Brumadinho: chegada de israelenses dá esperança a famílias de desaparecidos
A chegada de militares israelenses com equipamentos para localizar vítimas do rompimento da barragem da Vale animou parentes de desaparecidos em Brumadinho ouvidos pelo UOL nesta segunda-feira (28). À Folha, o comandante das operações de resgate, Eduardo Ângelo, afirmou que os recursos trazidos "não são tão efetivos para esse tipo de desastre".
Sem conhecer os detalhes técnicos das buscas e agoniados pelo desaparecimento que já dura mais de 72 horas, os familiares em Brumadinho veem, na tecnologia israelense, um novo motivo de esperança.
É o caso da pedagoga Ana Cristina Cardoso Araújo. Ela passou a manhã circulando pelo bairro Parque da Cachoeira em busca de informações sobre o tio Manuel Messias de Souza Araújo, 57.
Ana Cristina acha que ainda seria possível achá-lo vivo. "Apesar de já ter muito tempo, a esperança de encontrar com vida existe. Ele pode estar machucado por aí (na mata)", diz.
"Ficar a vida inteira pensando que ele está debaixo da lama é triste", declara a sobrinha.
Manuel morava com a irmã Vera Lúcia Araújo, mãe de Ana, e o cunhado. Ele dormia quando uma vizinha avisou que a barragem da Vale havia se rompido. Foi acordado e tentou sair, mas não acompanhou os familiares.
"A gente não sabe se ele voltou para pegar um documento e até agora não tem notícia dele", conta a pedagoga.
Casa destruída
A casa da família foi destruída pela enxurrada de lama. "A gente não consegue ver o telhado, não dá para ver a localização exata (da casa). A gente não imaginava que (a lama) chegasse aqui com tanta velocidade e destruição", lamenta Ana.
A mãe e o padrastro dela criavam galinhas e torravam café na propriedade.
"Era uma coisa de roça mesmo. Tudo perdido. Agradecemos a Deus por terem sobrevivido (a mãe e o padrasto), mas é a economia de uma vida inteira construída aqui", relata.
"Pelo menos o corpo"
Moradora do bairro do Tejuco, Cláudia Ferreira também ficou mais esperançosa com a chegada dos israelenses.
Ela está à espera do filho, o jardineiro João Marcos Ferreira da Silva, 25, funcionário de uma empresa terceirizada da Vale.
"Ainda tenho esperanças (de encontrá-lo vivo). Ele pode estar machucado ou desacordado", diz a mãe.
O filho estava no refeitório da Vale no momento do rompimento da barragem. "Se encontrarem pelo menos o corpo já ajudaria bastante. Eu ficaria mais tranquila", afirma.
João Marcos trabalhava havia seis meses na empresa terceirizada. Cláudia recebeu a informação de que a equipe do filho almoçava e teria conseguido escapar do desastre.
"Foi chegando um por um (dos colegas) e nada do meu filho até agora. É muito triste. Não estou dormindo, não estou comendo. Não desce nada", relata.
Cláudia havia visto a morte de um filho há três anos e agora vive o drama do desaparecimento do segundo.
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