Topo

'Outra pessoa' no JN, Ciro tem lista de momentos ofensivos na campanha

Do UOL, em Brasília

24/08/2022 04h00

A sabatina com o presidenciável Ciro Gomes (PDT) no "Jornal Nacional" (TV Globo), ontem à noite, começou com um tema que já acompanhou o pedetista em eleições passadas: a fama de agressivo. Perguntado se pretendia unir o país com discursos duros e "até ofensivos", o ex-ministro afirmou que está sempre disposto a reavaliar suas falas e faz um "esforço de humildade permanentemente".

A entrevista correu sem sobressaltos, o que levou o colunista Maurício Stycer, do UOL, a observar que Ciro foi uma pessoa "completamente diferente", usando como parâmetro a participação do político no programa "Roda Viva" (TV Cultura), na semana passada.

Ao longo da campanha, porém, o pedetista não apenas tem feito declarações ásperas contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como também se envolveu em conflitos verbais e quase físicos nos últimos meses.

"Fascistas de vermelho". Os primeiros atritos de Ciro na atual corrida presidencial começaram ainda no ano passado, quando o ex-ministro já vinha se apresentando como candidato. Em outubro de 2021, durante um ato organizado por movimentos sociais de esquerda contra Bolsonaro na avenida Paulista, em São Paulo, o pedetista foi vaiado no momento em que começou a falar no caminhão de som.

No discurso, ele afirmou que o Brasil era maior que o fascismo "travestido de vermelho e de verde amarelo". Na saída, desceu acompanhado de assessores e encontrou militantes hostis. Um deles tentou jogar uma garrafa de bebida no pedetista e foi contido por policiais, enquanto outros atiraram pedaços de madeira no carro que o aguardava.

Xingamentos a bolsonaristas. Já em 2022, Ciro teve dois atritos com apoiadores de Bolsonaro. No final de abril, em um evento do agronegócio em Ribeirão Preto (SP), ele trocou palavrões com bolsonaristas e chegou a empurrar um deles. Após o episódio, ele declarou que reagiu ao ser insultado e agredido pelo grupo.

Uma semana depois, no início de maio, Ciro atacou o empresário Afranio Barreira, dono dos restaurantes Coco Bambu. Em entrevista ao canal de YouTube "Dois Dedos de Teologia", ele chamou Barreira de "sonegador" e "vagabundo". Em resposta, o empresário disse não ter "rabo-de-palha" — termo que significa mancha na reputação.

O dono do Coco Bambu é um dos alvos de uma operação da PF (Polícia Federal), deflagrada ontem, que investiga empresários bolsonaristas por defenderem um golpe de Estado em caso de vitória de Lula nas eleições.

Troca de farpas com Duvivier. Ainda em maio, Ciro entrou em atrito com o ator Gregório Duvivier. No programa Greg News, apresentado por ele na HBO, Duvivier defendeu que eleitores de Ciro mudassem o voto para Lula. O ex-ministro acusou o apresentador de fazer "terrorismo eleitoral".

A troca de hostilidades prosseguiu por meio do Twitter e culminou com um debate entre ambos, em uma transmissão ao vivo. No encontro, que foi ironizado por Bolsonaro, A discussão começou amena, mas logo a temperatura subiu. Ciro afirmou que Duvivier estava "levando as pessoas a votar por medo do fascismo", e o apresentador chamou o pedetista de "chato pra caramba".

Você caiu como um patinho, levando as pessoas a votar por medo do fascismo. E Bolsonaro, do outro lado, levando as pessoas a votar por medo do comunismo
Ciro Gomes, em debate com o apresentador Gregório Duvivier

Embate com jornalistas No último dia 7, dias antes do início oficial da campanha, a produtora cultural Gizelle Bezerra, esposa de Ciro, afirmou que o marido "não é destemperado, ele é indignado". Pouco mais de uma semana depois, contudo, o pedetista bateu boca com jornalistas no programa Roda Viva.

A discussão teve início após o jornalista Flávio Costa questionar Ciro sobre uma proposta de fazer plebiscito após seis meses na Presidência. Durante a resposta, o ex-ministro foi interrompido pela apresentadora do programa, Vera Magalhães, e questionou: "para que essa hostilidade toda?". Em resposta, a jornalista retrucou. "o senhor foi hostil comigo, tentei lhe interromper umas duas vezes".

"Se desintoxica" Na última segunda-feira (22), durante encontro de grandes varejistas em São Paulo, Ciro discutiu com o empresário Flávio Rocha, dono da rede lojas Riachuelo. Quando Rocha fez uma fala em defesa do livre mercado, sem intervenção estatal, o ex-ministro reagiu: "por favor, Flávio, se desintoxica. Vamos pensar juntos", disse.

Após o evento, ele declarou que vive "discutindo ideologia" com o empresário, mas a fala não era uma hostilidade. Ontem, durante a sabatina no Jornal Nacional, ele fez referência ao ocorrido, afirmando que não bateu boca com Rocha e que os dois são amigos.

Como foi a sabatina de Ciro em 2018? A última ida do presidenciável ao "Jornal Nacional" não teve momentos de grande agressividade, mas houve uma rixa de Ciro com a TV Globo após a entrevista.

Em um camarim da emissora, Ciro foi procurado por um oficial de Justiça, que o notificou sobre um processo eleitoral movido por João Doria, então candidato ao governo de São Paulo pelo PSDB. A ação foi aberta porque Ciro havia chamado Doria de "farsante", ainda em 2017. Ciro culpou a Globo pelo incidente.

"A Globo colocou o oficial de Justiça dentro do meu camarim. O Doria conseguiu que uma juíza do Rio de Janeiro mandasse o oficial de Justiça agora, uma hora da manhã, no camarim que a Globo deu, e a Globo deixou o cara entrar, para me notificar de uma ação do Doria contra mim", disparou. A Globo se justificou afirmando que o servidor apareceu nos estúdios de surpresa.

Na sabatina, um dos embates se deu quando Bonner citou que Carlos Lupi, presidente do PDT e correligionário de Ciro, era réu na Justiça Federal de Brasília. O presidenciável insistiu, por três vezes, que a informação era falsa, o que levou o apresentador a ler uma nota citando o número do processo.

Como Ciro se comportou na campanha 2018? Terceiro lugar no primeiro turno daquela corrida presidencial, o pedetista também foi protagonista de brigas na campanha, o que levou o partido a aconselhá-lo a se conter e a evitar palavrões na reta final do primeiro turno.

Em julho daquele ano, durante um evento, ele chamou de "filho da puta" uma promotora que havia aberto contra ele, no ano anterior, um inquérito por ter chamado o vereador de São Paulo Fernando Holiday (Novo) de "capitãozinho do mato". Órgãos e associações jurídicas repudiaram a fala.

Ciro usou o mesmo xingamento dois meses depois, em setembro de 2018. Em Boa Vista (RR), ele empurrou e chamou de "filho da puta" um homem que perguntou se ele havia ofendido refugiados da Venezuela. Em resposta, Ciro exigiu que ele fosse retirado da coletiva e o acusou de ser "do Romero Jucá", em alusão ao ex-senador do estado.