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Polícia do Rio prende suspeitos do assassinato de Marielle Franco

Marcela Lemos e Nathan Lopes*

Colaboração para o UOL, no Rio, e do UOL, em São Paulo

12/03/2019 05h55Atualizada em 12/03/2019 15h57

Resumo da notícia

  • O policial reformado Ronnie Lessa é suspeito de ser autor dos disparos que mataram Marielle e Anderson
  • O ex-PM Élcio Vieira de Queiroz estaria na condução do carro onde estava Lessa
  • Residências dos dois suspeitos foram alvo de mandados de busca e apreensão
  • O crime completa um ano na próxima quinta-feira (14)

Um policial militar reformado e um ex-PM foram presos na madrugada de hoje suspeitos de participação direta no assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) e do motorista do carro em que ela estava, Anderson Gomes. O crime completa um ano na próxima quinta (14). O policial reformado Ronnie Lessa, 48, e o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz, 46, foram alvos da Operação Lume, realizada em conjunto pela Polícia Civil com o MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro).

Segundo a Promotoria, Lessa é apontado como o autor dos disparos que matou os dois. Já Queiroz, que foi expulso da PM, estaria conduzindo o carro usado no crime, de acordo com as investigações. Os dois foram denunciados pelo MP por duplo homicídio qualificado. Os advogados dos dois presos negaram que ambos tiveram participação no crime (veja abaixo).

O ex-PM Élcio Vieira de Queiroz (esq.) e o PM reformado Ronnie Lessa - Arte/UOL - Arte/UOL
O ex-PM Élcio Vieira de Queiroz (esq.) e o PM reformado Ronnie Lessa
Imagem: Arte/UOL

As prisões foram autorizadas pelo juiz Gustavo Gomes Kalil, da 4ª Vara Criminal do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro).

Até agora, apesar das prisões de hoje, a polícia não deu informações sobre a motivação do crime e se ele teve um ou mais mandantes. Duas entrevistas coletivas (uma com o governador Wilson Witzel (PSC) e outra do MP) estão previstas para hoje.

No carro onde estavam Marielle e Anderson, também estava a assessora da parlamentar Fernanda Chaves, que não foi atingida pelos disparos. Os dois suspeitos também foram denunciados pelo MP por tentativa de homicídio contra ela.

Lessa foi preso em condomínio onde Bolsonaro tem casa

Lessa foi preso em sua casa, no mesmo condomínio onde o presidente Jair Bolsonaro (PSL) tem uma casa, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. O delegado Giniton Lopes, da Delegacia de Homicídios, afirmou que não há qualquer relação entre Bolsonaro e o crime..

Contra Lessa, o MP também pediu a suspensão da sua remuneração e do porte de arma de fogo do policial militar reformado.

A Promotoria também pede que se pague uma indenização por danos morais aos familiares das vítimas, além de que seja fixada uma pensão em favor do filho menor de Anderson até que ele complete 24 anos de idade. Atualmente, ele possui dois anos de idade.

Além das prisões, a operação cumpriu mandados de busca e apreensão nos endereços dos suspeitos. O objetivo é apreender documentos, telefones celulares, notebooks, computadores, armas, acessórios, munições e outros objetos.

"A empreitada criminosa foi meticulosamente planejada durante os três meses que antecederam o atentado", diz a Promotoria.

O MP diz que "é inconteste que Marielle foi sumariamente executada em razão da atuação política na defesa das causas que defendia". Para os promotores, o assassinato foi um golpe ao "Estado Democrático de Direito".

12.mar.2019 - Carro do policial militar reformado Ronnie Lessa, suspeito de ser o autor dos tiros que assassinaram Marielle Franco e Anderson Gomes, foi apreendido pela Polícia Civil - Jose Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo - Jose Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo
12.mar.2019 - Carro do policial militar reformado Ronnie Lessa, suspeito de ser o autor dos tiros que assassinaram Marielle Franco e Anderson Gomes, foi apreendido pela Polícia Civil
Imagem: Jose Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo

Lessa pesquisou sobre Marielle, diz MP

De acordo com as investigações, Lessa fez pesquisas regulares na internet sobre os locais que Marielle frequentava. O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e o, na época, interventor na segurança pública do Rio, o general Braga Neto, também eram alvo de buscas na rede.

No Twitter, Freixo criticou a demora da investigação. "As prisões dos executores de Marielle e Anderson são importantes e tardias. É inaceitável que se demore um ano para termos alguma resposta. É um passo decisivo, mas o caso não está resolvido. É fundamental saber quem mandou matar e qual a motivação".

O nome da operação, Lume, é uma referência a uma praça no centro da capital fluminense conhecida como Buraco do Lume. No local, Marielle desenvolvia um projeto chamado "Lume Feminista". Lá, ela também costumava se reunir com outros defensores dos Direitos Humanos e integrantes do PSOL. De acordo com o MP, outro motivo para o nome é que a expressão "trazer a lume" significa "trazer ao conhecimento público, vir à luz".

Queiroz foi expulso da PM por fazer segurança ilegal

Suspeito de ser o motorista do carro usado no crime, Queiroz foi expulso da Polícia Militar por fazer segurança ilegal em uma casa de jogos de azar no Rio de Janeiro. Ele foi um dos 43 denunciados pela Operação Guilhotina, deflagrada em fevereiro de 2011 pela Polícia Federal.

A investigação revelou um esquema de corrupção policial que incluía a venda de informações sobre operações e de espólio de guerra do tráfico, além do serviço ilegal de vigilância.

De acordo com a denúncia do MP do Rio, Queiroz fazia parte um grupo de 13 pessoas que atuava como segurança em casas de jogos de azar no bairros de Bonsucesso, Barra do Guaratiba e Botafogo. À época, ele estava lotado no 16º Batalhão da PM (Olaria).

Em 2016, a Corregedoria Geral Unificada da Secretaria da Segurança Pública decidiu expulsar Élcio e pelo menos outros sete PMs da corporação.

Outro lado

A defesa de Queiroz explicou que o ex-PM sequer estava no local do crime no dia. "Tenho certeza que não há foto dele no carro, nem muito menos gravação dele neste dia. Tenho certeza que a vítima que sobreviveu não vai reconhecer o meu cliente", explicou o advogado Luiz Carlos Azenha.

Ele classificou de "trapalhada" a medida do MP e da Polícia Civil. "Trata-se mais uma vez de outra trapalhada da Polícia Judiciária com todo respeito à gloriosa Polícia Civil, mas nós já vimos que esse procedimento criminal, persecução penal, vem de outras trapalhadas", disse.

O advogado Fernando Santana, responsável pela defesa de Lessa, também destacou a inocência do seu cliente. "Tive contato com ele muito rápido, mas ele nega que tenha cometido qualquer tipo de assassinato. Vou ter acesso ao inquérito, pois até agora não tive - primeiro está em segredo de Justiça, mas agora já peticionamos para poder termos ideia de como chegaram na prisão do Ronnie Lessa", afirmou.

*Colaborou Thiago Fernandes, em São Paulo