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A jornalista Carla Bigatto conduz com analistas um papo sobre temas que dominam a pauta política.


Baixo Clero #41: Quando acuado, Bolsonaro se dispõe a romper ordem institucional

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Do UOL, em São Paulo

29/05/2020 04h00

Jair Bolsonaro (sem partido) reagiu com veemência após a Polícia Federal ter cumprido 29 mandados de busca e apreensão contra empresários e apoiadores do governo federal. A operação realizada anteontem está relacionada ao inquérito das fake news, conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). O presidente adotou um discurso que aumentou a tensão em relação ao STF.

No podcast Baixo Clero #41, os jornalistas Carla Bigatto, Diogo Schelp e Maria Carolina Trevisan analisam os desdobramentos da operação da PF, a resposta do presidente e os riscos de um rompimento da ordem institucional — ameaçado nos discursos de Bolsonaro e de seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

Na opinião de Schelp, a fala em tom elevado de Bolsonaro é uma demonstração de que o presidente se sente acuado e a democracia está em alerta, no momento em que ele usa um tom elevado contra o STF.

"Essa fala do Bolsonaro no dia seguinte à operação foi uma frase muito dura e muito histriônica, digamos assim. Pode demonstrar ali um pouco o desespero do presidente. Mas eu acho que o mais grave na situação atual é que, quanto mais ele se vê acuado, mais disposto está, e o entorno dele também, em promover um rompimento da ordem institucional", afirma Schelp (disponível no arquivo acima a partir de 14:00).

"Nós tivemos uma sequência de ameaças muito claras a essa ordem institucional brasileira. O Bolsonaro nunca foi um fã da Constituição de 1988, isso ele já deixou claro em outras vezes. Quando fala que o povo está do lado dele, não está falando do povo da Constituição, que é um povo plural. Ele não entende esse conceito de povo plural. Então isso é muito grave. E quanto mais ele se sente acuado, mais tenta empurrar o Brasil para esse precipício do autoritarismo", completa o jornalista.

Corda esticada com o STF

Maria Carolina Trevisan faz um alerta para o risco que a democracia corre no país, em relação aos conflitos do governo federal com o Poder Judiciário a cada vez que uma medida para conter o autoritarismo desagrada o presidente e seus apoiadores.

"Eu acho até perigoso querer forçar mais ainda esse cabo de guerra que está se colocando entre o governo federal e as instituições. O Supremo está esticando bastante essa corda. Que mais pode acontecer? Eu tenho medo de um próximo problema que venha do governo federal. Precisamos respeitar os meios democráticos de conter o autoritarismo do presidente e a influência dos filhos", pondera Trevisan.

A narrativa do governo também é apontada por Schelp como um risco no caso de o STF manter o acirramento. Ele cita a mudança de atitude de Bolsonaro em relação ao Congresso, depois que os presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), conseguiram apaziguar a relação entre os Poderes.

"O Bolsonaro e as pessoas do seu entorno dizem que o rompimento da ordem institucional não viria dele [presidente]. A acusação que fazem é que há uma tentativa de rompimento da ordem institucional vinda de outras instituições da República, então eles acusam o STF de estar promovendo esse rompimento. Se tomar uma atitude drástica, a expressão que o Bolsonaro usou foi de recorrer às armas da democracia. E aí a gente entende que ele está se referindo às Forças Armadas", diz Schelp.

"Claramente esses Poderes precisam ter uma postura diferente, porque esse governo não é um governo normal. Parece que o Congresso aprendeu a lidar com o presidente. O Maia, da Câmara, e o Alcolumbre, do Senado, entenderam que precisavam baixar o tom, às vezes deixar o presidente falando sozinho, para que as coisas não se tornassem quentes demais", conclui o jornalista.

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