou às 11h desta quinta-feira que adiou para o início da tarde a avaliação médica de um dos jurados do julgamento de PMs do massacre do Carandiru. Em nota distribuída à imprensa no Fórum da Barra Funda, a assessoria do tribunal informou que não foi possível retomar os trabalhos do júri de manhã e citou, pela primeira vez, a possibilidade de dissolução do conselho de sentença.
Caso isso ocorra, as atividades já realizadas desde a última segunda-feira (15) serão canceladas, e nova data para o julgamento dos PMs terá de ser definida pelo juiz do caso, José Augusto Marzagão.
A avaliação médica estava marcada para a manhã de hoje para definir se o júri popular de 26 policiais militares acusados de matar 15 presos no pavilhão 9 do Carandiru, há mais de 20 anos, seria retomado ou adiado pela terceira vez em menos de três meses --a segunda, em dez dias. Se retomada a sessão, o destaque do dia serão os interrogatórios de quatro dos 26 réus (24 presentes).
A equipe de médicos, que pertence ao TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), é responsável pela saúde de um dos jurados do júri dos PMs. O rapaz teve um mal estar na quarta-feira (17), terceiro dia de julgamento, e a sessão teve de ser suspensa antes mesmo de começar, às 9h, no Fórum Criminal da Barra Funda (zona oeste de São Paulo).
Se o jurado for considerado apto a retornar ao Conselho de Sentença, o julgamento recomeça com a expectativa de o veredito ser lido nesta sexta (19). Mas, se os médicos refutarem as chances de retorno do jurado, o conselho é desfeito, todo o trabalho do júri em dois dias é cancelado e nova data é designada, com nova tomada de depoimentos.
Ontem, em entrevista coletiva concedida no final da tarde, o juiz José Augusto Nardy Marzagão não especificou qual o mal estar do jurado. "Seria leviano da minha parte dizer qual seria a enfermidade", disse, pouco depois de mencionar que o jovem "não demonstrou qualquer tipo de sintoma a mim".
“Cheguei pela manhã, fui conversar com os jurados e percebi que um deles não estava se sentido muito bem. Como isso tinha ocorrido em outra ocasião, por precaução solicitei equipe médica, que recomendou que ele fosse ao ambulatório. Os médicos disseram que ele teve um mal estar e precisa de repouso”, disse o juiz.
De acordo com o magistrado, porém, a situação “não significa que há uma gravidade”. “Se fosse assim, o júri seria cancelado, como foi em 8 de abril”, afirmou.
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Indagado se se sentia frustrado por uma suspensão ocorrida por razões semelhantes às que ensejaram, há dez dias, adiamento do júri, Marzagão respondeu: “De forma alguma. Acreditamos que ele vá se restabelecer e voltaremos com os trabalhos, mas seria uma grande irresponsabilidade colocar em risco a saúde do jurado”, declarou, para concluir: “Se for necessário cancelar o júri, ele será cancelado, mas não é o nosso desejo”, ressalvou o juiz, lembrando que, se a hipótese se tornasse realidade, “todo o tranalho seria perdido”.
Na segunda e na terça, ao todo, 11 testemunhas de acusação (cinco) e defesa (seis) depuseram, entre as quais, sobreviventes do massacre, por parte da promotoria, e o ex-governador de São Paulo, Luiz Antonio Fleury Filho, pelos PMs.
Ontem, seria feita leitura de peças do processo e teria início o depoimento de réus --quatro dos 26 (24 estão presentes ao júri) falariam.
A previsão do magistrado é que, se retomado nesta quinta, o julgamento seja encerrado até sexta-feira (19).
O primeiro adiamento havia sido em janeiro, mas sem que os trabalhos de júri sequer tivessem começado. Na ocasião, nova data foi pedida por defesa e acusação para que uma outra perícia de confronto balístico fosse realizada pelo IC (Instituto de Criminalística). O órgão negou a possibilidade diante do tempo decorrido desde as mortes.
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