Irã faz ameaça contra EUA por apoio a Israel, que rejeita cessar-fogo
O governo do Irã lançou o que está sendo interpretado no meio diplomático como a ameaça mais direta contra os EUA. Num discurso nesta quinta-feira na Assembleia Geral da ONU, o chanceler iraniano, Hossein Amir Abdollahian, alertou que se os americanos não deixarem de financiar e armar "o genocídio em Gaza, eles não serão poupados desse fogo".
O alerta foi feito no momento que Israel amplia a ofensiva em Gaza e enquanto a ONU se reúne para votar uma resolução que pede um cessar-fogo na região. Israel já deixou claro que rejeita o texto.
"Estamos dizendo aos EUA que, se a operação de genocídio continuar, não iremos apenas assistir", disse Abdollahian. "Se o genocídio em Gaza continuar, os EUA não serão poupados de fogo", alertou, indicando para os riscos de que a guerra se espalhe pela região.
O iraniano fez um apelo para que a Casa Branca pressione Israel a interromper os ataques e que pare de dar dinheiro e armas para o governo de Benjamin Netanyahu. Ele criticou o fato de que as mais de 7 mil mortes de palestinos estão ocorrendo sem que europeus e americanos tomem uma atitude.
Segundo o chanceler, o Hamas não deve ser considerado como um grupo terrorista e aponta que o massacre contra israelenses em 7 de outubro foi "a explosão de um vulcão" diante da ocupação das terras palestinas. Líderes de todo o mundo condenaram os atos terroristas do Hamas, inclusive o Brasil. Já o regime iraniano, acusado de violações e repressão, vem mantendo o apoio ao grupo.
Proposta
O chefe da diplomacia do Irã ainda fez uma proposta ao discursar na ONU. Segundo ele, o Hamas está disposto a liberar os civis israelenses que foram sequestrados se 6 mil combatentes do grupo e que estão em prisões israelenses forem liberados. O governo iraniano, segundo ele, receberia esses civis e faria a troca, numa operação na qual também participaria o Catar.
O ministro ainda rejeitou qualquer processo de normalização de Israel na região.
Israel rejeita cessar-fogo
Instantes antes de o governo do Irã tomar a palavra, Israel já havia rejeitado a resolução proposta na ONU que pede um cessar-fogo na Faixa de Gaza. Enquanto isso, o embaixador palestino na ONU, Riyad Mansour, acusou o governo de Israel de estar fazendo 2 milhões de pessoas reféns.
A troca de acusações deu início à sessão de emergência da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, que votará uma resolução pedindo um cessar-fogo. O UOL apurou que o Brasil deve apoiar o texto.
Para Israel, porém, pedir cessar-fogo é dar "tempo para que o Hamas possa se armar" e "amarra as mãos do país". Segundo a diplomacia israelense, se o mundo quer acabar com a guerra, basta pressionar o Hamas a devolver os reféns israelenses.
Gilad Erdan, embaixador de Israel na ONU, deixou claro que seu país não pretende cumprir a resolução caso ela passe. "O texto absurdo merece ir para o lixo da história", disse. Ele ainda denunciou o fato de que, no encontro, o governo do Irã tenha sido autorizado a discursar — depois de ter mantido encontros com o Hamas e o Hezbollah.
Isso só mostra como a ONU está quebrado e é moralmente corrupta.
Gilad Erdan, embaixador de Israel na ONU
Segundo o embaixador, dessa forma, a entidade não chega aos 90 anos.
Newsletter
JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receberDepois de sucessivos vetos das principais potências no Conselho de Segurança da ONU, o órgão vai considerar a partir de hoje uma resolução que pede um "cessar-fogo imediato" em Gaza. O texto, ainda que politicamente seja relevante, tem apenas um aspecto de recomendação.
Seu maior impacto, porém, será o de mostrar o isolamento de EUA e Israel no debate e, assim, aumentar a pressão para que o Conselho de Segurança da ONU destrave as negociações para uma resolução com maior poder.
Nesta semana, numa cena descrita por diplomatas como "circo macabro", o Conselho não conseguiu chegar a um acordo sobre como responder à crise em Gaza. Um texto proposto pelos EUA foi vetado por Rússia e China, que acusaram Washington de sequer pedir um cessar-fogo.
Instantes depois, foi Moscou quem sugeriu um novo texto. Mas sem qualquer referência ao direito de autodefesa de Israel, a proposta foi derrubada por EUA e Reino Unido.
Diante do impasse, a solução encontrada pelos países árabes foi a de levar o tema para a Assembleia Geral, fórum no qual nenhum país tem poder de veto. Basta, portanto, o voto da maioria dos 192 países para que uma resolução seja aprovada.
Atrocidades apresentadas
Ao abrir o debate nesta quinta, foi a troca de acusações entre Israel e as autoridades palestinas que dominou o encontro. De ambos os lados, embaixadores apresentaram detalhes dos crimes cometidos contra suas respectivas populações.
Para Israel, a resolução é "absurda" e chamou a iniciativa de um voto de "hipócrita". Para o governo de Benjamin Netanyahu, a condenação deveria ser contra o Hamas. "É uma desgraça contra sua inteligência", disse o delegado israelense na ONU aos governos.
O governo de Israel alertou a reunião não tem qualquer relação com a paz e fez uma lista de crimes cometidos pelo Hamas. "Essa não é uma guerra contra os palestinos. Mas com o Hamas", disse o embaixador. "Hamas não liga para os palestinos. Apenas querem matar judeus", insistiu.
Já o diplomata palestino Ryad Mansour pediu que governos votem para "acabar a loucura" e que aprovem a resolução sob consideração. "Escolha a lei, e não vingança. Vote pela paz e para restabelecer credibilidade deste lugar (ONU)", disse.
Ele disse que 3 mil crianças foram mortas em Gaza em três semanas e 1,7 mil mulheres. No total, 7 mil mortes na região, das quais 70% eram mulheres e crianças.
"Quase todos são civis. Essa é a guerra que vocês defendem?", perguntou. "Isso é um crime", disse. "Pare as bombas, ou guerra vai se espalhar", disse.
Mansour fez ainda duras críticas contra o chanceler israelense. "Ele pede apoio para libertar os reféns feitos pelo Hamas. Mas fez 2 milhões de palestinos reféns", disse.
Ele lembrou que o chanceler de Israel foi ao Conselho de Segurança e disse que a reunião deve acabar com uma mensagem de que os reféns devem ser levados para casa. "Mas, para milhões de palestinos, não há casa para voltar", disse. "Ele diz como é ruim matar civis. Mas não deixou de matar civis", insistiu. "Ele acha que a diferença entre civilização e barbárie é quem ataca."
Mansour ainda criticou governos que não apoiam o cessar-fogo. "Como se pode se sentir dor pelos israelenses e não pelos palestinos? Qual o problema? Temos a fé errada e a cor errada?", questionou.
Mais de cem países estão inscritos para discursar entre hoje e amanhã.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.