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Guerra da Rússia-Ucrânia

Notícias do conflito entre Rússia e Ucrânia


Desde independência, Ucrânia vive jogo duplo com Rússia e Ocidente

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

25/02/2022 14h22

Invadida pela Rússia, a Ucrânia se tornou um país independente em 1991, quando deixou de ser uma república soviética. Desde então, a política interna ucraniana é disputada entre simpatizantes russos e ocidentais.

Embora a independência da Ucrânia tenha ocorrido há mais de 30 anos, com o fim da Guerra Fria, o território ucraniano é habitado há pelo menos 4.000 anos.

Considerada polo cultural na idade média, a região teve o território invadido e governado a partir do século 13 por diferentes povos até a criação da República Soviética da Ucrânia, em 1917.

Após uma guerra civil, ela passou a se chamar República Socialista Soviética da Ucrânia em 1922, quando se juntou à República Socialista Federativa Soviética Russa e às Repúblicas Socialistas Soviéticas da Bielorrússia e Transcaucásia, formando, assim, a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), ou apenas União Soviética.

Quando o exército nazista invadiu o país, em 1941, parte da população colaborou com os alemães, enquanto 5 milhões de ucranianos morreram combatendo os nazistas até o fim da ocupação, em 1944. Os ucranianos que cooperaram com os alemães nutriam a crença de que poderiam livrar o país do líder soviético Joseph Stalin e se tornar independentes.

Apesar de castigada durante a Segunda Guerra, a Ucrânia era considerara uma das repúblicas mais ricas da União Soviética, uma potência agrícola também rica em carvão e ferro. Com a dissolução da URSS, um referendo aprovou a independência do país, em 1991, nascendo, assim, a atual Ucrânia.

Mapa Ucrania - Arte/ UOL - Arte/ UOL
Imagem: Arte/ UOL
Entre Estados Unidos e Rússia

Segundo Arthur Moura, especialista em Rússia e Ucrânia e mestrando em Relações Internacionais pela UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), o governo ucraniano pendeu entre americanos e russos até 2004.

"Presidente da Ucrânia desde 1995, Leonid Kuchma era envolvido em escândalos de corrupção e fazia uma política pendular que ora aproximou, ora afastou a Ucrânia da Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte], organização militar chefiada pelas potências ocidentais", explicou o especialista em uma rede social.

"Tudo muda quando, na eleição de 2004, o sucessor de Kuchma, [o então primeiro-ministro] Viktor Yanukovych, vence a eleição", diz. Parte da população não aceita o resultado "e há uma massa de protestos chefiada pelo candidato antagônico, Viktor Yushchenko".

Após forte pressão internacional o segundo turno das eleições é repetido e Yushchenko, apoiado pelos Estados Unidos, vence a campanha, permanecendo no poder até 2010.

A Ucrânia ficou dividida nessas eleições, diz Moura. Enquanto no leste do país —com mais russos étnicos— a maioria votou a favor de Yanukovych, no oeste a maior parte dos votos foram para Yushchenko.

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23.nov.2013 - O ex- presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich (ao centro) e os ex-presidentes Leonid Kravchuk, Leonid Kuchma e Viktor Yushchenko participam de cerimônia
Imagem: Reuters

Segundo o especialista em Ucrânia, Yushchenko promoveu em seu governo uma série de projetos nacionalizantes que visavam unificar a população de acordo com uma determinada identidade nacional, "gerando revolta entre a comunidade russa na Ucrânia".

"Argumentava-se que o governo ucraniano estava apagando características etno-culturais russas e até perseguindo quem usasse o idioma russo pra falar oficialmente ou em espaços públicos", diz Moura.

Enquanto isso, o presidente se aproximava do mundo ocidental ao iniciar negociações com a Otan e com a União Europeia, "visando certo afastamento da Rússia", diz o especialista. A crise econômica mundial de 2008, porém, derrubou a aprovação do governo.

A crise foi tamanha que Yushchenko precisou negociar com seu antigo rival, Yanukovych. Em 2010, novas eleições ocorrem na Ucrânia e Yanukovych finalmente vence, novamente com maioria de votos na região leste pró-Rússia.

No poder, Yanukovych, diz Moura, tentou reverter algumas medidas do antecessor, como em novembro de 2013, quando se recusa a assinar um tratado de associação com a União Europeia e fecha um acordo com a CEI (Comunidade dos Estados Independentes), chefiada pela Rússia.

As decisões resultaram em uma série de protestos, iniciados em Kiev, na praça Maidan. "Em poucos meses, a situação se torna caótica: grupos assumidamente neonazistas tomam as ruas junto dos protestos e o governo usa snipers pra abater ativistas", diz o especialista.

Após uma série de revoltas —que ficaram conhecidas como Revolução Ucraniana— Yanukovych foge para a Rússia e acaba deposto em 2014.

ucrania - Sergei Supinsky/AFP - Sergei Supinsky/AFP
29.abr.2014 - Ativistas ultranacionalistas marcham em direção à praça da Independência para lembrar os heróis de Maidan, em Kiev
Imagem: Sergei Supinsky/AFP

A Rússia retaliou a derrubada do aliado Yanukovych anexando a Crimeia —no sul do país— e desencadeando uma rebelião no leste ucraniano liderada por separatistas apoiados pela Rússia que já custou 14 mil vidas até hoje.

"O governo ucraniano conseguiu conter" a rebelião, diz Moura. "[Mas] em duas oblasts [províncias], isso não foi possível: Donetsk e Luhansk."

"Lá houve uma revolta armada pedindo a separação da Ucrânia, formando duas pequenas repúblicas: A República Popular de Donetsk (RPD) e a República Popular de Luhansk (RPL)", afirma o especialista.

Desde então, a Ucrânia está em guerra com seus separatistas.

Essas são as duas regiões no leste ucraniano que serviram de justificativa para a invasão russa desta semana. Para ingressar no território inimigo, Putin decidiu reconhecer a independência das repúblicas na última segunda-feira (21).

"O escalonamento dos conflitos chegaram até o que tem sido visto nos últimos meses", conclui o especialista.