Josmar Jozino

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Reportagem

PCC: Empresas de ônibus alvos do MP transportam de PMs a aposentados em SP

Criadas com dinheiro do PCC (Primeiro Comando da Capital), as empresas de ônibus UPBus e Transwolff transportam até mesmo policiais militares do CPChoque (Comando de Policiamento de Choque) que participaram da operação Fim da Linha, deflagrada ontem (9) contra as companhias.

Dirigentes das duas empresas são suspeitos de ligação com o PCC e foram alvos da operação conduzida por policiais militares e pelo MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo. Três investigados foram presos e um está foragido —este, apontado como líder da facção.

Flávio, nome fictício, é cabo da PM e todos os dias pega um ônibus da UPBus, no Jardim Campos, zona leste paulistana, para ir até a estação Corinthians-Itaquera do Metrô, na mesma região. Ele faz baldeação na Sé, pega o metrô da Linha 1 - Azul, desce na Luz e segue a pé até o batalhão onde trabalha.

Paulo (outro nome fictício), soldado da PM lotado em um Batalhão do Choque na Luz, é outro usuário de ônibus da UPBus. Ele mora na região de São Miguel Paulista, zona leste, e também tem de pegar ônibus até a estação Corinthians Itaquera (linha 3- Vermelha) para chegar ao serviço.

Ambos disseram à reportagem que trabalharam na operação de ontem. Além de policiais militares, milhares de estudantes, aposentados e trabalhadores são obrigados a pegar diariamente ônibus da UPBus e Transwolff e de outras empresas de transportes investigadas por ligações com o PCC.

Milhares de usuários por dia

Segundo relatório do MP-SP, a UPBus administra 13 linhas na zona leste. São 138 ônibus, com média diária de 67,8 mil passageiros e mensal de 1,68 milhão. A Transwolff opera na zona sul, tem 1.111 veículos e transporta, em média, 613 mil usuários por dia, ou 15,07 milhões por mês.

Promotores de Justiça apuraram que, juntas, as duas empresas receberam mais de R$ 800 milhões de remuneração da Prefeitura Municipal de São Paulo em 2023. Foram R$ 748 milhões para a Transwolff e R$ 81,1 milhões para a UPBus.

Na operação Fim da Linha, foram presos o presidente da Transwolff, Luiz Carlos Efigênio Pacheco, o Pandora, o acionista da empresa Robson Flares Lopes Pontes, e o contador Joelson Santos da Silva.

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Luiz Carlos Efigênio Pacheco, o Pandora, presidente da Transwolff
Luiz Carlos Efigênio Pacheco, o Pandora, presidente da Transwolff Imagem: Reprodução

O traficante de drogas Sílvio Luiz Ferreira, 44, o Cebola, acionista da UPBus, e apontado como uma das principais lideranças do PCC, teve a prisão decretada, mas permanece foragido. Na casa dele, foram apreendidos fuzis e várias outras armas.

Elio Rodrigues dos Santos, também ligado à Transwolff, foi preso em flagrante por porte de arma. Robson é irmão de Gilberto Flares Lopes Pontes, o Tobé, morto pelo tribunal do crime do PCC em agosto de 2021 e responsável pelas finanças da organização criminosa.

Dinheiro do tráfico de drogas

Para o MP-SP, os presos na ação de ontem e outros cinco investigados e alvos de mandados de busca e apreensão e de medidas cautelares impostas pela Justiça são suspeitos de comprar ações e de se infiltrar nas empresas, lavando capitais, com dinheiro proveniente do tráfico de drogas do PCC.

Há suspeitas de que Cebola seja proprietário de ao menos 56 ônibus da UPBus e que tenha investido R$ 247 mil na companhia. Em junho de 2012, ele foi preso por PMs na sede da empresa, no bairro Limoeiro, zona leste, com quase meia tonelada de maconha. Ficou preso na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP) até março de 2014, quando saiu graças a alvará de soltura expedido pela Justiça.

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Silvio Luiz Ferreira, o Cebola, está foragido
Silvio Luiz Ferreira, o Cebola, está foragido Imagem: Reprodução

A UPBus havia sido alvo de uma operação do Denarc (Departamento de Prevenção e Repressão ao Narcótico) de São Paulo, coordenada pelo delegado Fernando Santiago, em junho de 2022. Segundo a Polícia Civil, a empresa era de Anselmo Becheli Santa Fausta, 38, o Cara Preta.

Considerado um narcotraficante de drogas do PCC, Cara Preta foi assassinado a tiros em dezembro de 2021, no Tatuapé, zona leste paulistana, junto com o sócio e motorista Antônio Corona Neto, 33, o Sem Sangue.

Dias depois, Cláudio Marcos de Almeida, 50, o Django, foi morto na Vila Matilde, também na zona leste. Segundo o Denarc, aparecem como acionistas da UPBus Django, Cebola, Cara Preta, Décio Gouveia Luiz, o Décio Português, e Alexandre Salles Brito, o Buiu, todos do alto escalão do PCC, além de seus respectivos parentes.

Décio Português saiu pela porta da frente da Penitenciária Federal de Mossoró, em novembro de 2023. O MP-SP pediu a prisão preventiva dele e de outros quatro suspeitos, incluindo um advogado, mas a Justiça não concedeu.

Ainda segundo o Denarc, Décio é acusado de ter investido R$ 618 mil em ações na UPBus. Django investiu R$ 1,236 milhão; Buiu, processado por tráfico, investiu R$ 123 mil, e uma parente dele, mais R$ 247 mil.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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