Príncipe Harry corre o risco de ser deportado dos EUA com Trump presidente?
O príncipe Harry corre o risco de ser deportado dos EUA e mandado de volta ao Reino Unido após 20 de janeiro, quando Donald Trump toma posse como presidente do país. O republicano já afirmou que quer rever a posição do britânico no país, ainda que, por enquanto, isso esteja no campo da especulação.
O que aconteceu
Harry admitiu uso de drogas em livro. No seu livro de memórias "O Que Sobra", o filho do rei Charles 3º relatou suas experiências com entorpecentes como a cocaína e a maconha — a primeira "não teria feito nada por ele", enquanto a segunda "o ajudou" a lidar com questões emocionais, descreve. Obra foi publicada quando Harry já havia deixado o Reino Unido.
Formulário de obtenção de vistos nos EUA questiona candidatos a respeito de uso prévio de substâncias. Caso um visitante ou imigrante indique um histórico de ingestão de drogas, o governo americano pode vetar a autorização de entrar no país.
Trump não descarta a possibilidade de deportar o príncipe, se ele tiver mentido na entrevista do visto. Em março, o presidente-eleito foi questionado pelo GB News, veículo de direita britânico, se Harry deveria ter "privilégios especiais" caso fosse descoberto que mentiu na documentação do seu visto a respeito do uso de drogas. "Não. Teremos que ver se [o Departamento de Segurança Interna] sabe algo a respeito das drogas e, se ele mentiu, teremos que tomar a medida apropriada".
O apresentador Nigel Farage perguntou se essa medida seria deportação e Trump não a descartou. "Não sei, você é que vai ter que me dizer. É de se imaginar que eles [as autoridades] soubessem disso há muito tempo".
O presidente-eleito já havia demonstrado sua animosidade contra Harry antes. Em fevereiro, um mês antes da entrevista, ele disse em discurso na Conferência de Ação Política Conservadora, em Oxon Hill, no estado de Maryland, que "não protegeria" Harry — como acredita que o governo Biden fez. "Ele traiu a rainha. É imperdoável. Ele está sozinho."
Juiz selou documentos do visto de Harry. Em setembro, uma decisão da Justiça americana determinou que toda a papelada da candidatura do Duque de Sussex ao visto americano fosse considerada "particular" e mantida em confidencialidade, o que dificultaria o procedimento de deportação. Caso Trump decida seguir adiante, poderia haver uma batalha jurídica em outras instâncias, especialmente porque a filha caçula de Harry é americana, assim como sua esposa.
Eric Trump também não vê os Sussex com bons olhos. O filho do presidente eleito disse ao GB News, em agosto, que [o Reino Unido] "pode tomá-los de volta". "Mas não sei se vocês os querem mais. Nós podemos não os querer mais [também], parece que eles estão em uma ilha sozinhos."
Deportação é provável?
O próprio Eric Trump não acredita que o pai siga em frente com a ameaça de deportação. Em outubro, ele disse ao Daily Mail que "não dá a mínima se Harry usou drogas". "Não significa nada. Eu posso dizer que nosso pai e nossa família inteira tem um tremendo respeito pela monarquia."
Trump era fã da rainha. Em 2018, ele a classificou como uma "mulher incrível. "Se você pensar, por tantos anos ela representou o país dela, e nunca cometeu um erro. Você não vê nada vergonhoso. Minha mulher é uma tremenda fã dela. Ela tem uma linda e enorme graciosidade no seu jeito", disse ao The Sun na época.
Favor a Charles. Justamente por causa da admiração de Trump pela coroa, é possível que ele não prossiga com a deportação do príncipe. "[Trump] tem visão sofisticada de clientes que vêm de [posições de] interesses significativos e um certo membro da família real poderia ser tratado de uma forma mais sofisticada. Ele pode permitir que Harry fique como um favor ao rei Charles. Ele pode perdoar o príncipe por crimes domésticos", analisou Michael Wildes, advogado de imigração de Nova York que lidou com o caso da imigração dos pais da futura primeira-dama Melania Trump, ao Daily Mail.
Trump pode ter apoio de conservadores caso decida deportar Harry. Não se sabe como a população norte-americana, em geral, avaliaria a possibilidade de enviar o príncipe de volta ao Reino Unido, mas o think tank conservador The Heritage Foundation's Margaret Thatcher Center for Freedom declarou ao Daily Mail que há uma "forte possibilidade" de conseguir uma apelação contra decisão que selou os documentos do visto de Harry com Trump na presidência.
Newsletter
DE OLHO NO MUNDO
Os principais acontecimentos internacionais e uma curadoria do melhor da imprensa mundial, de segunda a sexta no seu email.
Quero receberHá múltiplas coisas que podem acontecer, mas seria do interesse do povo americano que a administração de Trump libere os registros do príncipe Harry para o escrutínio público e que Harry seja responsabilizado. Divulgar os históricos de imigração de Harry mandaria uma forte mensagem sobre a aplicação da lei igualmente para todos.
Nile Gardiner, diretor do The Heritage Foundation's Margaret Thatcher Center for Freedom, ao Daily Mail
Processo pode depender do tipo de visto que Harry tem. Caso o príncipe esteja nos EUA com um visto A-1, para chefes de Estado, a deportação pode ser mais fácil, apontou a advogada de imigração Melissa Chavin, ao Mail. "Eles podem dizer [que o visto só vale] para membros que trabalham para a família real". Caso seu visto seja diplomático, o Departamento de Segurança Interna pode simplesmente revogá-lo também, sem maiores dificuldades.
Próximos passos de Harry e Meghan
Harry poderia recorrer na Justiça. "Se o Departamento de Segurança Interna agir, o príncipe Harry pode conseguir uma revogação [da decisão] argumentando que seu uso de drogas está em remissão. Alguém é considerado em remissão depois de um ano de sobriedade. O pedido de renúncia requer que um médico envie documentação médica. Pode ser algo que um juiz de imigração terá que decidir", opinou à Newsweek Neama Rahmani, presidente do escritório de advocacia West Coast Trial Lawyers.
Cidadania em vista? O príncipe admitiu ao "Good Morning America" em fevereiro que considerava a possibilidade de iniciar o processo para se tornar cidadão americano. Para ele, a vida no país era "incrível". "Amo todos os dias". Apesar de admitir que não se sente americano, ele confirmou que cogita a cidadania, mas que não era prioridade no momento.
Novo endereço. Meghan e Harry podem ter mudado de ideia ou tentado se prevenir: eles teriam comprado uma casa em Portugal, revelou uma fonte ao jornal britânico Daily Mail — e a decisão pode ter sido influenciada pelo status do visto de Harry. "Podemos esperar ver Harry com mais frequência no Reino Unido nos próximos anos", escreveu o correspondente Richard Eden.
Briga entre Trump e os Sussex começou em 2016. Meghan classificou o então candidato à presidência como "hostil" e "misógino" e Trump a chamou de "nojenta". Desde então, o atual presidente-eleito criticou o caso em público diversas vezes.