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Flordelis interrompe fala de desembargador e diz: 'Sou inocente, me perdoa'

7.nov.2022 - A ex-deputada Flordelis é julgada por júri popular em Niterói (RJ) - Brunno Dantas/Reprodução TJ-RJ
7.nov.2022 - A ex-deputada Flordelis é julgada por júri popular em Niterói (RJ) Imagem: Brunno Dantas/Reprodução TJ-RJ

Do UOL, em Niterói

10/11/2022 17h19

Pela primeira vez durante seu julgamento, a pastora e ex-deputada federal Flordelis se manifestou de maneira vocal. Chorando muito, ela interrompeu o depoimento do desembargador Siro Darlan para reafirmar sua inocência e pedir desculpas a ele —que acompanhou sua trajetória recolhendo crianças, a quem chama de filhos.

Desde o início do depoimento de Darlan, que está presente na sala de julgamento, Flordelis se manteve de cabeça baixa chorando, sem encará-lo. Após o magistrado contar como conheceu a história da pastora, tecendo diversos elogios aos cuidados que tinha com as crianças que abrigava, ela se levantou para deixar o plenário e falou, aos prantos. "Eu sou inocente. Me perdoa, Doutor Siro, me perdoa!".

Em seguida, Flordelis deixou o recinto acompanhada de um dos integrantes de sua defesa.

Antes, Darlan havia contato como conheceu Flordelis, inicialmente alvo de mandado da Vara da Infância e da Juventude, comandada por ele, e fez diversos elogios à pastora.

"O essencial, que é o tratamento digno, a amorosidade, o cuidado de uma família essas crianças tinham. Então nossa equipe continuou monitorando essas crianças, mas agora em outras condições", disse ele.

Com três filhos biológicos do primeiro casamento e mais de 50 filhos afetivos, um ponto que intrigou a polícia durante as investigações foi sobre como Flordelis conseguiu adotar tantas crianças no Brasil, já que o processo é rigoroso e possui uma grande fila no cadastro de adoção. Inquéritos e processos judiciais, além da própria autobiografia da deputada, mostram que grande parte das crianças não foi oficialmente adotada.

O desembargador contou ainda que construiu uma relação próxima com Flordelis e o pastor Anderson do Carmo —marido de Flordelis, assassinado em 2019.

"Flor se tornou uma pessoa conhecida no mundo gospel, artístico e religioso. E eu fui convidado para vários eventos envolvendo a família, como o lançamento do livro em que ela conta essa história, que é uma história belíssima", ressaltou.

Siro Darlan lembrou que Anderson lhe telefonou três dias antes de morrer, para uma negociação política.

"Eu me recordo muito bem que três dias antes de morrer o Anderson telefonou para mim, para dizer que a Flor queria fazer uma reunião comigo. Para que eu encaminhasse, para que ela apresentasse como parlamentar, projetos que beneficiassem crianças e adolescentes", revelou ele.

Siro Darlan conta que considerou a proposta "tentadora", mas não foi possível realizar a reunião, pois estava viajando para férias na França.

Nesta quinta, foram ouvidas três testemunhas que encerraram os depoimentos da acusação. Ao todo está prevista a oitiva de 14 testemunhas convocadas pela defesa. Ainda não há previsão para o término do julgamento.

O que está em julgamento. Começou na segunda (7) o julgamento de Flordelis pela acusação de ter arquitetado o assassinato de seu marido, Anderson do Carmo, morto em 16 de junho de 2019, em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro.

Outras quatro pessoas acusadas de envolvimento no crime também terão o destino decidido por um júri popular. Além de Flordelis, são julgados sua filha biológica Simone dos Santos Rodrigues; a neta Rayane dos Santos Oliveira; e os filhos afetivos André Luiz de Oliveira e Marzy Teixeira da Silva.

O pastor Anderson do Carmo foi assassinado com dezenas de tiros quando descia do carro, no quintal de casa, no bairro de Pendotiba, em Niterói.

A ex-deputada —cassada em razão do envolvimento no caso— é ré por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, associação criminosa, uso de documento falso e falsidade ideológica.

Já Marzy, Simone e André Luiz responderão por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada; e Rayane, por homicídio triplamente qualificado e associação criminosa armada.

O que diz Flordelis. Durante todo o processo, Flordelis negou ter qualquer ligação com a morte do marido. Em live realizada por ela horas antes de ser presa, a pastora e ex-deputada reafirmou sua inocência.

"Caso eu saia daqui hoje, saio de cabeça erguida porque sei que sou inocente. Todos saberão que sou inocente, a minha inocência será provada e vou continuar lutando para garantir a minha liberdade, a liberdade dos meus filhos e da minha família, que está sendo injustiçada."

Em entrevista à imprensa nesta semana, Janira Rocha, advogada de Flordelis, expôs a linha de que Simone Rodrigues foi a única responsável por tramar a morte de Anderson em resposta a supostos abusos cometidos contra ela e suas filhas, netas da ex-deputada.

"Ela sofreu anos isso [abusos] e, quando chegou nas filhas, ela não aguentou. Uma coisa é que ela suportou os abusos porque tinha câncer, dependia do dinheiro para poder fazer seu tratamento de câncer, tinha quatro filhos e não tinha uma alternativa de sair de casa. Mas, quando o abuso chegou nas suas filhas, aí o copo entornou", diz a defensora da ex-deputada.

Os demais acusados dizem que são inocentes.

O que já aconteceu no julgamento: