Como a investigação do assassinato de Marielle avançou até agora?
A ação da Polícia Civil do Rio para cumprir, nesta quinta-feira (13), mandados de prisão contra suspeitos do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes, são os desdobramentos mais recentes de uma investigação que completará nove meses sem respostas nesta sexta-feira (14).
O trabalho da Divisão de Homicídios transcorre em meio a forte pressão política. Enquanto policiais civis e promotores do Ministério Público do estado tentam identificar e localizar executores e mandantes do crime, a Polícia Federal realiza uma investigação paralela para determinar se forças políticas tentam interferir no caso.
No fim de novembro, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, disse acreditar que os responsáveis pelo crime fariam parte de "forças satânicas que põe o Rio de joelhos" e de uma "articulação de poderosos".
Após cogitar a federalização do caso, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, vem dando declarações públicas cobrando seu esclarecimento.
Em meio à disputa política entre Estado e União sobre quem assume a investigação do caso, a Divisão de Homicídios vem adotando sigilo --especialmente após o vazamento para a imprensa de que um membro de uma milícia da zona oeste estaria ajudando no caso e acusando políticos locais de ligação com o crime.
Suspeitos identificados
O secretário de Segurança Pública, general Richard Nunes, afirmou em novembro que alguns dos envolvidos no caso já teriam sido identificados. Eles não teriam sido presos ainda porque a polícia teme que, ao capturá-los, outros envolvidos ainda não identificados possam escapar impunemente.
Richard Nunes disse também que gostaria de esclarecer o caso antes do dia 31 de dezembro, data de encerramento da intervenção federal na segurança pública no Rio.
Delator
O jornal "O Globo" divulgou em março que um ex-miliciano supostamente envolvido com a quadrilha suspeita de matar Marielle e Anderson passou a atuar como delator e ajudar a Polícia Civil a encontrar os responsáveis pelo crime.
Ele acusou o vereador Marcello Siciliano (PHS) e o ex-policial Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando da Curicica, de envolvimento. Siciliano negou qualquer envolvimento com o crime, disse que era amigo de Marielle e lamentou sua morte. Curicica está preso.
Investigações paralelas
Uma tática adotada pela Delegacia de Homicídios da capital tem sido usar os depoimentos do ex-miliciano delator para investigar todos os membros da quadrilha e tentar achar evidências de ligação de alguns deles com o assassinato de Marielle.
Ao menos dois suspeitos chegaram a ser presos em julho por envolvimento nos assassinatos de dois rivais da milícia (José Ricardo da Silva e Rodrigo Severo) em 25 de fevereiro de 2017, graças a detalhes fornecidos pelo delator. Apesar de afirmar na época que os dois eram suspeitos de serem pistoleiros e estarem envolvidos com o caso Marielle, a polícia nunca confirmou se eles chegaram a ser formalmente implicados na morte da vereadora ou não.
Um suspeito de assassinar um colaborador do vereador Siciliano também foi preso e investigado por eventual envolvimento no caso Marielle.
Vereadores da Câmara Municipal chegaram a ser ouvidos sobre o crime como testemunhas, mas seus depoimentos não foram divulgados.
Dinâmica do crime
Os assassinatos de Marielle e Anderson ocorreram na noite de 14 de março em um trecho de uma avenida no centro do Rio de Janeiro não coberta por câmeras de segurança. A polícia obteve imagens de câmeras de segurança que mostram dois carros dirigidos pelos pistoleiros que seguem as vítimas após a saída da Câmara em uma reunião política e depois no trajeto para casa.
Porém, as imagens não mostram os rostos dos suspeitos nem o momento exato em que um pistoleiro atira no carro das vítimas ainda em movimento.
Uma reconstituição do crime realizada em maio apontou como os criminosos emparelharam e atiraram no veículo usando uma submetralhadora. Inicialmente a polícia acreditava que havia duas pessoas no carro de onde foram feitos os disparos. A hipótese que ganhou mais credibilidade atualmente é a de que havia três pessoas no veículo.
Outra prova técnica que poderia ser explorada é o encontro da submetralhadora. Uma arma do mesmo tipo e calibre usados no crime (HK MP5 calibre 9 mm) foi apreendida com milicianos em Itaguaí, mas a polícia não revelou a conclusão do exame balístico feito no armamento. Descobriu-se na ocasião que a munição usada no crime era de um lote numeroso desviado antes de chegar à Polícia Federal.
Além disso, na fase inicial da investigação a polícia levou ao Rio um perito em analisar fragmentos de impressões digitais que foram encontrados em cápsulas de projéteis achados na cena do crime. Mas a polícia também não afirmou se a análise foi conclusiva.
A falta de provas materiais técnicas conclusivas como as imagens ou depoimentos de testemunhas que tenham visto os bandidos tem obrigado a polícia a investir na obtenção de um grande número de evidências secundárias que possibilitem uma condenação dos suspeitos no Tribunal do Júri no futuro.
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