Vai-Vai homenageia cultura negra, Marielle Franco e pede fim do preconceito
Maior campeã do Carnaval de São Paulo com 15 títulos, a Vai-Vai entrou na avenida apostando no enredo "Vai-Vai, o Quilombo do Futuro", desenvolvido pelos carnavalescos Hernani Siqueira e Roberto Monteiros. A escola quis retratar as lutas dos negros ao longo dos anos por justiça e igualdade, desde a escravidão, destacando seus feitos para o mundo.
Nomes como Nelson Mandela, Martin Luther King e Barack Obama foram lembrados pela agremiação, que também homenageou a vereadora Marielle Franco (PSOL), executada no ano passado em um crime ainda não solucionado. Luyara Santos e Anielle Franco, filha e irmã de Marielle, participaram do desfile.
Um dos carros alegóricos da Vai-Vai trouxe 23 convidados que são referência em seu trabalho ou no ativismo na luta pelos direitos da população negra, incluindo a filósofa e escritora Djamila Ribeiro e a deputada estadual Érica Malunguinho (PSOL). As atrizes Erika Januzza e Pathy Dejesus foram convidadas da escola.
A Vai-Vai foi a quarta agremiação a desfilar pelo Anhembi no segundo dia do Carnaval. A próxima a entrar na avenida será a Rosas de Ouro.
Voz da comunidade
A Vai-Vai entrou no Anhembi com um dos sambas-enredo mais diretos do Carnaval paulista. Com o refrão "É que eu sou da pele preta / Quilombo do povo, eu sou Vai-Vai / Um privilégio que não é pra qualquer um / Protegido e abençoado por Ogum", a composição clamou a plenos pulmões sobre as raízes dos negros e da origem da escola. O samba-enredo ainda falou sobre a força da mulher, o preconceito intolerável e afirmou que a "a luz da razão vai nos guiar".
Cuidados com os detalhes
O abre-alas mostrou de imediato que a Vai-Vai está no páreo por mais um título. O gigantesco carro que retratou o Egito Antigo carregou o ouro e o luxo para a avenida. Do amarelo poderoso ao vermelho sangue e às correntes usadas pelos escravos no século 17, o carro "Tumbeiros, Lágrimas, Sangue no Atlântico" representou escravos aprisionados em navios negreiros e construções na parede do carro salientavam a dor dos negros. A ala dos Afronautas também mereceu registro, com fantasias que refletiam as luzes e que deram um toque futurista para o desfile.
Marielle presente
Na ala "Eu Tenho Um Sonho", uma referência ao icônico discurso que Martin Luther King fez em 1963, diversos cartazes de protestos das lutas dos negros se juntaram para formar uma foto de Marielle Franco com a frase "Marielle presente!". Como diz a letra da canção, a ideia da Vai-Vai é seguir com a "luta que Mandela ensinou", explícita também na ala da "ascensão das mulheres pretas", "pantera negra" e com o carro "Sim, nós podemos", que apresentou um boneco representando o ex-presidente norte-americano Barack Obama.
Erika Januza
Erika Januza estreou no Anhembi em grande estilo. A atriz representou iemanjá com um figurino deslumbrante, feito com zircônia, cristais e cinco nuances de cores diferentes. A atriz aceitou desfilar pela Vai-Vai antes de saber o enredo. Quando o tema foi divulgado, ela comemorou por abordar o racismo enraizado na sociedade e admitiu após passear pelo sambódromo que realizou um sonho. "A gente ensaia tanto e passa tudo tão rápido. Foi maravilhoso, é uma euforia. É um enredo tão necessário e é uma coisa tão importante. Carnaval é entretenimento, mas também podemos trazer uma mensagem [como a de Marielle] na avenida. Eu fiquei muito feliz da Vai-Vai abrir as portas para mim", disse Erika.
O mini-carnavalesco
Miguel Luca foi o destaque da comissão de frente da Vai-Vai. Chamada de "O Sol da Religiosidade", a ala abordou temas fantásticos e a importância da cultura negra. O garoto atravessou o Anhembi de terno branco, representando o futuro do "povo preto", como a escola pregou durante o discurso. Miguel contou após o desfile que teve que improvisar em alguns momentos, mas conseguiu driblar o nervosismo. "Eu que tinha que me virar. Senti muita emoção [ao desfilar]", contou.
Veja abaixo samba-enredo da Vai-Vai.
Ô, Inaê, rainha do mar
Alodê, Iabá, Odoyá
Cuida de mim, mamãe, leva meu pranto
Em seus braços, o meu acalanto
Sorrir, sim, nós podemos sonhar
Pois temos um futuro pela frente
Punhos cerrados
A Saracura está presente
É que eu sou da pele preta
Quilombo do povo, eu sou Vai-Vai
Um privilégio que não é pra qualquer um
Protegido e abençoado por Ogum
É que eu sou da pele preta
Quilombo do povo, eu sou Vai-Vai
Um privilégio que não é pra qualquer um
Protegido e abençoado por Ogum
Axé, eu sou a negra alma do Bixiga
Herança que marcou a minha vida
Tem que respeitar minha raiz
O Orum vai desvendar toda a verdade
Pra resgatar a nossa identidade
Das linhas que a história apagou
África, a negra mãe da humanidade
Nas marcas de um passado tão presente
A luta que Mandela ensinou
É a força de lutar por nossa gente
Clamando a justiça de Xangô
Ô, Inaê, rainha do mar
Alodê, Iabá, Odoyá
Cuida de mim, mamãe, leva meu pranto
Em seus braços, o meu acalanto
Ô, Inaê, rainha do mar
Alodê, Iabá, Odoyá
Cuida de mim, mamãe, leva meu pranto
Em seus braços, o meu acalanto
Ecoa o grito forte na senzala
Nos olhos, brilha um novo amanhecer
Aruanda, ê, Aruanda
Trago a força de Palmares
Pra vencer demanda
Aruanda, ê, Aruanda
Trago a força de Palmares
Pra vencer demanda
A liberdade é minha por direito
Não vamos tolerar o preconceito
Somos todos irmãos
E a luz da razão vai nos guiar
Sorrir, sim, nós podemos sonhar
Pois temos um futuro pela frente
Punhos cerrados
A Saracura está presente
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