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Voluntária orienta fuga de brasileiros da Ucrânia: 'Cerco está se fechando'
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A psicanalista e educadora sergipana Mary de Jesus, 34, há dez dias dedica seu tempo para ajudar brasileiros a fugirem da Ucrânia invadida pela Rússia. O trabalho dela, que mora na Polônia, é mapear e orientar rotas para que todos deixem o território ucraniano em segurança em direção a uma das fronteiras terrestres do país. Ela faz parte do grupo de voluntários Frente BrazUcra.
"Eu ajudo fazendo esse percurso de forma remota, observando quais são as rotas mais favoráveis e tranquilas, em que não está tendo conflito, para que eles consigam fazer o trajeto da Ucrânia até a Polônia, Eslováquia ou Moldávia. Ou seja, o que estiver mais perto para a pessoa daquele momento", diz.
Mary mora há quatro meses em Zgorzelec, na Polônia, e alerta que, com o passar dos dias, o "cerco está se fechando" nos caminhos que são usados para fuga.
"Já há lugares que não são seguros de transitar. Não falo especificamente das fronteiras, mas dos lugares em que a pessoa passa até chegar na fronteira e que estão sendo tomados pelos russos", conta.
Segundo a voluntária, as fronteiras do extremo norte se tornaram mais perigosas, enquanto as do sul estão mais fluidas. Além disso, muitas fronteiras estão se tornando inviáveis por conta da quantidade de pessoas aglomeradas à espera de entrar em um país vizinho.
"Em Medika [Polônia], por exemplo, o tempo de espera é muito grande: são mais de 38 horas lá", explica, sugerindo que brasileiros busquem sempre ajuda para saberem qual a melhor rota a seguir para deixar o país.
Tudo tem de ser feito com muita cautela porque as fronteiras permanecem muito cheias, o tempo de espera em algumas é muito alto. Então é importante que, o quanto antes puder, a pessoa deixe a Ucrânia."
Mary de Jesus, voluntária
Mary conta que, por dia, tem ajudado em torno de cinco pessoas a deixar a Ucrânia. O grupo de voluntários abriu contas em redes sociais para que as pessoas entrassem em contato.
O voluntariado toma mais da metade do dia de Mary. Na quinta-feira, enquanto falava com o UOL, por exemplo, ela precisou parar a conversa por horas para ajudar um brasileiro que fugia de Kherson (cidade tomada no dia anterior pelos russos).
Mary é casada com o atacante Ezequiel Tiago, do clube polonês Ilowa. Ele joga na Europa há dois anos. Antes da Polônia, eles passaram por Alemanha e Irlanda do Norte. "Ele tem sido meu braço direito", diz.
Feijão com arroz na chegada
A Frente BrazUcra tem 32 pessoas atuando nos resgates e cinco carros neste momento na região.
"Já temos mais de 1,4 mil de inscritos no canal do Telegram e mais de 20 mil no Instagram", comemora.
O sistema de ajuda funciona com orientação da rota até a fronteira, onde carros buscam os brasileiros assim que chegam.
"Na fronteira que for, nós vamos com um carro buscar a pessoa. Levamos para a casa de um voluntário para que ela fale com a família, possa tomar um banho, comer uma comida", explica.
Uma das coisas com que eles se preocupam é uma boa recepção, para que os brasileiros resgatados sintam em casa. Em uma das fotos enviadas à coluna, um grupo tomava sopa e comia feijão com arroz e bife na casa de apoio na Polônia.
"Foram garotos jogadores de futebol que foram resgatados por nós. Essa casa fica a 30 minutos de Medika", diz.
Tentativas de fraude
Em meio à tragédia, ela chama a atenção para a forma de ajudar quem está socorrendo os brasileiros na Europa. Segundo o grupo, há pessoas criando páginas falsas usando o nome da Frente BrasUcra pedindo dinheiro.
"Estão fazendo outras contas do Facebook, pedindo Pix, e a gente não pede Pix. Só solicitamos e recebemos ajuda por meio da vaquinha", diz.
Para ela, por mais que se assista a vídeos ou leia notícias, os brasileiros não sabem "o que é a guerra de fato".
Espero que tenhamos mais humanidade e que possamos refazer ações e conceitos. Essa guerra tem a ver com cada um de nós, por mais perto ou longe que estejamos. Ter empatia salva vidas."
Mary de Jesus, voluntária
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