Em ato simbólico, Kassab se antecipa e "transmite" cargo a Marcos Pontes
Quatro dias antes da posse do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), o primeiro de seus futuros ministros já assumiu o posto de forma simbólica, em cerimônia realizada na tarde desta sexta-feira (28).
Ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab transmitiu o cargo ao astronauta Marcos Pontes, que é tenente-coronel da reserva da Aeronáutica.
O motivo do "ato simbólico", como foi chamado o evento no convite, é o futuro de Kassab, que aceitou o convite do governador eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), para integrar sua gestão.
Em discurso no início da cerimônia, iniciada com quase 45 minutos de atraso, Kassab chamou Pontes de "meu querido amigo" e saudou os secretários e dirigentes de órgãos vinculados à pasta. "Você é um privilegiado, porque aqui efetivamente tem pessoas diferenciadas", disse ele ao astronauta.
O ministro falou do "desafio muito grande" de assumir a pasta em uma conjuntura econômica "muito desfavorável" e durante crise política "muito profunda", no momento em que dois ministérios se fundiram. "Hoje nós temos aqui um grande ministério, com uma grande importância", exaltou.
Após a leitura de seu currículo, que inclui a participação em uma missão espacial na Nasa como representante do Brasil, Marcos Pontes recebeu do atual ministro um broche afixado ao terno.
No seu pronunciamento, ele comparou a expectativa para "cumprir essa missão no meio de tanta tempestade" com a própria experiência como piloto. "A gente sabe que não é fácil", comentou, dizendo que espera "contar com o coração" de todos os servidores do ministério. "Isso aqui não é um emprego", disse.
Segundo Pontes, o ministério deverá servir como ferramenta de desenvolvimento para ser usada por todos os outros setores e quem trabalhar na pasta deve se basear em três objetivos:
- produzir conhecimento
- produzir riquezas para o país
- contribuir para a qualidade de vida das pessoas
Kassab integrará governo Doria
O atual ministro será chefe da Casa Civil na administração estadual de Doria, mas decidiu se licenciar do cargo assim que tomar posse, em 1º de janeiro, para se dedicar à sua defesa.
Réu em ação civil na Justiça de São Paulo, sob acusação de improbidade por supostamente ter recebido R$ 21 milhões em caixa dois da Odebrecht, Kassab é um dos fundadores do PSD e foi um dos principais articuladores políticos da campanha de Doria.
No último dia 18, o ex-prefeito de São Paulo (2006-2012) foi alvo de uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal, baseada em depoimento de um delator da JBS, que apontou pagamentos irregulares a ele entre 2010 e 2016. Kassab nega qualquer irregularidade.
No documento em que requereu ao STF (Supremo Tribunal Federal) buscas em imóveis do ministro e de seu irmão, Renato, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmou que o político continuou recebendo mesada da JBS mesmo depois de assumir o ministério no governo de Michel Temer (MDB).
Antes, ele ocupou o cargo de ministro das Cidades no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Já o nome de Pontes foi confirmado por Bolsonaro para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Comunicação em 31 de outubro, três dias após o segundo turno da eleição presidencial. Ele foi o quarto dos 22 ministros anunciados pelo presidente eleito.
De acordo com a assessoria de imprensa da pasta, a posse oficial ocorrerá no próximo dia 2, sem a presença de Kassab, que estará em São Paulo.
Bolsonaro não comparece ao evento. Ele está no Rio de Janeiro, onde se encontrou com o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, e deve chegar a Brasília neste sábado (29).
O ato ocorreu no auditório da sede do ministério, que estava lotado. Dois púlpitos foram posicionados no palco, diante de uma bandeira do Brasil.
Outro lado
Em nota à época da ação da PGR, Kassab se defendeu das acusações e diz confiar na Justiça. "Kassab entende que quem está na vida pública deve estar sujeito à especial atenção do Judiciário. Reforça estar à disposição para quaisquer esclarecimentos que se façam necessários e ressalta, mais uma vez, que todos os seus atos seguiram a legislação e foram pautados pelo interesse público", diz a nota enviada por sua assessoria.
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