Topo

Sonda procura voo MH370 em área nove vezes maior que São Paulo

Jon Donnison

Correspondente da BBC News na Austrália

06/03/2015 09h54Atualizada em 06/03/2015 11h16

"Temos de acreditar que encontraremos algo", diz Brady Hernandez, um americano do Estado da Louisiana, com um sotaque sulista "carregado". "Só não sabemos se vamos conseguir."

Decorrido quase um ano e apesar de uma conta de dezenas de milhões de dólares, o maior mistério da história da aviação permanece sem resolução.

E Hernandez sabe disso melhor que ninguém. Ele é um dos coordenadores da equipe de buscas pelo voo MH370, da Malaysia Airlines.

O americano fala no convés do Fugro Supporter, um dos quatro navios envolvidos na missão de tentar localizar o Boeing 777, desparecido desde março do ano passado, com 227 passageiros e 12 tripulantes a bordo.

Ele parece bem relaxado para alguém que acaba de voltar para o porto de Perth, na Austrália, depois de sete semanas em alto-mar, no oceano Índico.

"Não é tão ruim assim", diz Hernandez, sorrindo.

Mas é. A zona de buscas pelo MH370 é um dos locais mais remotos do mundo. Fica a 1.800 km da costa Oeste da Austrália e apenas a jornada marítima até a região dura seis dias, mesmo com os navios em velocidade máxima.

Na mais recente viagem, a tripulação de 40 pessoas do Fuggro Suppporter passou por maus bocados.

"O mar estava revolto e havia muitos ventos", lembra Mike Dixon.

Dixon, um ex-oficial da Marinha Britânica, conta que o navio enfrentou dois ciclones que fizeram as ondas chegarem a 15 metros de altura.

O mau tempo é apenas um dos fatores que dificultam ainda mais a missão de busca.

Para começar, a área de buscas é calculada de acordo com os últimos dados de satélite sobre a localização do avião. E tem 60 mil quilômetros quadrados.

E o equipamento de buscas submarinas opera em velocidades comparáveis a de uma caminhada.

"Nove São Paulos"

Imagine, então, alguém caminhar por uma área quase nove vezes maior que a região metropolitana de São Paulo à procura de alguma coisa. E agora imagine fazê-lo em águas de até 5 mil metros de profundidade.

"Temos um alvo muito pequeno numa área muito extensa", diz Dixon.

"Um avião pode parecer grande quando alguém o vê no solo, mas em relação à area em que o estamos procurando este avião é bem pequeno."

E a área de buscas é apenas parte do que se acredita ser a rota que o MH370 pode ter percorrido - o avião desviou do plano de voo original, entre Kuala Lumpur, na Malásia, e Pequim.

Um erro mínimo nos cáculos pode simplesmente significar que os navios estão procurando pelo Boeing 777 no lugar errado.

Sendo assim, é preocupante pensar que mais de 40% da chamada "zona prioritária" tenham sido vasculhados e nada encontrado. Mas para as equipes envolvidas nas buscas, não faz sentido pensar de forma negativa.

"Se a orientação foi que a atual zona é o melhor lugar para procurarmos o avião, então temos que fazê-lo", diz Brady Hernandez.

Os navios usam dois tipos de equipamentos. O primeiro é chamado tow fish, um sonar submarino atrelado ao um cabo de 10 km de comprimento. É usado para mapear o fundo do oceano.

Se o tow fish detecta algo de interesse, as equipes de resgate podem enviar um submarino-robô, chamado de AUV, e que custa US$ 10 milhões.

O veículo é ocupado com uma câmera em preto e branco, além de sonar e sensores que podem detectar na água vestígios de óleo, combustível de avião e outros produtos químicos.

O problema é que o mini-submarino não pode ser usado em dias de tempo ruim, pois ele não fica atrelado ao barco e pode se perder.

Por isso, vários dias de busca foram perdidos por causa de tempestades.

Os custos das buscas podem ter passado de US$ 40 milhões, segundo estimativas da BBC.

Durante a semana, o premiê australiano, Tony Abbott, deu a entender que os esforços de busca poderão ser reduzidos e que "não poderão continuar para sempre".