'Live Teleton' de Bolsonaro rendeu 1 mi de seguidores e mentira sobre foto
A live de 22 horas de duração com participação de Neymar promovida pela campanha de Jair Bolsonaro (PL) no fim de semana foi inspirada no Teleton, rendeu 1 milhão de inscritos no canal do presidente no YouTube, mas terminou com Bolsonaro tentando se desvencilhar do ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB). No final do programa, o candidato declarou que "não tem uma foto" com Roberto Jefferson —o que foi desmentido logo depois nas redes sociais e sites de notícias.
A afirmação ocorreu depois que o ex-deputado federal e antigo aliado disparou 50 tiros de fuzil e três granadas contra policiais federais. Jefferson se entregou após horas de negociação. Bolsonaro divulgou vídeo em seus perfis dizendo que ordenou que o ex-deputado seja tratado como "bandido" e repetiu, na Record, que não tem proximidade com o ex-deputado.
A live terminou com Gusttavo Lima cantando e comemoração da equipe de Bolsonaro. A audiência total no canal do presidente no YouTube foi de 22 milhões de visualizações. O presidente passou dos 4,8 milhões de inscritos nesta mesma página para 5,8 milhões —crescimento de 20%. O clima festivo predominava porque a campanha ainda não havia assimilado o tamanho do problema criado pelo ataque de Jefferson contra agentes da Polícia Federal.
Com a grande audiência e o aumento no número de inscritos no canal, a campanha bolsonarista festejava a possibilidade de furar a bolha e conquistar eleitores indecisos —para reduzir a diferença de votos em relação ao concorrente na disputa eleitoral, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Mas é exatamente esse público que pode se afastar por causa das notícias sobre Jefferson.
O que foi a live. Bolsonaro promoveu uma live com 22 horas de duração, alusão ao seu número de urna. A atração começou com a participação de Neymar às 15h de sábado (22). O atacante enumerou elogios ao presidente, como defender valores da família.
Na sequência, passaram pelo canal do presidente no YouTube nomes como o empresário Roberto Justus, a atriz e apresentadora Karina Bacchi, o ex-juiz, ex-ministro e ex-desafeto do presidente Sergio Moro (União Brasil), e o pastor e Silas Malafaia —além de integrantes do governo, como os ministros da Economia, Paulo Guedes, e das Comunicações, Fábio Faria. A live terminou na tarde de domingo (23) com apresentação de Gusttavo Lima —que havia anunciado seu apoio dias antes, ao lado de outros sertanejos.
Cavalo de troia. Com tantos números positivos, a live acabou em clima de clipe de final de ano em TV aberta. A equipe que estava nos bastidores indo para a frente das câmeras, violão no centro da roda e todos cantando —no caso, o jingle de campanha de Bolsonaro. Ocorre que a semente do problema estava plantada.
Cerca de uma hora antes do final em alto estilo, Faria, refutava uma afirmação de André Janones (Avante-MG), aliado de Lula, de que o agressor de policiais Roberto Jefferson estava na coordenação da campanha de Bolsonaro. O presidente ouvia calado e abriu a boca para falar uma única frase: "não tem foto comigo".
A afirmação se provou falsa. As consequências negativas, que já eram grandes, foram amplificadas pela falta de habilidade da equipe em lidar com a situação. Bolsonaro postou tuíte evasivo e enviou o ministro da Justiça, Anderson Torres, para Comendador Levy Gasparian (RJ), cidade onde o ex-deputado federal morava. Ainda que o ministro tenha ido somente até uma cidade próxima, a convocação criou envolvimento institucional do candidato à reeleição com Jefferson.
Mudança de postura. Somente no começo da noite de domingo, Bolsonaro fez declarações mais contundentes e mostrou ter uma estratégia para lidar com os tiros e lançamento de granadas contra policiais federais, que deixou dois deles feridos —eles passam bem.
O presidente disse que quem dispara contra agentes é bandido. Acrescentou que não era aliado de Jefferson e citou uma queixa-crime do ex-deputado federal contra ele. Na sequência, tentou sugerir que a esquerda era a responsável por injetar violência na corrida presidencial.
Mas o estrago estava feito. O esforço exitoso de 22 horas com personalidades da música, esportes, influencers, políticos e empresário ruiu. Foi atingido por tiros de fuzil disparados a quilômetros de distância e uma frase mentirosa. Na segunda-feira (24), Bolsonaro atualizou a declaração na tentativa de cessar a perda e disse que se referiu a fotos de campanha.
Inspiração no formato do Teleton. Todos os anos a televisão brasileira exibe uma maratona com reportagens, apresentações de artistas e entrevistas com famosos: o Teleton. O programa tem longa duração e muda as atrações a cada um ou no máximo duas horas. A live de Bolsonaro teve a mesma estratégia.
Além de dar espaço para diferentes segmentos, o formato possibilita que material para as redes sociais seja produzido e distribuído. Contar com esta diversidade de convidados ainda permite que variados públicos sejam alcançados.
Organização expressa. Um fator considerado bastante positivo pela equipe do presidente foi a participação de Neymar e Gusttavo Lima, que aceitaram as consequências de expor a defesa da reeleição de Bolsonaro num cenário tão polarizado. Ambos têm bastante influência sobre jovens.
A ideia de promover a live surgiu somente na quinta-feira (20) e o contato com a dupla foi feito com dois dias de antecedência. A conversa com Neymar foi facilitada porque um dos integrantes da equipe mantém relacionamento com o atacante. A visita que o presidente fez no primeiro turno ao instituto do jogador também colaborou para estreitar o contato e auxiliar a confirmação da presença.
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