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Perfil: autor de tiros em Colorado não dava sinais de ser violento

Imagem divulgada nesta sexta-feira (20) mostra James Holmes, suposto atirador do cinema - The University of Colorado/Reuters
Imagem divulgada nesta sexta-feira (20) mostra James Holmes, suposto atirador do cinema Imagem: The University of Colorado/Reuters

20/07/2012 17h49

Garrafas de soda espalhadas pelo apartamento, no topo de um prédio de três andares e tijolos vermelhos num bairro decadente. O edifício é reservado para estudantes de Medicina, professores e funcionários da universidade local. Aparentemente, acomodações típicas de um doutorando de 24 anos, com uma diferença: a polícia crê que o lugar esteja repleto de armadilhas.

A apenas 6,4 km de distância de seu apartamento em Aurora, cidade do Colorado (EUA), James Eagan Holmes se tornou uma celebridade nacional na sexta-feira (20), identificado pela polícia como o atirador que abriu fogo em um cinema, matando 12 pessoas e ferindo dezenas, usando uma armadura, luvas pretas e uma máscara de gás.

Segundo a polícia, Holmes, preso em um estacionamento atrás do cinema, encheu seu apartamento com sofisticados explosivos, criando perigos para as autoridades e esquadrões antibomba que averiguaram o lugar. O quarto do suspeito estava repleto de fios ligados ao que pareciam ser garrafas plásticas com um líquido desconhecido, afirma Chris Henderson, chefe dos bombeiros de Aurora.

Um foto de Holmes divulgada na sexta-feira (20) não mostra nada incomum. Em lugar da roupa à prova de balas, ele usa uma camiseta com gola laranja queimada. É um belo rapaz, de cabelo escuro, sobrancelhas proeminentes e longas costeletas. Há um leve sorriso em seu rosto, e fios de barba cobrem seu queixo.

Em outra foto, de seu anuário da escola secundária em San Diego, Holmes veste uma roupa escura, com um sorriso aberto. O jovem se formou na escola secundária Westview High School em San Diego em 2006.

O FBI descreveu Holmes como um homem branco, de 1,90 metro de altura, nascido em 13 de dezembro de 1987, sem antecedentes criminais ou vínculo com grupos terroristas.

Em uma solicitação para alugar um apartamento do início de 2011, Holmes se descreveu como um estudante "tranquilo e de convívio fácil", segundo o jornal "Denver Post".

Cerveja e futebol americano

Entre os que reconheceram a foto como sendo o rapaz está Jackie Mitchell, 45, carregador de móveis que vive a uma quadra e afirma que encontrou Holmes no Zephyr Lounge, um bar próximo, na tarde de terça-feira (17). 

"Minha reação foi tipo 'meu, eu conheço aquele cara!'", disse ele, recordando sua reação à foto. Segundo Michell, ele e Holmes beberam algumas cervejas - naquele dia havia uma promoção de rodada dupla, duas cervejas por US$ 2 - e conversaram sobre o time Denver Broncos, de futebol americano. Holmes estava de jenas, óculos apoiados na nuca e mochila.

O jovem se mostrou esperto, disse Mitchell, e falava usando bravatas.

De fato, Holmes aparenta ser inteligente e aplicado. Nascido em 13 de dezembro de 1987, ele passou parte da infância em San Diego, onde seus pais ainda vivem, em uma pacata rua do subúrbio. Seu pai registrou a patente de uma tecnologia capaz de detectar fraude em sistemas de telecomunicações.

Holmes tirou o diploma de neurociência da universidade Riverside, da Califórnia, mas não conseguiu achar emprego após retornar a San Diego, há alguns anos. Durante aproximadamente um ano, ele trabalhou meio período no McDonald's, segundo Tom Mai, um vizinho da família Holmes em San Diego. 

Gentil e sem antecedentes

Durante uma festa de Natal, conta Mai, Holmes lhe ofereceu refrigerantes. "Ele foi muito gentil com meus filhos", disse Mai. "A família era amável e estava envolvida com uma igreja presbiteriana", acrescentou Mai.

Em um comunicado, a família de Holmes disse estar cooperando com os investigadores.

"Ainda estamos processando as informações e agradecemos se as pessoas respeitarem nossa privacidade", declarou a família Holmes, depois de a mãe do jovem, Arlene Holmes, confirmar que seu filho era o suspeito do tiroteio que deixou 12 mortos e 59 feridos.

Em junho de 2011, Holmes estava no Colorado, onde se inscreveu em um programa de doutorado em neurociência na universidade de Colorado Denver/Anschutz. Na sexta-feira (20), a escola disse em nota que Holmes estava em processo de deixar a universidade.
 
Até sexta-feira (20), o único outro encontro de Holmes com a polícia foi uma multa de trânsito, segundo autoridades.
 

Rap, racismo e música alta

Quando não estava na escola, Holmes costumava ficar na frente de seu prédio, em uma parte de Aurora onde drogas e tiroteios não são raros, segundo moradores. Outra vizinha, Rachel Reed, 25, o viu algumas vezes na fachada do edifício, com sua mochila.

Há alguns meses, ela topou com ele no Zephyr. Rachel tinha escolhido uma música do rapper Lil Wayne na jukebox. Holmes reclamou da escolha, ela afirma, e disse preferir rock'n'roll. Neste momento, Holmes "fez alguns comentários racistas sobre rap", diz ela.  "Ele parecia um cara normal, um pouco tonto." 

"Ninguém o conhecia. Ninguém", afirmou um estudante de Farmacologia em declarações ao "Denver Post". O rapaz mora no mesmo prédio que Holmes em Aurora. O estudante, que disse apenas se chamar Ben, contou que Holmes era uma pessoa reservada, que nem ao menos cumprimentava as pessoas no corredor.

Ben também informou que havia chamado a polícia pouco depois da meia-noite - mesma hora do massacre durante uma sessão da estreia do filme "Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge"-- para se queixar da música alta vindo do apartamento de Holmes. 

Ben afirmou que parecia tocar a mesma canção todo o tempo.

Entenda o caso

Agentes de segurança norte-americanos evacuaram na manhã desta sexta-feira (20) o edifício do suspeito de matar 12 pessoas e ferir mais de 30 em uma sala de cinema em Aurora, no subúrbio de Denver, no Estado do Colorado. A informação é da rede de TV americana CNN. As vítimas assistiam a uma sessão especial do filme "Batman - o Cavaleiro das Trevas Ressurge" que havia começado à meia-noite.

O chefe da polícia local, Dan Oates, disse à CNN que a ação na casa do suspeito teve por base o fato de que "ele [um jovem de pouco mais de 20 anos, preso após o incidente] fez uma declaração sobre explosivos".

Os agentes ainda fizeram buscas no carro do suspeito em busca de explosivos. Conforme uma fonte oficial à rede de TV americana, na casa do rapaz foram localizados “itens de interesse” às investigações --os quais, contudo, não foram detalhados.

Uma vizinha do prédio, que mora do outro lado da rua onde o suspeito supostamente viveria, disse à emissora que seu prédio também foi esvaziado pela polícia por volta das 4h locais.

“Eles (policiais) nos disseram que havia uma bomba ou material explosivo localizado do outro lado da nossa rua”, relatou a moradora.

A investigação apura ainda como as armas usadas pelo suspeito foram obtidas.

"Nunca poderemos compreender", diz Obama

O presidente Barack Obama pediu aos norte-americanos que o tiroteio seja “um lembrete” de que “estamos unidos como uma só família americana”. “Nós nunca poderemos compreender o que leva alguém a aterrorizar os demais seres humanos assim", classificou.

"Faremos tudo o que for possível para levar o responsável desse terrível ataque à Justiça", completou o presidente.

Mais cedo, em um comunicado, o presidente --que está em campanha pela reeleição --afirmara que ele e a primeira-dama, Michelle, estavam “chocados e entristecidos com o trágico e horroroso tiroteio em Colorado".

"Ele atirou em quem aparecia pela frente", diz testemunha

Testemunhas do tiroteio relataram que o atirador agiu “calmamente” antes de abrir fogo.

Segundo a rede de TV americana CNN, a polícia revisou e corrigiu o número de mortos inicialmente divulgado, 14. Entre os feridos, segundo o hospital da Universidade do Colorado, há um bebê de apenas três meses de idade. O número de vítimas não fatais também foi corrigido --inicialmente, estava em 50 feridos.

Vídeo mostra pessoas saindo de cinema onde atirador matou 12

Hoje de manhã, o porta-voz do FBI, Jason Pack, disse à rede de TV CNN que o caso não parece estar relacionado a um ato de terrorismo. Já o chefe de polícia Dan Oates, que confirmou o número de mortos e feridos, disse não haver evidências de um segundo atirador.

Segundo testemunhas relataram à BBC, o atirador estava mascarado e lançou uma bomba com um gás não identificado antes de abrir fogo contra a multidão. Uma delas, que estava dentro da sala atacada, chamada Pam, disse que 30 ou 40 minutos depois do início do filme um homem entrou pela porta direita que ficava perto da primeira fila.

"Ele atirou no ar, então comecei a ouvir o 'bang, bang, bang' de um revólver. Eu engatinhei, abaixada entre a fila de cadeiras, e por sorte estava perto da saída, então consegui escapar rapidamente. Ouvi mais tiros à medida que fugia", disse a testemunha. "Tenho quase certeza que ele estava usando uma máscara. Ele jogou um cilindro para o alto, podia ser uma bomba de gás, ou de gás lacrimogêneo", disse.

À CNN, outra testemunha declarou que o homem "subiu calmamente as escadas (da sala de cinema) atirando em quem aparecia pela frente".

Atirador estava fortemente armado, diz polícia

O porta-voz do departamento de polícia de Aurora, Frank Fania, disse que o homem, um jovem de pouco mais de 20 anos, portava uma espingarda, uma escopeta, uma pistola e um colete à prova de balas. Os motivos da ação ainda são desconhecidos.

"As testemunhas disseram que o homem apareceu na parte da frente da sala, mas não está claro se ele apareceu por detrás da tela ou por uma das portas, e começou a disparar", acrescentou Fania.

Em entrevista À CNN, Fania declarou que o rapaz não resistiu à voz de prisão. "Ele não resistiu. Ele não colocou uma luta", disse.

 Centenas de pessoas foram ao cinema com fantasias dos personagens da série para assistir o filme.

Local é próximo de palco de outro massacre

O cinema em Aurora fica a 32 quilômetros da escola Columbine, onde dois estudantes mataram a tiros 13 colegas em 1999. Adolescentes, Dylan Klebold e Eric Harris se armaram com armas e bombas e abriram fogo dentro da escola. Além dos 13 mortos, eles feriram outras 23 pessoas antes de se matar.

O incidente de hoje em Denver foi o maior ataque a tiros nos EUA desde 2007, quando o estudante Seung-Hui Cho matou 32 pessoas no campus da faculdade de Virginia Tech antes de se matar.  (da Reuters, com agências internacionais)