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Bolsonaro usa sabatina para se afastar de Jefferson e chama Lula de "fujão"

Do UOL, em São Paulo e colaboração para o UOL

24/10/2022 00h47Atualizada em 24/10/2022 07h22

Candidato à reeleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL) usou a sabatina da TV Record na noite deste domingo (23) para se afastar de seu aliado, o ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB), levado à Superintendência da Polícia Federal depois de atirar e jogar granada contra dois agentes.

Bolsonaro também criticou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu adversário no segundo turno, por não comparecer ao debate que seria promovido pela emissora.

O candidato à reeleição chegou à sede da emissora em São Paulo uma hora e meia antes da entrevista e decidiu falar sobre a questão mais importante do dia: seu relacionamento Jefferson, que feriu dois policiais federais que tentavam cumprir uma ordem de prisão contra ele determinada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.

Antes de entrar no estúdio, Bolsonaro fez um pronunciamento —sem a possibilidade de perguntas dos jornalistas— e afirmou que "não tem amizade" com o ex-deputado federal. Ressaltou ainda que, no mês passado, Jefferson entrou com queixa-crime contra ele na Justiça Militar.

"Não tem nada de amizade, tanto é verdade que agora em meados de setembro ele entrou com uma queixa-crime no Superior Tribunal Militar contra minha pessoa e do senhor ministro da Defesa por prevaricação. Ou seja, quem me processa não pode alguém achar que é meu amigo", afirmou também na entrevista.

Conforme publicado pelo site The Intercept, Jefferson acionou a Justiça Militar em setembro contra o presidente e o ministro da Defesa, o general do Exército Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. O ex-deputado acusou os dois de prevaricação por não terem insistido para que o Senado apreciasse o pedido de impeachment do ministro de Moraes.

Descolar imagem era prioridade de Bolsonaro. O ex-deputado federal Roberto Jefferson foi próximo do presidente no passado e aliados de Lula publicaram nas redes sociais que ele estaria trabalhando na coordenação da campanha de Bolsonaro —o que foi negado pelo presidente e apoiadores.

Tentando se descolar do antigo aliado, o candidato à reeleição repetiu na sabatina que determinou que Jefferson fosse tratado como "bandido" por ter atirado em policiais federais —ele já havia dito isso em vídeo sobre a prisão do ex-parlamentar publicado nas redes sociais.

"Tão logo tomei conhecimento, foi feito o contato com o ministro da Justiça, que é um delegado da Polícia Federal, Anderson Torres, para que ele acompanhasse o caso, se deslocasse para perto do episódio", afirmou.

Disse para ele [ministro] que o tratamento dispensado ao senhor Roberto Jefferson deveria ser o de bandido, porque quem atira em policial, bandido é."

O entrevistado também tentou ligar Jefferson ao PT e destacou que Lula "sempre tratou bem" o ex-deputado federal. "Nós não passamos pano pra ninguém, diferentemente do Lula, que, quando Roberto Jefferson delatou o Mensalão, delatou inclusive José Dirceu, o Lula simplesmente passou pano pra tudo isso."

Solidariedade aos policiais e à ministra do STF. Popular entre os policiais, Bolsonaro tratou de mostrar solidariedade em relação aos agentes que foram vítimas da ação de Jefferson. E também fez declarações direcionadas à ministra do STF Carmen Lúcia, alvo de ofensas machistas proferidas pelo ex-deputado.

Quero deixar bem claro: repudio também a maneira como Roberto Jefferson se referiu à senhora ministra Cármen Lúcia. Nenhuma mulher deve ser tratada dessa maneira."

No entanto, o chefe do Executivo tem um histórico de declarações sexistas. No debate realizado pelo UOL no primeiro turno, ele atacou a jornalista Vera Magalhães, da TV Cultura, e a então candidata Simone Tebet (MDB).

Uma das primeiras perguntas do âncora do debate, Eduardo Ribeiro, foi sobre a prisão de Jefferson. O presidente respondeu na mesma linha do que já havia falado antes de entrar no estúdio.

Nós [ele e Roberto Jefferson] não somos amigos, nós não temos relacionamento, e tratamento para pessoas que são corruptas ou agem dessa maneira como Roberto Jefferson agiu, xingando uma mulher e também recebendo à bala policiais, o tratamento que será dispensado pelo governo Jair Bolsonaro será de bandido."

Citações a Lula. O presidente foi para a sabatina com a estratégia clara de ressaltar que Lula decidiu não participar do programa. Para ampliar o caráter negativo da ausência, ele chamou o adversário de "fujão" de forma reiterada.

Somente no primeiro bloco foram 22 citações nominais ao petista e sete "fujões". O candidato à reeleição encontrou uma maneira de reclamar da falta de Lula até mesmo em uma pergunta sobre o Pix.

No restante da sabatina, a frequência diminuiu —no total, foram 28 citações do nome do petista. Cabe ressaltar que a audiência de programas desta natureza é maior no primeiro bloco, o que explica a repetição maior na abertura da sabatina.

Em algumas ocasiões que a falta de Lula era mencionada, o diretor de imagem cortava para o púlpito vazio do candidato faltante. Também foi ressaltado no começo e fim de cada bloco que o petista não compareceu.

Após um dia de tensão, Bolsonaro focou as críticas e ataques em Lula, e falou pouco sobre ações do STF e do TSE.

Record mencionou ausência de Lula várias vezes durante sabatina e púlpito vazio foi mostrado - Divulgação - Divulgação
Record mencinou ausência de Lula várias vezes durante sabatina e púlpito vazio foi mostrado
Imagem: Divulgação

Lula não vai, mas participa de podcast. Lula não aceitou o convite para o debate e arcou com o ônus de ter seu púlpito mostrado vazio. Mas cerca de uma hora antes de a sabatina com Bolsonaro começar, o petista participou de um podcast e declarou que Bolsonaro teve a "petulância" de mandar o ministro da Justiça, Anderson Torres, para proteger Jefferson.

Relatório das Forças Armadas. Na sabatina —que teve três blocos e durou uma hora—, Bolsonaro falou ainda sobre o relatório das Forças Armadas sobre a fiscalização do processo eleitoral.

Eles continuam trabalhando na busca de possíveis fraudes, por que não dizer isso? E o trabalho deles é louvável. De vez em quando eu converso com outro militar, ou melhor, basicamente com o ministro da Defesa sobre essa questão. Eles preparam um relatório. E esse relatório será apresentado no momento oportuno."

O Ministério da Defesa informou ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) na última quarta-feira (19) que só vai entregar relatórios sobre o assunto após a realização do segundo turno, em 30 de outubro. As Forças Armadas alegaram que divulgar um documento parcial sobre a fiscalização das eleições, referente ao primeiro turno, pode resultar em inconsistência com as conclusões finais.

A urna eletrônica é utilizada no Brasil desde 1996 sem nenhuma comprovação de fraude ou adulteração de resultado desde então. A votação eletrônica foi, na verdade, uma forma de combater fraudes e evitar a manipulação das cédulas em papel.

Redução da maioridade penal. O presidente também falou sobre sua proposta para a redução da maioridade penal e detalhou que ela valeria apenas para adolescentes de 16 e 17 anos que cometerem crimes hediondos. A medida, se encaminhada, precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional.

"Lugar de moleque dessa idade é para estar na escola. Agora, essa minoria que faz maldades, mata nossos filhos por aí. Roubam, sequestram, estupram, lugar deles é na cadeia, se lá está muito cheia, é problema dele, eu prefiro lá na cadeia cheia do que aqui fora cometendo crime", disse.

Gesto de pacificação? Questionado se será capaz de um gesto de pacificação caso seja reeleito, Bolsonaro disse que sempre tratou governadores e prefeitos com igualdade, independentemente de filiação partidária.

"Nós não dividimos a população brasileira. Muito pelo contrário. Pregavam lá atrás que eu ia dividir, que ia dar o golpe, ia ser um ditador, nunca um ato meu sequer foi visto nessa direção", respondeu.

Ocorre que durante a pandemia de covid-19, Bolsonaro manteve relação conflituosa com considerável parte dos governadores e prefeitos. Muitos foram hostilizados pelo presidente. As críticas continuam ocorrendo na campanha e em muito comícios há reclamações da atuação deles durante a crise sanitária.