Topo

Esse conteúdo é antigo

Delegado do caso MEC vê perseguição da cúpula da PF: 'Tiram meu foco'

Polícia Federal - Divulgação/Polícia Federal
Polícia Federal Imagem: Divulgação/Polícia Federal

Colaboração para o UOL

23/09/2022 09h27Atualizada em 27/09/2022 10h45

O delegado da PF (Polícia Federal) Bruno Calandrini, responsável pela operação que levou à prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, afirmou à coluna de Rodrigo Rangel, no site Metrópoles, que tem sido perseguido pelos colegas de corporação após acusar policiais de interferência na investigação.

Uma sindicância interna, porém, chegou à conclusão de que não houve interferência na operação contra Ribeiro. Segundo o Metrópoles, a apuração também propôs um procedimento administrativo disciplinar contra o delegado.

"A instauração de um procedimento administrativo concomitante à investigação é algo que tem caráter perseguidor. É uma forma de desestabilizar e trazer preocupações outras que tiram o meu foco", disse Calandrini.

A reportagem do UOL entrou em contato com a PF sobre a declaração do delegado. Caso haja resposta, o texto será atualizado.

Como noticiou o UOL na quarta-feira (21), o delegado da PF pediu para tomar depoimentos do diretor-geral da corporação, Márcio Nunes de Oliveira, do diretor de Combate ao Crime Organizado, Caio Pelim, e de mais dois policiais federais.

Calandrini já havia pedido a prisão da cúpula da PF, ou seja, de seus chefes, por suposta interferência no caso. O pedido está com a ministra do STF (Supremo Tribunal Federal) Cármen Lúcia.

Além de Oliveira e Pelim, o delegado Calandrini quer ouvir também o superintendente da PF em São Paulo, Rodrigo Bartolamei, e o delegado Raphael Astini, lotado em Santos (SP) e responsável pela prisão de Ribeiro.

Astini já apresentou um pedido de habeas corpus ao Supremo, alegando que a medida adotada por Calandrini se trata de uma "investigação paralela, sem autorização" e uma "vingança pessoal".

O delegado de Santos diz que está sendo alvo de apuração aberta por Calandrini sobre suposta prevaricação após Milton Ribeiro não ter sido transferido para Brasília após a prisão. Em pedido enviado à ministra Cármen Lúcia, Astini pede que a investigação seja suspensa.

"Ao proceder à persecução penal por suposta (inexistente) prevaricação do paciente, e proceder para seu indiciamento, a autoridade Bruno Calandrini atua em nítido abuso de autoridade", afirmou Astini.

Delegado denunciou falta de autonomia

As acusações de suposta interferência interna na operação da PF contra Milton Ribeiro começaram no mesmo dia da prisão do ex-ministro.

Logo após a operação, Calandrini enviou uma mensagem em grupos de colegas afirmando que não tinha "autonomia investigativa e administrativa" para conduzir o caso "com independência e segurança institucional".

O delegado se queixou que Milton Ribeiro foi tratado com "honrarias não existentes na lei", e que, apesar do empenho da equipe em levá-lo para Brasília, o ex-ministro foi transferido para a Superintendência da PF na capital paulista, onde ficou até ser solto.

Calandrini afirmou que Milton Ribeiro "estava ciente da execução de busca e apreensão em sua residência", e que recebeu a informação "supostamente" através de ligação recebida do presidente Jair Bolsonaro.

Balcão de negócios do MEC

Ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro foi preso no dia 22 de junho em Santos e levado para a Superintendência da Polícia Federal. A apuração mirava suposta atuação de Ribeiro e dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura em esquema para liberação de verbas do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), órgão do governo controlado pelo centrão.

Por decisão do desembargador Ney Bello, do TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), Milton Ribeiro foi liberado no dia seguinte, antes de prestar audiência de custódia em Brasília.

Os pastores são acusados de montar um "balcão de negócios" dentro da pasta ao supostamente cobrar propinas de prefeitos em troca de liberação de recursos do FNDE. O caso foi revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Em março, áudio obtido pelo jornal Folha de S.Paulo revelou que o governo federal priorizou a liberação de recursos a prefeituras indicadas pelos pastores, que atuavam como lobistas na pasta, apesar de não terem cargos oficiais no governo.