Os temas que irritaram Lula e dominam reunião com secretário dos EUA

O presidente Lula (PT) enfrenta assuntos espinhosos, hoje, durante a visita do secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken. Na pauta, as divergências sobre o conflito na Faixa de Gaza.

O que aconteceu

Os Estados Unidos vetaram pela terceira vez na ONU a proposta de cessar-fogo entre Israel e Hamas. O país é o principal apoiador internacional de Israel, dando inclusive financiamento militar. Já o Brasil defende essa medida no Conselho de Segurança desde o início da guerra.

O país também criticou ontem (20) a fala de Lula que relacionou os ataques israelenses ao Holocausto. O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, disse que seu governo "obviamente" discorda da declaração.

Oficialmente, Blinken vem ao país para participar de reuniões do G20 no Rio. Ele para em Brasília antes desse compromisso. O Planalto não divulgou a pauta do encontro, mas a nota do governo norte-americano fala em "assuntos bilaterais e globais". Apesar da boa relação com o presidente Joe Biden, Lula tem criticado a posição de impedimento norte-americana na defesa pela paz.

Lados opostos do conflito

Os EUA foram o único país a usar o poder de veto entre os membros do Conselho de Segurança da ONU para impedir a proposta de cessar-fogo em Gaza. Mesmo composto por 15 países, a posição norte-americana é suficiente para vetar a resolução, apresentada desta vez pela Argélia.

Os norte-americanos já haviam vetado uma proposta brasileira em outubro, o que arrancou críticas públicas do governo. "A nossa preocupação foi sempre humanitária nesse momento e, enfim, cada país terá tido sua inspiração própria", afirmou o chanceler Mauro Vieira, após a decisão.

Os EUA negociam outra proposta de cessar-fogo. O jornal americano New York Times teve acesso ao rascunho de uma resolução para interromper o conflito "temporariamente" e alerta Israel contra uma invasão por terra à cidade de Rafah, no sul de Gaza, onde milhões de palestinos se refugiam.

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Lula tem sido uma das vozes internacionais mais críticas ao prosseguimento do conflito. Em declarações duras contra Israel, tem pregado a cessar-fogo e demonstrado insatisfação com Estados Unidos e países europeus, que, para ele, não se empenham pela paz.

Desde outubro, quase 26.000 civis foram mortos, segundo a ONU —quase todos palestinos. Nesta segunda, o governo israelense afirmou que os ataques prosseguirão, inclusive no Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos, exceto se o Hamas libertar todos os reféns.

O secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken
O secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken Imagem: Olivier Douliery/Pool via Reuters

Frases polêmicas

Também devem estar presentes na reunião as últimas falas de Lula sobre o conflito. No último final de semana, o petista foi criticado ao relacionar o massacre de Israel em Gaza ao Holocausto.

"Fomos bastante claros que não acreditamos que um genocídio ocorreu em Gaza", disse Miller, em um adiantamento do que deverá ser o posicionamento de Blinken hoje. Lula, por sua vez, deverá insistir que a fala se deu contra as ações de Estado, não contra o povo judeu, e, assim, explicar a recusa em fazer um pedido de desculpas.

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O Itamaraty pediu a volta do embaixador brasileiro na última segunda (19). Já o perfil oficial do Ministério das Relações Exteriores de Israel chamou Lula de "negacionista do Holocausto" nas redes sociais ontem (20). Em resposta, o ministro Paulo Pimenta (Secom) falou que Netanyahu "adota prática da extrema direita e aposta em fake news para tentar se reafirmar interna e internacionalmente".

O presidente já se preparou para responder a questionamentos sobre o assunto. Segundo aliados ouvidos pelo UOL, ele deverá reforçar seu ponto de vista e aproveitar a chance para pedir, mais uma vez, a adesão da gestão norte-americana ao cessar-fogo ou pelo menos que pressionem o parceiro israelense a diminuir as ofensivas em Gaza.

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