Raros em Assunção, apoiadores da deposição de Lugo se reúnem em missa e saúdam Franco
Nas ruas de Assunção, capital do Paraguai, é quase impossível encontrar apoiadores da deposição de Fernando Lugo. Até os que estavam insatisfeitos com o governo do ex-presidente, não viam na saída do mandatário do poder o melhor caminho para resolver os problemas políticos do país.
Na missa de São João, celebrada na noite deste sábado (23), na área externa da Catedral Metropolitana de Assunção, que fica na praça do Congresso --palco dos protestos dos últimos dias-- a situação era outra: vários apoiadores da saída de Lugo compareceram à celebração e manifestaram apoio ao novo presidente, Federico Franco.
Federico Franco rouba a cena em missa de São João
"Estamos contentes, porque é uma nova oportunidade para o país. A saída de Lugo seguiu a Constituição Nacional. Juridicamente é inatacável", afirmou Otavio Riraldi, diretor da hidrelétrica de Itaipu, presente à missa.
"É uma minoria os que estão protestando. A grande maioria apoia Federico e todo esse processo, que foi constitucional", disse a dona de casa Mirta Palacios.
A missa foi celebrada pelo monsenhor Edmundo Valenzuela --segunda figura mais importante da Conferência Episcopal Paraguaia--, que foi favorável à destituição de Lugo e tentou convencê-lo a renunciar. Também estiveram presentes ministros do novo governo, senadores dos partidos Colorado e Liberal, além da cúpula das Forças Armadas.
Em seu discurso, com tom abertamente político, Valenzuela faz várias referências ao conflito em Curuguaty (a 250 km de Assunção), na semana passada, que terminou com a morte de 17 pessoas. Ele pediu ao próximo governo que olhe para os camponeses, indígenas e excluídos da sociedade paraguaia.
“Entendemos que no jogo democrático existiu um consenso que motivou a mudança no governo. Diante da rapidez dos acontecimentos, tivemos, felizmente, um final pacífico. Contudo, são pendentes as queixas e a necessidade de proteger os campesinos”, afirmou.
Ex-bispo, Lugo sempre seguiu uma tendência de esquerda da Igreja Católica, influenciado pela Teologia da Libertação. Por essa razão, nunca teve boa relação com a cúpula da Igreja, historicamente mais conservadora.
Nem todos que foram à missa católica estão do lado de Franco: integrantes da Pastoral da Juventude, que compareceram à cerimônia vestindo camisas da Seleção Paraguaia, deixaram a missa ao saber que o novo presidente estava no local. Contrariando a posição da cúpula da Igreja, eles são contra a destituição de Lugo e afirmaram que Franco apareceu na missa para roubar a cena.
"Ele tem costume de aparecer nos eventos sociais e macular a imagem da Igreja", afirmou Licie Gonçalvez, da Pastoral da Juventude. “Não estamos de acordo com Federico Franco ser presidente. A deposição de Lugo foi uma palhaçada.”
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