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Formado em curso superexclusivo de Harvard, Romney pode ser primeiro ex-aluno a chegar à Presidência

Romney com a mulher Ann e os filhos em foto do livro de 1974 da Universidade de Harvard; o candidato republicano fez parte de um dos cursos mais exclusivos da prestigiada instituição americana - The New York Times
Romney com a mulher Ann e os filhos em foto do livro de 1974 da Universidade de Harvard; o candidato republicano fez parte de um dos cursos mais exclusivos da prestigiada instituição americana Imagem: The New York Times

Peter Lattman e Richard Perez Pena

12/07/2012 06h00

O presidente Barack Obama é formado em Direito por Harvard. O ex-presidente George W. Bush tem um MBA por Harvard. Será que o próximo presidente terá ambos?

Um dos clubes mais exclusivos na academia é o programa de dupla graduação da Universidade de Harvard, que permite que os estudantes cursem simultaneamente Direito e Administração e Negócios, espremendo cinco anos de educação em quatro. Em média, aproximadamente 12 pessoas por ano concluem o programa –os sobrequalificados dos sobrequalificados– incluindo um número notável de grandes nomes nas finanças, indústria, direito e governo.

O programa é tão pequeno que chama pouca atenção fora dos círculos rarefeitos, mas isso pode mudar à medida que seu diplomado mais famoso, Mitt Romney, faz campanha pela Casa Branca, submetendo todas as fases de sua vida a escrutínio.

Quando Harvard iniciou seu programa chamado JD-MBA em 1969, havia apenas um punhado como ele. Outros surgiram desde então, mas o de Harvard apresenta aquele que pode ser o rol mais bem-sucedido de ex-alunos, principalmente nas finanças.

Além de Romney, fundador da Bain Capital, os aproximadamente 500 graduados incluem Bruce Wasserstein, que liderou o banco de investimento Lazard até sua morte em 2009; líderes de fundos hedge e empresas de private equity multibilionários como a Canyon Capital Advisors, Silver Lake Partners e Crestview Partners; altos executivos de bancos como Citigroup e Credit Suisse; C. James Koch, fundador da Boston Beer Co., e Theodore V. Wells Jr., um dos maiores advogados de defesa do país.

O jovem Romney queria frequentar a escola de administração e negócios, enquanto seu pai, George W. Romney, um secretário de Gabinete e ex-governador de Michigan, pedia para que ele frequentasse a faculdade de direito. Então o jovem Romney cursou ambas, estudando em Harvard de 1971 a 1975.


“O que era especial nessas pessoas é que elas precisavam ser movidas, dedicadas e organizadas em um grau incomum até mesmo para os estudantes de administração e direito de Harvard”, disse Malcolm S. Salter, um professor emérito de administração e negócios que ajudou a criar o programa.
Guhan Subramanian, que se formou pelo programa em 1998 e agora é o diretor de seu corpo docente, disse que os estudantes poderiam ser vistos como “construtores de currículos que não conseguiram decidir o que fazer de suas vidas e estavam anotando todas as opções”. Mas ele disse que eles são genuinamente interessados em dominar ambos os campos.

Os estudantes precisam ser aceitos separadamente pela faculdade de administração e negócios e pela de direito para poderem se inscrever no programa. Isso é um feito por si só, porque as duas são bastante diferentes.

A faculdade de direito costuma receber estudantes mais jovens, frequentemente recém-saídos do colégio, dando mais ênfase nas credenciais acadêmicas, enquanto a faculdade de administração e negócios geralmente procura experiência de trabalho e liderança. Os estudantes de administração e negócios costumam ser descritos como sendo mais gregários e à vontade com números, enquanto os estudantes de direito são mais intelectuais e com maior domínio das palavras.

E há a política.

“Eu era uma das pessoas mais conservadoras na faculdade de direito e uma das mais liberais na faculdade de administração e negócios”, disse Peter Halasz, um sócio do escritório de direito Schulte Roth & Zabel, que concluiu o programa no início dos anos 80. “Estudar em ambas expõe você a muitos tipos diferentes de pessoas e a vários lados de uma discussão.”

A diferença política era ainda maior na época de Romney, marcada pelo Vietnã e Watergate, quando os estudantes de direito vestiam camisetas e os estudantes de administração e negócios vestiam gravata na sala de aula. “A faculdade de direito era tomada pela política da época, mas a escola de administração e negócios praticamente a ignorava”, disse Detlev Vagts, um professor de direito que dirige o programa há mais de 30 anos.

Charles E. Haldeman Jr., ex-chefe da Putnam Investments e do Freddie Mac, estava um ano à frente de Romney no programa.

“Na época, as pessoas estavam tentando salvar o mundo”, disse Haldeman. “Porque eu estava interessado em administração e negócios, me dar bem economicamente importava para mim e não achava que o país era controlado por pessoas malignas, os estudantes de direito me consideravam um pouco diferente.”

Ambos os cursos eram predominantemente masculinos naquela época e Vagts disse que levou anos até que o programa de dupla graduação tivesse sua primeira aluna.

Muito mais formados foram para a área de negócios do que para a de direito; muitos outros passaram depois para o mundo dos negócios.

Lawrence Golub, presidente-executivo da firma de investimento Golub Capital, disse que a grande maioria dos formados acaba no mundo dos negócios por causa da renda potencial e da qualidade de vida.

“A pessoa aprende que a vida de associado de um grande escritório de direito corporativo é exigente, desagradável e não tão lucrativa quanto pode ser no lado dos negócios”, disse Golub, que se formou no programa em 1984 e fundou sua sociedade de ex-alunos.

Para muitos formados, disse Golub, a lição mais difícil após uma vida de sucesso ininterrupto é que “você não vai morrer se fracassar”.

Nos anos 70, muitos dos formados ingressaram no ramo de consultoria de gestão, como fez Romney, mas em grande parte da história do programa, as finanças dominaram, o que algumas pessoas ligadas ao programa consideram levemente decepcionante. Salter disse que esperava que o programa formasse mais funcionários públicos.

Mas ex-estudantes e professores dizem que faz sentido que um grupo de sobrequalificados seja atraído pelos mercados financeiros, um campo hipercompetitivo com a promessa de riqueza imensa.

Adebayo O. Ogunlesi, formado pelo programa, disse: “Eu queria ser um advogado corporativo ou comercial e achei que conheceria clientes potenciais na faculdade de administração e negócios de Harvard”.

Mas Ogunlesi, que entre seus colegas de classe contava com o ministro-chefe da Suprema-Corte, John G. Roberts Jr., praticou direito apenas brevemente. Ele se tornou chefe de investimento do Credit Suisse, depois presidente da Global Infrastructure Partners.

“Quando você está negociando como banqueiro, ajuda acrescentar alguns termos legais para sugerir que você pode ajudá-los a pensar como um negócio pode ser fechado do ponto de vista legal”, ele disse.


Os estudantes começam cursando o primeiro ano de um programa, depois o primeiro ano do outro. No terceiro e quarto ano, eles frequentam aulas de ambos.

Aqueles que começam pelo primeiro ano da faculdade de direito –frequentemente considerado o mais difícil– como Romney, apresentam maior probabilidade de concluírem ambos os cursos.

Mas em outro aspecto, Romney é atípico. Ele é apenas um de dois ex-alunos que apresenta uma carreira de destaque na política, juntamente com Christopher Cox, um ex-deputado federal e presidente da Comissão de Valores Mobiliários. (Em uma curiosidade histórica, Jack Ryan, o adversário republicano de Obama na disputa em 2004 pela cadeira no Senado por Illinois, também era formado pelo JB-MBA de Harvard. Ele abandonou a disputa em meio às alegações de que tinha pressionado sua ex-esposa a frequentar clubes de sexo.)

Enquanto a política permanecer uma carreira instável e relativamente mal remunerada, não se espera que muitos dos alunos do curso sigam o caminho da política. Mais um motivo para outros formados no programa de dupla graduação, independente de apoiarem ou não Romney, admitirem ficar intrigados pela perspectiva de um deles poder se tornar presidente.

“Quem sabe, talvez nossa próxima reunião seja realizada na Casa Branca”, disse Golub.