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'Live Teleton' de Bolsonaro rendeu 1 mi de seguidores e mentira sobre foto

Do UOL, em São Paulo

25/10/2022 04h00

A live de 22 horas de duração com participação de Neymar promovida pela campanha de Jair Bolsonaro (PL) no fim de semana foi inspirada no Teleton, rendeu 1 milhão de inscritos no canal do presidente no YouTube, mas terminou com Bolsonaro tentando se desvencilhar do ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB). No final do programa, o candidato declarou que "não tem uma foto" com Roberto Jefferson —o que foi desmentido logo depois nas redes sociais e sites de notícias.

A afirmação ocorreu depois que o ex-deputado federal e antigo aliado disparou 50 tiros de fuzil e três granadas contra policiais federais. Jefferson se entregou após horas de negociação. Bolsonaro divulgou vídeo em seus perfis dizendo que ordenou que o ex-deputado seja tratado como "bandido" e repetiu, na Record, que não tem proximidade com o ex-deputado.

A live terminou com Gusttavo Lima cantando e comemoração da equipe de Bolsonaro. A audiência total no canal do presidente no YouTube foi de 22 milhões de visualizações. O presidente passou dos 4,8 milhões de inscritos nesta mesma página para 5,8 milhões —crescimento de 20%. O clima festivo predominava porque a campanha ainda não havia assimilado o tamanho do problema criado pelo ataque de Jefferson contra agentes da Polícia Federal.

Com a grande audiência e o aumento no número de inscritos no canal, a campanha bolsonarista festejava a possibilidade de furar a bolha e conquistar eleitores indecisos —para reduzir a diferença de votos em relação ao concorrente na disputa eleitoral, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Mas é exatamente esse público que pode se afastar por causa das notícias sobre Jefferson.

O que foi a live. Bolsonaro promoveu uma live com 22 horas de duração, alusão ao seu número de urna. A atração começou com a participação de Neymar às 15h de sábado (22). O atacante enumerou elogios ao presidente, como defender valores da família.

Na sequência, passaram pelo canal do presidente no YouTube nomes como o empresário Roberto Justus, a atriz e apresentadora Karina Bacchi, o ex-juiz, ex-ministro e ex-desafeto do presidente Sergio Moro (União Brasil), e o pastor e Silas Malafaia —além de integrantes do governo, como os ministros da Economia, Paulo Guedes, e das Comunicações, Fábio Faria. A live terminou na tarde de domingo (23) com apresentação de Gusttavo Lima —que havia anunciado seu apoio dias antes, ao lado de outros sertanejos.

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Na segunda, Bolsonaro apresentou nova versão sobre não ter fotos com Jefferson
Imagem: Reprodução/Facebook

Cavalo de troia. Com tantos números positivos, a live acabou em clima de clipe de final de ano em TV aberta. A equipe que estava nos bastidores indo para a frente das câmeras, violão no centro da roda e todos cantando —no caso, o jingle de campanha de Bolsonaro. Ocorre que a semente do problema estava plantada.

Cerca de uma hora antes do final em alto estilo, Faria, refutava uma afirmação de André Janones (Avante-MG), aliado de Lula, de que o agressor de policiais Roberto Jefferson estava na coordenação da campanha de Bolsonaro. O presidente ouvia calado e abriu a boca para falar uma única frase: "não tem foto comigo".

A afirmação se provou falsa. As consequências negativas, que já eram grandes, foram amplificadas pela falta de habilidade da equipe em lidar com a situação. Bolsonaro postou tuíte evasivo e enviou o ministro da Justiça, Anderson Torres, para Comendador Levy Gasparian (RJ), cidade onde o ex-deputado federal morava. Ainda que o ministro tenha ido somente até uma cidade próxima, a convocação criou envolvimento institucional do candidato à reeleição com Jefferson.

Mudança de postura. Somente no começo da noite de domingo, Bolsonaro fez declarações mais contundentes e mostrou ter uma estratégia para lidar com os tiros e lançamento de granadas contra policiais federais, que deixou dois deles feridos —eles passam bem.

O presidente disse que quem dispara contra agentes é bandido. Acrescentou que não era aliado de Jefferson e citou uma queixa-crime do ex-deputado federal contra ele. Na sequência, tentou sugerir que a esquerda era a responsável por injetar violência na corrida presidencial.

Mas o estrago estava feito. O esforço exitoso de 22 horas com personalidades da música, esportes, influencers, políticos e empresário ruiu. Foi atingido por tiros de fuzil disparados a quilômetros de distância e uma frase mentirosa. Na segunda-feira (24), Bolsonaro atualizou a declaração na tentativa de cessar a perda e disse que se referiu a fotos de campanha.

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Gusttavo Lima pediu votos para Bolsonaro e fechou live cantando
Imagem: Reprodução/YouTube

Inspiração no formato do Teleton. Todos os anos a televisão brasileira exibe uma maratona com reportagens, apresentações de artistas e entrevistas com famosos: o Teleton. O programa tem longa duração e muda as atrações a cada um ou no máximo duas horas. A live de Bolsonaro teve a mesma estratégia.

Além de dar espaço para diferentes segmentos, o formato possibilita que material para as redes sociais seja produzido e distribuído. Contar com esta diversidade de convidados ainda permite que variados públicos sejam alcançados.

Organização expressa. Um fator considerado bastante positivo pela equipe do presidente foi a participação de Neymar e Gusttavo Lima, que aceitaram as consequências de expor a defesa da reeleição de Bolsonaro num cenário tão polarizado. Ambos têm bastante influência sobre jovens.

A ideia de promover a live surgiu somente na quinta-feira (20) e o contato com a dupla foi feito com dois dias de antecedência. A conversa com Neymar foi facilitada porque um dos integrantes da equipe mantém relacionamento com o atacante. A visita que o presidente fez no primeiro turno ao instituto do jogador também colaborou para estreitar o contato e auxiliar a confirmação da presença.

Live de Bolsonaro terminou com clima de festa e cantoria do jingle de campanha - Reprodução YouTube - Reprodução YouTube
Live de Bolsonaro terminou com clima de festa e cantoria do jingle de campanha
Imagem: Reprodução YouTube